Mais
uma boa de 51 – a camioneta!
Por
João Bosco de Araújo*
Foto acervo pesquisa/divulgação
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Nem sempre os problemas
são resolvidos à luz do conhecimento técnico. Digo isso porque na manhã de um
dia do meio da semana, meu pai, Pedro Salviano do Umbuzeiro dirigia sua camioneta
como fazia, rotineiramente, do sítio à rua, uma vez por semana, sem contar o
dia da feira, no sábado, para as obrigações corriqueiras do campo e dos filhos
a estudar na cidade. Ao passar no trecho logo após a tramela do Posto Fiscal do
Itans, ele percebeu que um carro estacionado ao lado da pista precisava de
ajuda. De pronto parou sua camioneta, como sempre cheia de gente, e viu que o
motorista do veículo era Manoel Dantas, comerciante, dono de armazém de
cereais, mas como proprietário de um sítio aos arredores de Caicó vendia leite
de sua vacaria, entregando à freguesia em seu jipe de cor verde.
“Como vai Manoel Dantas,
vejo que está no prego!”, disse Pedro Salviano de cima da boleia da camioneta,
apoiado ao volante, levando a crer na possibilidade de solucionar o problema
ainda desconhecido de todos. “Nada, Pedro Salviano, esse caso não pode ser
resolvido por qualquer um, tenha um bom dia”, resmungou Manoel Dantas, com ar
de aborrecido diante da sugestão de quem supostamente nada sabia de mecânica de
automóvel.
Mas Pedro Salviano não
se fez de rogado, simplesmente abriu a porta e descendo do carro procurou a
traseira da camioneta, retirando debaixo da carroceria um longo cabo de aço.
Sem contar conversa, lançou a corda de metal e amarrou-a no pára-choque do jipe.
Em seguida, apenas disse ordenando ao descrédulo motorista: “Suba no seu carro
e deixe o resto comigo”.
Ninguém poderia
acreditar que a solução seria a mais prática possível, numa situação
visivelmente difícil de ser resolvida por quem, realmente, nada entendia de
mecânica, porém como velho experiente na vida, e na estrada, com a força de
vontade superou aquele obstáculo, puxando Manoel Dantas e seu jipe carregado de
tonéis de leite, entregando o produto de porta em porta, e o mais interessante,
com a felicidade dos clientes que agradeciam pela certeza de naquele dia contar
com o leite da família em suas casas.
Na volta do trajeto do
leite, ao deixar Dantas em sua residência que ficava na mesma rua aonde
morávamos, meu pai, embora com aparente generosidade, ainda despertou polêmica,
após desamarrar os fios de aço e jogá-los em cima da camioneta, se despedindo
comentou, em resposta no que escutara ao parar o seu carro no início do diálogo
vendo o jipe quebrado na beira da pista.
“Ô diachos, eu não te
falei, Manoel, que resolveria o problema” e saiu na camioneta acelerando em
direção ao quarteirão logo após a bodega de Zé Teófilo, no centro de Caicó.
*Texto originalmente publicado
no Diário de Natal em fevereiro de 2009.
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