Por Jurandyr Navarro
As
individualidades animadas de propósitos generosos são tendentes a abraçar
causas elevadas. O estudo da Ciência é uma das preocupações mais altas do
espírito humano. No seu livro “Futuro da Ciência”, Ernesto Renan a considera
uma Religião.E o estado de espírito religioso é um êxtase, uma contemplação, um
entusiasmo recolhido, na exclamação de Amiel.
Encontrou este estado de
espírito? rejubile-se!
Num instante de inspiração
afirmou Agostinho Thierry: “Há no mundo algo mais do que as forças materiais,
mais que a fortuna, mais que a própria saúde: é o devotamento à Ciência”.
Tal devotamento por estudo
tão desafiador foi uma das belas causas abraçadas pelo Padre Luiz Monte. Dentre
outras ocupações de caráter religioso e de homem de cultura, devotou tempo
precioso da sua existência a investigação científica.
Não somente teórico esse
seu empenho, foi ele, também, um homem da praxis. A sua curiosidade científica
chegou ao ponto dele próprio montar um pequeno laboratório no Seminário de “São
Pedro”, onde fez muitas experiências, inclusive, análise de minérios. Foi ele o
detector da shelita na região do Seridó do nosso Estado. Adquiriu uma acuidade
toda especial em detectar essas pedras, que o fazia, para algumas delas,
somente através das suas propriedades organoléticas.
O seu saber abarcava
outros conhecimentos científicos por ele divulgados nos livros que escreveu -
"Fundamentos Biológicos da Castidade" (“Fisiologia da Castidade”),
“Biologia” e a obra sobre o Espiritismo, ainda inédita. Muitos escritos seus foram
publicados pela imprensa.
A Psicologia e a
Psicanálise foram investigação precursora entre nós, da sua intensa
curiosidade científica.
A Teoria da Relatividade,
do emérito sábio germânico, mereceu dele estudo exaustivo, discordando em
certos pontos.
O seu pioneirismo, entre
nós, alcançou, também, a Biotipologia, a Sexologia, a Embriologia e a
Endocrinologia.
Interessantes os seus
trabalhos espelhados pelas páginas da nossa imprensa, tratando assuntos os
mais diversos, hoje encontradiços na Antologia que recebeu o seu nome. Publicou
textos sobre Astronomia, Antropologia, Endocrinologia, Fisiologia,
Psiquiatria, Biologia, Química, Física, Matemática, Botânica, Geologia,
Paleontologia e outros.
Na década de 40, do século
XX, recebeu o Padre Monte elogio do então conceituado médico psiquiatra Dr.João
da Costa Machado, que dissera numa de suas alocuções, ouvida pela Professora
Albertina Guilherme, nos termos: “- O padre Monte está em dia com a Ciência
atual.
Lembra a opinião do
escritor Manoel Onofre Júnior, segundo a qual “Padre Monte sabia tudo, ou quase
tudo...”
O seu devotamento por
causa tão nobre o fez um dos arquitetos do belo adificio da ciência
experimental do Rio Grande do Norte.
Consagrou grande parte da
sua existência, embora curta, pois viveu somente 39 (trinta e nove) anos, a
este ramo cientifico, onde tão intensamente brilhou a sua inteligência
privilegiada. Interessou-se, outrossim, por outros ângulos da Cultura.
Discorrendo sobre a
história da Medicina! assim se expressou:
“A Medicina antes de ser
iátrica, foi primeiramente heráltica. Foi ritual e mágica antes de ser ciência
positiva e experimental. As escrituras cuneiforme e hieroglífica trouxeram até
nós a origem sacerdotal da medicina”.
O Padre Luiz Monte foi o
primeiro vulto eminente da Cultura do Rio Grande do Norte aclamado sábio. Os
seus estudos transcendentes devassaram múltiplas ciências.
A sua extraordinária
capacidade de assimilação fez com que acumulasse imenso cabedal de cultura com
apenas 39 (trinta e nove) anos de vida, quando muitos outros não alcançaram
esse limite mesmo vivendo a idade octagenária.
Por proposta do
Acadêmico-fundador Vingt-un Rosado, o seu nome figura como Patrono de uma das
cadeiras da Academia de Ciências do Rio Grande do Norte, tendo o seu irmão
médico e emérito pesquisador de Biologia Marinha, Sebastião Monte, como o seu
primeiro ocupante.
A respeito da sua obra
“Fundamentos Biológicos da Castidade”, disse o seu biógrafo Cônego Jorge
O'Grady, numa das páginas do livro “Verdade Vida”:
“Fundamentos Biológicos da
Castidade” responde a Ribbing, médico e cientista sueco que, à página 167 da
sua obra "Higiene Sexual e suas consequências Morais", (pub. em
Paris, F. Ancan, Ed, 1901) pergunta: "Será possível ao Clero examinar essa
questão (fisiologia da castidade) em toda sua extensão?". Ejulgando que
"a instrução e a educação dos sacerdotes não comportam conhecimentos de
fisiologia", reclama para a classe médica a exclusiva orientação da
mocidade, nesse particular. Responde o Pe. Monte, ainda, a todos os detratores
da castidade, pulverizando os velhos e arraigados preconceitos de que a
continência atenta contra a natureza e é prejudicial ao corpo e à alma".
Do livro "Fundamentos
Biológicos da Castidade", disse o Dr.Henrique Tanner de Abreu, professor
da Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, seu Prefaciador:
"(...) A extensa e
seleta bibliografia e as citações mostram bem a louvável preocupação de
senhorear o assunto apropriando-se das noções mais importantes e de interesse
para a matéria a desenvolver. Nela figuram tratados de anatomia, histologia,
fisiologia, endocrinologia, psiquiatria, psicopatologia sexual etc, além de
muitas contribuições especializadas. Apercebido de todos esses abundantes
recursos o talentoso autor soube criteriosamente aproveitá-los no esmiuçar,
esclarecer e comprovar teses da maior relevância.
Depois de apresentar os
fundamentos biológicos da castidade e de demonstrar a influência trófica e a
possibilidade fisiológica da continência o escritor culto e ponderado dá
notícia, em capítulos sucessivos, das mais recentes conquistas científicas e as
aprecia no que entende com o papel da castidade em suas relações com a eugenia,
a alienação mental e a delinquência. (...)
A propósito desse
devotamento à Ciência, disse João Batista Dumas:
"Ah: se fosse
possível que eu viesse a perder a avidez pelo saber e pela investigaçâo,a sede
pela ciência que pomada se apagará, a vida não me ofereceria mais nenhuma
consolação. Que deleites acompanham o exercício das faculdades intelectuais:
Diz-se do saber o que se diz do poder: é o banquete dos deuses".
O Padre Luiz Monte foi
Professor de Matemática e de Latim no Atheneu Norte-Rio-Grandense, no Colégio
Marista e da Imaculada Conceição. Na docência do Seminário lecionou outras
disciplinas.
Era um professor que
falava em pátria, na família e da religião, argumentando o seu valor de
grandeza moral e espiritual. O que muitos hoje têm vergonha e covardia de
tratartemas tão importantes para a mocidade, sobre a educação e a cidadania.
Dai, o surgimento dos chamados párias sociais: alienados da prática social
saudável, formando para a vida uma juventude destituída de idealismo e sem
orientação pautada na moral religiosa, atrativa do sublime e do belo.
As suas aulas transmitiam
e refletiam reverberações de luz da moral católica. Jamais dissociou a ciência
da religião. Os grandes sábios assim procediam. Cito apenas um deles: Einstein:
“- Não posso concordar um cientista autêntico que não tenha uma fé profunda. A
situação pode se resumir numa imagem: a ciência sem religião é manca”.
O imediatismo da vida
atual, a velocidade do tempo, as ocupações supérfluas do modismo impedem que a
inteligência se debruce, em escritos considerados eruditos. E assim os grandes
nomes da nossa Ciência vão sendo esquecidos, dando lugar a outros de lavra mais
superficial. Tudo bem, isso é o natural das coisas humanas.
Todavia, a memória dos
grandes homens não deve ser relegada a segundo plano, porque eles foram os
guieiros, os lideres do pensamento, e portanto, eternos.
Não se deixe que o
comodismo urda contra memória tão sagrada a sinistra "conspiração do
silêncio", de que falava Émile Faguet.
Inobstante a tudo isso, os
grandes nomes, qual "coluna de fogo", continuarão a brilhar,
intensamente, nas noites escuras do deserto do comodismo, da indiferença e da
insensibilidade cultural.
Até o seu derradeiro dia,
o Padre Luiz Monte permaneceu no seu trabalho intelectual à luz da Fé, chamada
“senhora da verdade”. E os homens de fé na vanguarda sempre estiveram.