Sair assoprando àquela gaita foi uma alegria fascinante, uma experiência ainda não vivida. A não ser em sonho. “Ei, ei, menino, traga isso de volta”.
Eu já estava perto de dobrar a
esquina da bodega de Abraão, no cruzamento da Seridó com Augusto Monteiro. O
grito do vendedor ambulante não me alcançava, esforço que ele fez saindo
ligeiro de seu ponto comercial, em frente ao consultório dentário de doutor José
Dantas, perto do açougue.
O som mágico extraído do pequeno
instrumento me deixava flutuando em sensações imagináveis, só percebendo sua
presença ao ser agarrado pelo braço.
“Garoto, me devolva esse vialejo”,
repetia com voz áspera, surpresa que me constrangia e me embaraçava, ainda
entrelaçado pelo som do instrumento na boca. Sem negócio, ele retorna
empunhando a gaitinha que sumiu em sua mão.
Eu sigo no caminho de casa, pertinho
dali, sem compreender àquela cena inusitada, do impulso imediato de pegar
aquele vialejo dentro do balaio e sair, livremente, a tocar, naquele dia de
feira livre, em Caicó.
O preço foi a decepção de perder a
liberdade daquela conquista e saber que aquilo tudo tinha um valor a pagar;
além da norma mercadológica, inocência estampada ao pegar a gaitinha e sair
tocando, em alto som, rua afora, para espanto daquele pobre comerciante de
bugigangas.
Santa inocência, justiça seja feita,
mas aqueles poucos segundos de instrumentação executados no pequenino vialejo
foram de muita felicidade, sensação de puro êxtase musical.
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[O Ministério da Saúde adverte: fumar é prejudicial à saúde]
Imagem reproduzida internet/divulgação
©2021 www.AssessoRN.com | Jornalista João Bosco Araújo - Twitter @AssessoRN | Instagram: www.instagram.com/assessorn/
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