Por João Bosco de Araújo*
Jornalista ▶ boscoaraujo@assessorn.com
Então! Lá estava eu, minuciosamente, com um exemplar do filósofo francês debaixo dos olhos a ler, atenciosamente, sem pretensão de alcançar altos conhecimentos da matéria. Apenas pura curiosidade! O maior interessado, e dono daquela coleção de livros, estava longe dali e de seu objetivo principal, o meu Tio Antenor Tavares de Araújo. Titenor abandonara há tempos àquela leitura no Colégio Nóbrega, em Recife, onde fora seminarista no tradicional Mosteiro de São Bento, em Olinda. Reprovado em matemática, e na vocação, foge alegando que não aprendera a matéria ensinada no Ginásio de Caicó (GDS), depois de um ano confinado na rigorosa Ordem Beneditina, em Pernambucano. Certamente que Deus o perdoou, sua vocação era outra.
De volta ao Seminário caicoense, ficou também pouco tempo, fugindo numa noite de Carnaval para um baile que acontecia em um clube da cidade. Padre João Agripino foi quem não o perdoou. Professor de Matemática no Ginásio Diocesano Seridoense, soubera, depois, de seu insucesso nos estudos e de sua defesa infeliz. Ao se encontrarem, deu-lhe um carão, reclamando do jovem ex-seminarista por ter lhe dedurado em Olinda pelo mal-ensino da matéria. O padre Agripino não merecia!
Estou eu, novamente, a retratar aqueles livros deixados para trás por meu tio. Comigo também não fora diferente. Deixei-os antes mesmo de tomar qualquer decisão que fosse àquela de Titenor, embora nunca tenha passado pela vontade de seguir a vocação seminarista. Ao menos deixara-me o interesse pela leitura. Confesso não ser uma vocação, mais ainda por uma necessidade e capricho de aprendizagem. Um esforço que, obrigatoriamente, me dá prazer.
Limitado ao meu conhecimento, ainda por cima filosófico, estava eu a retirar da leitura afinca de um livro de Jacques Maritain (1882-1973), de tantos outros de sua intensa obra publicada praticamente por toda a primeira metade do século 20, uma frase que me levou a copiar nos rodapés dos manuscritos escolares: “É a vontade e não a inteligência, por mais perfeita que seja, que torna o homem bom e direito”. Não recebi qualquer ensinamento acadêmico-escolar desse teórico tomista. Apenas uma frase, que deixei gravar no meu subconsciente com a vontade de não mais esquecer.
Não sei onde estão, hoje, os livros de Maritain do meu tio. Sei que fadado à mediocridade, sempre estive com a vontade de superar as adversidades. Vontade que me encoraja a enfrentar as dificuldades. Também sei que de uma legião de boas vontades o mundo está cheio. Faltam vontades de praticá-las. São muitos os que as praticam para o mau.
Um cérebro medíocre, sim. Mas com uma vontade danada de um coração bondoso!
Imagem meramente ilustrativa reproduzida da Internet
*JBAnota - Inicio esta série em homenagem ao meu Tio Antenor Tavares de Araújo, que já nos deixou, assim como a irmã dele, minha mãe. O fato é que tio Antenor viveu intensamente desde a infância e juventude em Caicó, como em São Paulo, capital, onde se casou e em Natal quando retornou com a família. Nesse contexto, me repassou muitas histórias que as transcrevi em artigos. Esse texto de hoje foi publicado no Diário de Natal/DN Seridó, em 05/11/2008, mês de seu nascimento, e publicado também em outras ocasiões aqui em assessorn.com e jornais.
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