Dos maiores caicoenses
Por Fernando
Antonio Bezerra
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Foto de acervo histórico
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Não é dito
por mim, mas por todos que o conheceram; não é dito apenas pelos amigos, mas
por todos que o enfrentaram: Monsenhor Walfredo Dantas Gurgel é um dos maiores
– em toda a história – nascidos no Caicó de todos nós!
Walfredo
Gurgel é caicoense, filho do enlace do Professor Pedro Gurgel do Amaral e
Oliveira e Joaquina Dantas Gurgel (Mãe Quininha). O pai, da família Gurgel de
Caraúbas, filho de Vicente Gurgel do Amaral e Joana Francisca Romana. A mãe,
Dantas das Oiticicas, é filha de José Calazâncio Dantas e Enedina Maria de
Sant'Ana. Nasceu no dia 2 de dezembro de 1908. Aliás, nasceu para se chamar
Armando, mas, na pia batismal, o Cônego Emídio Cardoso sugeriu e os pais
aceitaram batizar o menino com o nome de Walfredo. Padre Gleiber Dantas de Melo
ao pesquisar sobre o assunto por ocasião do centenário de nascimento de
Monsenhor Walfredo, esclareceu: “Cônego Emídio Cardoso sugeriu ao Professor
Pedro que a criança se chamasse Walfredo, em homenagem ao Monsenhor Walfredo
Soares dos Santos Leal, um filho de Areia (PB), nascido aos 21 de fevereiro de
1855, que era o Presidente do Estado da Paraíba naquele momento. O que o
Professor Pedro Gurgel não podia imaginar era que o Cônego Emídio Cardoso, com
aquela sugestão, estava batizando uma criança que seguiria os passos de seu
patrono na vida religiosa e política”. Do casal Pedro Gurgel e Joaquina
nasceram, além de Walfredo Gurgel, os filhos: Zózimo; Maria Zenóbia
(Sinhazinha); Clotário; Polísia e Armando.
Foi, desde a
infância, um destaque em tudo o que fez e por onde passou. Concluiu o curso
primário em 1920 no Grupo Senador Guerra. Ingressou no Seminário de São Pedro,
em Natal, no dia 3 de fevereiro de 1922. Em 1926, contemplado com uma bolsa de
estudos, foi para Roma onde concluiu Filosofia, Teologia, fez doutorado em
Direito Canônico e recebeu o sacerdócio em solenidade própria no dia 25 de
outubro de 1931, segundo apurada pesquisa de Bianor Medeiros que, em 1976,
publicou Monsenhor Walfredo: um símbolo, um dos mais completos trabalhos sobre
o nosso ilustre conterrâneo.
De volta ao
Brasil, Padre Walfredo foi abraçado pela Caicó da época, no dia 14 de agosto de
1932. No dia seguinte celebrou a primeira missa na terra de suas origens.
Retornando a Natal, cuja Arquidiocese a quem Caicó era subordinada, assumiu a
Reitoria do Seminário São Pedro, passando por lá poucos anos. Já em 1935 foi
designado e assumiu a Paróquia de Nossa Senhora da Guia de Acari de nossas raízes.
Em 1936 retornou a Caicó para o cargo de Vigário da Paróquia local e das
cidades que dela faziam parte e, mais ainda, para ser o mestre de gerações, a
modelagem de como deveria ser alguém, o líder que inspirou e trabalhou por
avanços no chão palmilhado pelos peregrinos de Sant'Ana. Com Monsenhor Walfredo
o sonho da instalação da Diocese ganhou largura; os projetos de Dom Delgado, um
solidário feitor; a juventude, um novo e qualificado mestre; a cidade, um
poeta, desportista, dramaturgo, articulista, sertanejo acostado às melhores
qualidades e tradições. Aliás, de fato, aqui neste recanto de página, não cabe
um minucioso relato sobre o muito que ele fez e foi! O importante é evidenciar
que nada de importante, naquele fecundo período da vida caicoense, deixou de
ter o apoio, a colaboração, o comprometimento e a liderança de Monsenhor
Walfredo Dantas Gurgel, que não pode ser esquecido neste julho de Sant'Ana ou
nos meses adiante!
Em 1945 veio
a convocação para a militância partidária através do PSD e, com a expressa
autorização de Dom José de Medeiros Delgado, Bispo da época, disputou e venceu
as eleições para participar da Assembleia Nacional Constituinte, em 1946, como
Deputado Federal. Foi Deputado Federal ainda em outra ocasião, na legislatura
de 1950, convocado na condição de 1º suplente. Exerceu mandatos de
Vice-Governador, Senador e Governador. Como Vice-Governador, presidiu a
Assembleia Legislativa. Quando não estava no efetivo exercício de cargos
públicos, dirigia o Colégio Diocesano Seridoense, certamente, uma obra marcante
em sua trajetória que ainda tem sua visível e reluzente marca.
Como
candidato a Governador, uma palavra de firme franqueza em propósitos publicados
na imprensa de então, com a síntese suficiente para ser entendido e para fazer,
sem pompas e cerimônias, o que devia ser feito:
“A todo
cidadão, a oportunidade de trabalhar e progredir.
A toda
criança, o amparo necessário para que cresça com saúde e se eduque com
proveito.
A toda
esposa e mãe, o reconhecimento do caráter sagrado de sua missão, assistindo-a
com desvelo e carinho.
A toda
família, o estímulo decorrente da tranquilidade social e harmoniosa
propriedade.
A todo
trabalhador, a preservação dos seus direitos e prerrogativas, mediante justa
remuneração e devida assistência.”
Como
Governador, um realizador! Seus feitos estão ainda hoje espalhados em obras por
todo o Estado, mas também nas inúmeras lições de simplicidade. Transferiu para
a chefia do Executivo a mesma austeridade da vida sertaneja – reta e limpa –
que o caracterizou em todos os momentos e em todas as missões. Foi reconhecido!
De Dinarte Mariz, por exemplo, seu histórico adversário político durante
décadas, citado por Bianor Medeiros na obra já mencionada, recebeu a seguinte
manifestação: “Fui seu adversário, sou insuspeito para julgar sua memória:
ninguém foi, pessoalmente, mais probo e mais honesto”.
Monsenhor
Walfredo Gurgel faleceu em Natal no dia 4 de novembro de 1971. Como relata
ainda Bianor, pela gravidade da doença que o abateu, “seus últimos dias foram
de sofrimento. O Monsenhor não reclamava. Esteve alguns dias em pré-coma e a
última vez que recobrou totalmente a lucidez chamou a irmã, Sinhazinha, para
dizer: - Estou morrendo. Venha me dar um abraço e abrace todos os meus”.
*Fernando Antonio Bezerra é potiguar do
Seridó / com post na página do Bar de Ferreirinha.