Do mês de José Ezelino
Fernando
Antonio Bezerra*
Outubro é um
mês especial para o Caicó de todos nós. Dentre outras razões para a evidência,
outubro é o mês da celebração da Festa de Nossa Senhora do Rosário e a
destacada atuação, desde 1771, da Irmandade dos Negros do Rosário. Com seus
valores, tradições, dificuldades, belezas e limitações, a Festa e os Negros se
confundem. Os Negros do Rosário, com sacrifícios e esperanças, chegaram aos
dias atuais mantendo a tradição da dança e do reinado. Fazem a festa de Caicó
para os caicoenses.
Também é o
mês que marca a despedida de um dos maiores nomes do Caicó de todos os tempos:
José Ezelino da Costa, caicoense que expressou genialidade na fotografia, na
música e na pintura, vencendo eventuais preconceitos de raça e de condição
financeira. Segundo a Arquiteta Ana Zélia Maria Moreira, sobrinha-neta de José
Ezelino, “25 de outubro de 1952” foi a data de sua partida para o horizonte que
a fé nos faz enxergar. Filho da escrava alforriada Bertuleza e de pai
desconhecido, “Zézelino” foi músico, pintor, agricultor e fotógrafo.
Como músico,
tocava vários instrumentos, integrava a Banda de Música e era compositor
convivendo com nomes consagrados como Felinto Lúcio Dantas, em Carnaúba dos
Dantas, e Capiba, em Recife/PE. Como pintor, produzia cenários para emoldurar
fotografias e outras mais peças que faziam parte de seu estúdio de fotografia.
Aliás, na fotografia os principais registros de Caicó de seu tempo foram feitos
por ele: “imagens em Caicó da enchente de 1924, no ano seguinte a visita do
presidente eleito Washington Luiz, a chegada de Roma do Padre Walfredo Gurgel,
a construção do Açude Itans”, segundo apontamentos de Ana Zélia.
A Professora
Eugênia Maria Dantas também pesquisou sobre José Ezelino, consignando: “Em
1889, no sítio Umbuzeiro, município de Caicó (RN), nascia José Ezelino da
Costa. A alegria do nascimento se confundia com as comemorações, ainda
presentes na sociedade brasileira, da libertação dos escravos. Esse fato estava
ligado a sua vida. José Ezelino parecia ter nascido com o destino traçado.
Negro, de origem humilde, assumiu para si a tarefa de ser livre, poder se
mover, olhar o mundo com a autonomia daqueles que não podem ser servil”.
Acrescenta: “Ele foi um dos muitos personagens que compõem a nossa história.
Preferiu abdicar do anonimato e se expor às marcas do tempo cunhando em algumas
‘páginas do livro de registro da cidade´ a sua marca. Fez isso através de sua
grande paixão, a fotografia. Como toda pessoa genial esteve além do seu tempo.”
Uma
curiosidade sobre José Ezelino, contada por todos que sobre ele escreveram, é a
ida regular a Recife e ao Rio de Janeiro, naquela época – como hoje - centros
urbanos relevantes do Brasil. Dr. Francisco de Assis Medeiros, a quem sempre
recorro para ler sobre fatos e personalidades do Seridó que a gente ama,
conheceu José Ezelino e atesta: “Anualmente viajava de férias para Recife ou
para o Rio de Janeiro, de onde trazia as últimas novidades para o seu ateliê
fotográfico. Não conheci ninguém em Caicó dessa época, que tirasse férias
anualmente e viajasse para a Capital da República ou quando menos para uma
cidade do porte de Recife. Nesse particular, José Ezelino era um bem-afortunado
profissional autônomo, podia viver à fidalga, numa cidade de pouquíssimas
oportunidades de trabalho. Nunca lhe faltava trabalho.”
Certamente
José Ezelino foi pioneiro e emprestou ao que fez toda sua genialidade. Foi
amparado, de todo modo, sem prejuízo de sua tenacidade, por uma época onde a
cultura clássica tinha prestígio, as famílias se reuniam em torno de boas
tradições e nos hábitos da maioria estava presente a boa música, a arte e a fé.
José Ezelino
da Costa, enfim, é um dos maiores nascidos no chão caicoense e deixou marcas
fortes de sua existência nas áreas onde atuou, tudo feito com o primor da
inteligência seridoense que faz, em tudo, o que há de melhor. A data de sua
partida, portanto, não pode passar sem justo registro e merecida homenagem.
*Fernando Antonio Bezerra é potiguar do
Seridó / com post na página Bar de
Ferreirinha