A
Universidade Federal do Rio Grande do Norte conseguiu, no dia 12 de dezembro,
mais um reconhecimento de descoberta científica. Isso porque um grupo de cinco
inventores recebeu, do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), o
patenteamento definitivo relativo a um sensor eletroquímico, desenvolvido com
cortiça e pasta de carbono, capaz de aumentar a sensibilidade e a seletividade
para detecção e quantificação de vários compostos específicos. Os sensores
eletroquímicos são dispositivos que transformam a interação eletroquímica em um
sinal analiticamente útil. No caso da tecnologia patenteada, são
microssensores.
“Para
tentar entender mais facilmente, vou fazer uma comparação. Nós encontramos na
farmácia um dispositivo para medir a glicose, que nos ajuda a determinar alguns
valores e os identifica no display do aparelho. Juntamente com ele, são
utilizadas algumas ponteiras — com as quais fazemos um furo no dedo e obtemos
gotículas de sangue — e umas tirinhas. Essas tirinhas colocadas no dispositivo eletrônico
são microssensores eletroquímicos. Então, o que nós desenvolvemos no
Laboratório de Eletroquímica e Aplicada, junto com o Grupo de Energias
Renováveis e Sustentabilidade Ambiental, são dispositivos como essas tirinhas,
também chamados de microssensores eletroquímicos”, explica Carlos Alberto
Martínez-Huitle, coordenador do grupo.
Docente
do Instituto de Química da UFRN, ele pontua que esses microssensores, regra
geral, são baseados na composição de diferentes materiais. Essa composição é
direcionada de acordo com a aplicação que se busca. No caso da patente Sensor
eletroquímico de cortiça em pasta de carbono, o carbono e a cortiça são os
principais componentes. Menos conhecida, a segunda é muito utilizada em
utensílios de cozinha e em alguns materiais de construção, porém é considerada
um resíduo. Para ser aproveitada na invenção, ressalta Martínez-Huitle, ela
passa por um pré-tratamento químico visando à eliminação de impurezas. “A
quantidade usada é relativamente pouca, pois com, vamos supor, um quilo de
cortiça, podemos fazer muitos desses sensores eletroquímicos. Isso sem perder
eficiência, já que a seletividade e a sensibilidade do sensor para compostos
orgânicos e inorgânicos têm sido significativamente aumentadas. Essa combinação
faz dele algo altamente econômico, fácil de usar e preparar, e, não bastasse,
multiuso na detecção de materiais”, destaca.
O
cientista acrescenta que o dispositivo pode ser aplicado na parte ambiental e
no controle de qualidade em algumas indústrias. Martínez-Huitle identifica que,
com o sensor patenteado, já ocorreram trabalhos práticos para detecção de
cafeína em fármacos e bebidas, como refrigerantes e energéticos. Ele cita
também que a nova tecnologia foi utilizada na detecção de poluentes na água.
“Durante
a pandemia, o grupo de pesquisa coletou água da Lagoa de Alcaçuz e conseguimos
detectar uma concentração diferenciada de hidroxicloroquina. Em virtude do
consumo exagerado desse tipo de fármaco durante a pandemia, quando ele era
descartado, chegava nos efluentes e ia parar na lagoa. Essa é mais uma opção de
aplicação do sensor eletroquímico”, conta o pesquisador, reforçando que as
ponteiras são desenvolvidas pelo grupo de forma recorrente, com o objetivo de
tentar entender ainda mais o funcionamento frente a outras combinações de
elementos e, assim, poder aplicar em diferentes âmbitos.
Em
vídeo, cientistas explicam alguns
aspectos adicionais da invenção.
Ao
lado de Martínez-Huitle, participaram da criação os pesquisadores Mayra Kerolly
Sales Monteiro, Djalma Ribeiro da Silva, Vítor Jorge Pais Vilar e Elisama
Vieira dos Santos. O estudo que deu origem tem ramificação pelos programas de
pós-graduação em Química, em Engenharia Química e em Ciências, além de
Engenharia de Petróleo e Energia. Para o grupo, proteger a tecnologia com o
patenteamento é também traduzir o que é feito no laboratório em uma aplicação
real, além de ser um caminho para a comercialização da invenção ou de parte
dela. Segundo os cientistas, isso implica aproveitar a tecnologia com um
impacto social, bem como ajuda a motivar os alunos e colegas a alcançarem
maiores TRLs nas pesquisas no laboratório. O TRL é o Nível de Maturidade
Tecnológica (sigla em inglês) e vai de um a dez.
“Quando
o TRL vai aumentando e ultrapassa o nível de seis ou sete, estamos falando de
um dispositivo que já pode ser comercializado, que já podemos colocar na
prateleira, disponibilizar na indústria, que tem uma aplicação real e
comercial. Então a invenção tem proporcionado ciência de qualidade no
Laboratório de Eletroquímica Aplicada e, quanto mais nos aprofundarmos, como
fazemos, mais a tendência é aumentarmos esse marcador do TRL”, finaliza Carlos
Alberto Martínez-Huitle.
Números
da UFRN
Chegando
agora a 74 cartas-patente, a invenção passa a compor a Vitrine Tecnológica da UFRN, grupo de inovações que abrange tanto
os programas de computador registrados quanto as patentes concedidas e as novas
tecnologias em fase de depósito. Embora essa última distinção exista, não há
empecilho para a utilização das tecnologias pelo setor produtivo, já que o
depósito de pedido de patente é o primeiro passo para garantir direitos de
comercialização exclusiva, por um determinado período, de uma nova invenção com
aplicação industrial.
O
depósito em si já propicia a alternativa de transferência de tecnologia com as
proteções estabelecidas na legislação. Na UFRN, a Agência de Inovação (Agir)
tem a responsabilidade de dar suporte aos pesquisadores desde o depósito até os
trâmites seguintes, como a resposta aos questionamentos dos analistas do Inpi e
o pagamento das taxas junto ao Instituto. O passo inicial para tudo se chama
notificação de invenção, que pode ser feito pelo Sigaa, na aba Pesquisa.
“Nosso
objetivo é fazer com que as tecnologias criadas na UFRN alcancem as pessoas,
melhorando a qualidade de vida da população e contribuindo para o
desenvolvimento sustentável do nosso país. Para isso, a Agir estimula que sejam
firmados cada vez mais contratos de transferência de tecnologia com empresas já
atuantes no mercado ou que os pesquisadores e alunos elaborem novos negócios. O
licenciamento é realizado após um processo de negociação com a empresa
interessada, que se compromete a remunerar adequadamente a Universidade por
esse acesso. Os recursos obtidos, por sua vez, são uma importante fonte de
financiamento para novas pesquisas básicas e aplicadas, além de proporcionarem
maior aproximação entre a UFRN e as empresas, gerando novas oportunidades para
nossos alunos e pesquisadores”, defende Jefferson Ferreira de Oliveira, diretor
da Agir.
A
Unidade é também a responsável, no âmbito da Universidade, por promover e
acompanhar o relacionamento com empresas, em especial aquelas interessadas em
desenvolver novas tecnologias em parceria ou em transferir tecnologias já
desenvolvidas pela UFRN.
Wilson
Galvão- Jornalista DRT-RN 1340/Assessor de Comunicação AGIR/UFRN
Foto:
Cícero Oliveira/UFRN
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