Servidor público cumpre testamento do tio e funda Orquestra no interior do RN

A Sociedade Filarmônica Pauferrense conta com mais de 70 beneficiários: crianças e adolescentes do município com acesso à educação musical e chances de um futuro melhor

“Meu tio, Antônio de Holanda Cavalcanti, era apreciador de música clássica, mas não sabia tocar nenhum instrumento. Possuía uma coleção de LPs de grandes orquestras internacionais e um sonho. Solteiro, sem filhos, dos 36 sobrinhos vivos, fui o único escolhido, através de testamento, para a responsabilidade de executar o seu desejo, criar uma fundação para ensino gratuito de música erudita na sua cidade natal, Pau dos Ferros”, confessa Flávio Luiz Carneiro Cavalcanti, servidor da Superintendência Estadual do Ministério da Saúde no Rio Grande do Norte (SEMS/RN), com sede em Natal.

O sonho foi realizado, e no dia 27 de maio de 2017 aconteceu a solenidade de inauguração da Sociedade Filarmônica Pauferrense - SFP 'Antônio de Holanda Cavalcanti', com o início das aulas em janeiro de 2018, após aquisição dos instrumentos e organização da sede própria. Atualmente, são mais de 70 beneficiários no projeto. São crianças e adolescentes do município com acesso à educação musical e chances de um futuro melhor.

Para Flávio Carneiro Cavalcanti, sócio honorífico e fundador da SFP, “isso é um exemplo de amor ao próximo e fraternidade, tudo que o mundo precisa hoje”, ressaltando que o tio morreu em 2010 e o nomeou, em vida, testamenteiro para executar o desejo de reverter parte do seu patrimônio para a fundação, em Pau dos Ferros, município brasileiro no interior do estado do Rio Grande do Norte.

“Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele é, sim, possível. E foi esta a responsabilidade que me foi outorgada por um ser humano fantástico, que soube viver a sua trajetória alimentando sonhos e conquistas”, destacou o sobrinho no seu discurso de inauguração. Ainda observa que a esperança é um princípio vital, expressa na tão sábia quanto verdadeira constatação comum de que enquanto há vida, há esperança. “Reparemos que nada é mais sertanejo que a esperança”, opina. “Que a música aqui ensinada tenha como missão retirar-lhes a dureza do existir, e seja alimento para sonharmos com o mais e o melhor para cada um deles. No meio de toda mudança, o que não pode ser mudado é o passado”, relata Flávio.

Ainda segundo seu sócio fundador, é missão da Sociedade Filarmônica Pauferrense não permitir que a memória do seu Patrono, Antônio de Holanda Cavalcanti se esvaia. “Que suas ideias e seus feitos jamais sejam esquecidos, que em cada mente que fecundará com esta Fundação, resida um pouco de sua imortalidade e nada e ninguém seja capaz de apagar o que fez por nós”, conclui emocionado.

Ameliane Figueredo, 31 anos, é uma moradora da cidade, cursa Pedagogia e alimentava o sonho de um dia ser violonista, desde menina, porém, seis anos atrás conseguiu com muito esforço comprar o instrumento de seu sonho, um violino. Desolada, afirmava que seu sonho ficou parado, pois não tinha quem a ensinasse. “Até que um dia, um carro de som anunciava a fundação da Orquestra Filarmônica Pauferrense, através de um bem feitor, o senhor Antônio de Holanda Cavalcanti, que deixou como um de seus legados, a criação da orquestra erudita e foi aí que eu decidi  me inscrever” conta. E como foi selecionada, participou da formação teórica e depois o toque no instrumento. “Hoje, estamos a todo vapor para colocar o projeto à frente, sou imensamente feliz em aprender a tocar violino, espero me aperfeiçoar e poder contribuir com esse maravilhoso projeto que é a Sociedade Filarmônica Pauferrense”, comemora.

BIOGRAFIA

Antônio de Holanda Cavalcanti nasceu aos 13 de agosto de 1932, em Pau dos Ferros (RN), filho de Maria Juraci de Lima, natural de São Miguel, também no Alto Oeste potiguar, e de Joaquim de Holanda Cavalcanti, também natural de Pau dos Ferros, possuía setes irmãos, sendo o filho mais novo do segundo casamento de seu pai. Iniciou os seus estudos no Grupo Escolar Joaquim Correia. Em 1948, aos 16 anos, foi para Natal continuar os estudos e, depois, para o Rio de Janeiro, cidade que o forma Engenheiro de Aerovias, pelo ITA, em 1958. Apesar de ter ido morar cedo em Goiânia, Goiás, onde faleceu em 2010, nunca abandonou suas raízes e costumava assistir concertos de orquestras em suas viagens ao exterior.

Deixou como maior legado para futuras gerações ter ainda em vida destinado, por testamento, recursos para a criação da Sociedade Filarmônica Pauferrense - SFP, com o objetivo principal de fundar a Orquestra Filarmônica Pauferrense - OFP. Com isso, o Dr. Holanda, como era conhecido, oportuniza aos seus conterrâneos o acesso à formação em música erudita e deixa como legado a primeira e mais completa Orquestra Filarmônica do interior do Rio Grande do Norte, uma importante herança cultural para Pau dos Ferros e região.

Flávio Luiz Carneiro Cavalcanti é Sócio Honorífico e Sócio Fundador da Sociedade Filarmônica Pauferrense - SFP. Bacharel em Direito pela Universidade Potiguar (2006), cursa Gestão de Políticas Públicas na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2019-) e também pós-graduação lato senso em Gestão Pública, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (2020-). É servidor público federal (2009) e atualmente está nomeado Superintendente Substituto do Ministério da Saúde, Superintendência Estadual no Rio Grande do Norte (SEMS/RN).

A Orquestra Filarmônica Pauferrense - OFP, tem na Regência, Direção Artística e Pedagógica, Leandro Oliveira, e na Presidência, Jailson José dos Santos.

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