Por Wilson Galvão – AGIR/UFRN
Marília
Souto de Araújo, uma das pesquisadoras envolvidas, identifica que o ensino em
enfermagem enfrenta diversas limitações, entre elas, a formação prática na
administração de medicamentos em lactentes, crianças recém-nascidas, devido à
escassez de oportunidades para o treino dessa habilidade. Segundo ela, a
administração de medicamentos é a prática mais comum realizada pelos
profissionais de enfermagem, contudo é considerada uma atividade complexa,
tendo em vista a necessidade de conhecimento teórico, de habilidades práticas e
de raciocínio clínico.
No
âmbito da pediatria, essa discussão ganha maiores proporções, já que a
administração de medicamentos em crianças demanda maiores habilidades e
competências. No caso de recém-nascidos que estão sendo amamentados, o cuidado
é redobrado, considerando as inúmeras formas de diluição do medicamento e os
riscos relativos à toxicidade dele. “Para driblar a dificuldade, o uso de simuladores
é um método de ensino muito difundido. No entanto, muitos simuladores
disponíveis no mercado apresentam valores expressivos, o que constitui um dos
principais obstáculos para sua disseminação pelas instituições formadoras. O
custo final do nosso simulador foi substancialmente inferior ao praticado no
mercado”, frisou Marília.
O
simulador desenvolvido, que tem o comprimento e o peso de um lactente, é um
manequim com articulações móveis que permite a administração de medicamentos
nas três principais vias de administração parenteral: subcutânea (sob a pele);
endovenosa (administrada direto na veia do paciente); e intramuscular (aplicada
direto no músculo). As articulações móveis presentes no simulador propiciam
maior mobilidade e diferentes posições no momento da administração dos
medicamentos. “O simulador tem também o objetivo de permitir a administração de
líquidos, considerando que tal fator torna as práticas simuladas mais
realísticas. Ressalta-se que os simuladores comerciais existentes não oferecem
essa possibilidade”, salienta Marília Araújo.
Testes
A
orientadora da pesquisa que gerou o depósito de pedido de patente, Soraya Maria
de Medeiros, pontua que o grupo de cientistas realizou um estudo de
intervenção, identificando que 18 estudantes apresentaram redução de lacunas
práticas nos procedimentos de administração de medicamentos. O estudo também
avaliou como o grupo se sentia em relação ao grau de segurança para essa
administração. “No geral, os estudantes sentiam-se inseguros para realizar os
procedimentos. Após a utilização do simulador, o percentual de segurança teve
um aumento substancial, destacando-se a via subcutânea, em que todos os
estudantes afirmaram sentir-se seguros para realização do procedimento” destaca
a docente do Departamento de Enfermagem.
Soraya
fala, ainda, que o grupo de pesquisadores está conduzindo estudos de avaliação
do simulador, por meio de sua aplicação prática. Esses resultados estão sendo
divulgados em artigos científicos e apresentações em eventos da área.
O
equipamento, inclusive, teve sua funcionalidade e aparência validadas por
docentes da UFRN. Para a construção dele, foram utilizados manequim de corpo
inteiro, silicone com catalisador, espuma laminada e garrotes. Esses materiais
implicaram a confecção de um dispositivo de baixo custo, tornando viável que
professores e instituições os adquiram ou construam simuladores semelhantes; o
que proporciona oportunidades de prática no âmbito do ensino da área de saúde.
Desse modo, a criação tem o intuito de possibilitar aos estudantes maiores
oportunidades de experiências simuladas e reduzir diferenças no ensino,
usualmente caracterizadas pelas disparidades econômicas e sociais.
Terceiro
inventor envolvido na descoberta científica, Raphael Raniere de Oliveira Costa narra
que, ao pesquisar simuladores comerciais, não foi identificado nenhum
direcionado ao uso em lactentes que dispusesse de três vias de administração ao
mesmo tempo e que permitisse a infusão de líquidos. “Ou seja, equipamentos com
os quais os estudantes pudessem, de fato, administrar o medicamento”, destaca o
professor da Escola Multicampi de Ciências Médicas (EMCM/UFRN).
Patenteamento
O
Depósito de pedido de patente foi realizado no último dia 5 de julho pela UFRN
junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A caminhada para
a concessão de uma patente exige obediência a critérios temporais previstos em
lei. Após o depósito, o Instituto guarda o documento por 18 meses em sigilo. Em
seguida, o estudo é publicado e fica o mesmo período aberto a contestações.
Passados os três anos, o Instituto parte para a análise em si. Por esse motivo,
é comum a concessão ocorrer após quatro anos do depósito.
Na
busca por maior rapidez, a Universidade começou a usar a opção de ingresso no
trâmite prioritário do Instituto, modalidade de fluxo, criada pelo INPI em
2023, que busca reduzir os prazos de concessão. “Essa medida está sendo adotada
em reconhecimento à necessidade de, no mundo acelerado em que estamos,
tentarmos, também, apressar os processos de proteção dos nossos ativos,
impactando os processos de transferência de tecnologia, nosso objetivo maior.
Esperamos diminuir esse tempo para menos de três anos”, explica o diretor da
Agência de Inovação (Agir/UFRN), Jefferson Ferreira de Oliveira.
Wilson
Galvão- Jornalista DRT-RN 1340/Assessor de Comunicação AGIR/UFRN - 84 991936277
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relacionada à divulgação
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