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Desenho por Yana Victória Garrido/pesquisa Google
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Por Bené Chaves*
Era noite de São João em
Gupiara. Foguetões, traques, fogueiras incendiando, arraiás festivos. Houve até
uma ‘quadrilha’ no pequeno salão meio improvisado nas imediações. Os festejos
iniciaram. Tudo ao redor virou imensa festa.
Chamaram um tal de Zé
Molenga que, apesar do nome, cantou e rodou feito um pião. Avaliem se ele não
tivesse tal apelido... Teve casamento e tudo, o forró solto na saleta e na
alegria dos participantes. Esse violonista lembrou Painhô, pois manejava as
duas mãos com facilidade. Era também ambidestro, igualzinho a ele.
Mainhô, filho, não quis
afoitar-se, ficou em casa mesmo com Tia Chica, aquela sua pança crescendo
sempre e quase pertinho de parir. Seria uma temeridade, inclusive pra você,
lógico, se ela fosse dançar a noite toda.
Evidente que São João
não era uma festa alinhada, o povo dançava forró mesmo na rua, com hiato e
tudo. E meu pai cansava de ver a animação pra riba. A fogueira queimando os pés
e as labaredas esquentando o vento.
Ele disse? Disse sim
senhor! Você será meu compadre? Oba!... oba! Quem mandou?
Painhô conseguiu uma
parceira e foi o noivo daquela festança
que iniciara. Dançou a noite toda, acho, pois não me contou tudo direitinho.
Claro que não iria contar. Apenas me disse que o chato do irmão da noiva ficou
de olho nos dois.
Alguém, então, gritou do
salão: homem de um lado, mulher do outro, juntar, cruzar, trocar, juntar de
novo. Epa! A animação fez esquecer tudo, os instrumentos soltos no ar. Viva o
noivo, viva a noiva! E os corpos das pessoas iam animando hora a hora, minuto a
minuto.
Então foguetões
clarearam o céu, as crianças brincando com ‘peido-de-velha’, ‘cobrinhas’,
‘rojões’, ‘estrelinhas’ e etc. A inocência nas suas caras. Rostos de brinquedos.
Sei não, mas tenho
ligeira impressão que deva existir alguma convivência, continuou meu pai.
Hipotética versus real. E quando saí vi cinzas espalhadas na fogueira, últimas
lembranças da noite de São João. São duas festas com resquícios iguais no nome.
Fim de ano x meio de ano. Gupiara pensara assim.
Ah, a madrugadinha
apareceu e o santo confirmou: ligeireza dos homens se metendo nos matos com
suas companheiras. Parece que não suportavam a ‘quentura’ do ambiente. Mas,
aquilo tudo era uma estratégia. Uma bela estratégia!
Ali na estrada, meu
filho, falou ele, vi labaredas fervendo o tempo. Gupiara me pareceu bonita. Nos
morros uma cor avermelhada subiu e fumaças juntavam-se às nuvens. Supunha-se um
lusco-fusco fora de hora.
No salão o baile
acabara. E meu pai contou ainda que moças e rapazes juntaram seus rostos e
talvez também seus corpos. Na simetria própria entre os dois sexos. A festa
depois caducou, vislumbrei somente fiapos afligindo o santo de temperatura
elevada.
Painhô, então, disse: no
sertão, onde nasci e aqui em Gupiara, o povo acredita nos sentimentos humanos.
Ou acreditava.
*Com post na página do Jornal Zona Sul