Por Fernando Antonio
Bezerra*
Inspirado ainda nas
celebrações de março, alusivas à mulher, pesquisei sobre alguns temas
relacionados ao gênero feminino no Caicó de todos nós. Lendo alguns resumos de
monografias disponíveis no extraordinário acervo da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, uma me despertou especial atenção: “A representação da mulher
e as questões de gênero na toponímia urbana de Caicó”. Escrita em 2013 por
Cláudia Medeiros de Araújo, a dissertação foi apresentada como requisito para a
obtenção do grau de Mestre em História e demonstra, dentre outros, que as
mulheres ocupam pouco espaço nas homenagens que nominam ruas e logradouros em
Caicó.
Débito, portanto,
existente e passível de quitação, mesmo que parcialmente. São inúmeros os
relatos de grandeza, generosidade e cidadania que muitas mulheres, mesmo não
ocupando cargos públicos, desempenharam em instituições educacionais,
beneméritas ou religiosas em Caicó. Evidentemente que por muitos anos alguns
direitos foram subtraídos indevidamente das mulheres e, por repressão ou
retração, algumas não se apresentaram tanto quanto gostariam, mas, mesmo assim,
muito fizeram, particularmente, em espaços que, sem elas, não seriam alicerces
tão firmes de educação, moral e fé. A Câmara local, legitimada para tanto,
poderia dedicar especial atenção ao assunto.
Lamentavelmente somente em
1966 se deu a primeira homenagem a mulher caicoense quando a Maternidade local
(criada no ano de 1947) foi nominada Joaquina Dantas Gurgel, ou seja, Mãe
Quininha, a mais conhecida parteira da história de Caicó e respeitável genitora
de Monsenhor Walfredo Gurgel. Em 1972 outras duas homenagens foram feitas,
iniciando uma nova etapa, outorgando ao futuro a preservação da memória de duas
ilustres caicoenses: Generina Vale e Júlia Medeiros. A iniciativa foi do então
Prefeito Francisco de Assis Medeiros que, conhecendo bem a história da cidade,
alterou o nome da Rua São José para Generina Vale e a Rua 6 de Julho para Júlia
Medeiros. Foram as duas primeiras ruas da cidade que homenagearam mulheres
caicoenses.
Sobre Júlia Medeiros,
muito já foi dito, inclusive, neste recanto de anotações. Certamente foi a
caicoense de maior destaque do século passado. Educadora, política, oradora,
enfim, pioneira em costumes e posturas que a destacaram como mulher à frente de
seu tempo e ativa cidadã. Generina Vale, por sua vez, era filha de Belmira
Benigna Vale e Manoel Gonçalves de Medeiros Vale. Caicoense da melhor tradição,
filha da estimada família Vale, nasceu em 30 de outubro de 1897. Foi uma das
expoentes das primeiras gerações do Grupo Escolar Senador Guerra.
Notabilizou-se por ser a primeira mulher a dirigir uma instituição bancária no
Rio Grande do Norte. O Banco Rural de Caicó que, de fato, era uma Cooperativa,
por ela presidido, foi fundado em 5 de maio de 1929 por vários caicoenses tendo
Celso Dantas como seu primeiro presidente. Depois de assumir outros cargos na
estrutura da instituição, Generina Vale se tornou presidente do Banco por volta
do ano de 1965.
Generina era irmã de Maria
Vale, Olegário Gonçalves Vale Sobrinho e Rossini Vale. Não contraiu matrimônio
e não deixou descendentes. Sobre sua irmã, Maria Vale, outra homenageada tempos
depois na memória da cidade, todos os pesquisadores que tratam do assunto são
unânimes, inclusive, a dissertação já destacada também indica: foi a modista do
século em Caicó! A costura, pelo esmero e finas peças, tem em Dona Maria Vale
um marco importante em sua história em Caicó, como estilista e formadora de
aprendizes no ofício de modelar a beleza feminina. A propósito, Dona Maria Vale
Monteiro (1895-1979) foi casada com Dr. Augusto Monteiro (1881-1918) que chegou
a ser Deputado Federal pelo Rio Grande do Norte e ocupou cargos de alta direção
no então Território do Acre. Infelizmente logo ficou viúva e precisou
reconstruir sua vida trabalhando dignamente como modista e costureira em Caicó.
Outras tantas ao longo dos
últimos 44 anos foram homenageadas com a inscrição de seus nomes em ruas,
escolas e outros equipamentos públicos. A mulher caicoense, de fibra e de
força, merece sempre a lembrança, como reconhecimento, do muito que fez e de
tudo o mais que continua a fazer para que Caicó seja cidade de alegria, fé,
trabalho e futuro.
*Fernando Antonio Bezerra é potiguar do Seridó – com post na página do Bar de Ferreirinha.
*Fernando Antonio Bezerra é potiguar do Seridó – com post na página do Bar de Ferreirinha.
0 comentários:
Postar um comentário