Por João Bosco de Araújo*
Jornalista ▶ boscoaraujo@assessorn.com
“Como vai Manoel Dantas, vejo que está no prego!”, disse Pedro Salviano de cima da boleia da camioneta, apoiado ao volante, levando a crer na possibilidade de solucionar o problema ainda desconhecido de todos. “Nada, Pedro Salviano, esse caso não pode ser resolvido por qualquer um, tenha um bom dia”, resmungou Manoel Dantas, com ar de aborrecido diante da sugestão de quem supostamente nada sabia de mecânica de automóvel.
Mas Pedro Salviano não se fez de rogado, simplesmente abriu a porta e descendo do carro procurou a traseira da camioneta, retirando debaixo da carroceria um longo cabo de aço. Sem contar conversa, lançou a corda de metal e amarrou-a no para-choque do jipe. Em seguida, apenas disse ordenando ao descrédulo motorista: “Suba no seu carro e deixe o resto comigo”.
Ninguém poderia acreditar que a solução seria a mais prática possível, numa situação visivelmente difícil de ser resolvida por quem, realmente, nada entendia de mecânica, porém como velho experiente na vida, e na estrada, com a força de vontade superou aquele obstáculo, puxando Manoel Dantas e seu jipe carregado de tonéis de leite, entregando o produto de porta em porta, e o mais interessante, com a felicidade dos clientes que agradeciam pela certeza de naquele dia contar com o leite da família em suas casas.
Na volta do trajeto do leite, ao deixar Dantas em sua residência - que ficava na mesma rua onde morávamos -, meu pai embora com aparente generosidade ainda despertou polêmica, após desamarrar os fios de aço e jogá-los em cima da camioneta, se despedindo comentou: “Ô diachos, eu não lhe falei, Manoel, que resolveria o problema!”
E saiu na camioneta acelerando em direção ao quarteirão logo após a bodega de Zé Teófilo, no centro de Caicó.
Foto montagem reproduzida da publicação do DN e assessorn.com
*Texto originalmente publicado no Diário de Natal/DN Seridó em 07/02/2009, e outras publicações como Jornal Zona Sul e assessorn.com
Leia também da Série Sinforosa:
▶ 1: "A camioneta do fazendeiro e o homem da bicicleta";
▶ 2: "Sinforosa e as bandeiras de A.A.";
▶ 3: "Do alto do quebra-cu; Dares pra me ires, quantos qui eres?";
▶ 4: "Mais uma boa de 51 – a camioneta".
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