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domingo, 24 de junho de 2018

A origem das festas juninas segundo o Dicionário do Folclore Brasileiro de Câmara Cascudo

Câmara Cascudo explica a origem universal das festas juninas*

“João, santo católico, primo de Jesus Cristo, nascido a 24 de junho, degolado no castelo de Macheros, Palestina, a 29 de agosto do ano de 31. Pregador de alta moral, áspero, intolerante, ascético, São João é festejado com as alegrias transbordantes de um deus amável e dionisíaco, com farta alimentação, músicas, danças, bebidas e uma marcada tendência sexual nas comemorações populares, adivinhações para casamento, banhos coletivos pela madrugada prognósticos de futuro, anúncio da morte no curso do ano próximo. O santo, segundo a tradição, adormece durante ao dia que lhe é dedicado tão ruidosamente pelo povo, através dos séculos e países. Se ele estiver acordado, vendo o clarão das fogueiras acesas em sua honra, não resistirá ao desejo de descer do céu, para acompanhar a oblação, e o mundo acabará pelo fogo.

“Se São João soubesse
Quando era o seu dia,
Descia do céu à terra
Com prazer e alegria.
Minha mãe quando é meu dia?
-Meu filho, já se passou!
- Numa festa tão bonita
Minha mãe não me acordou!
Acorda, João!
Acorda, João!
João está domingo,
Não acorda, não!””

Coincide seu nascimento com o solstício de verão (de inverno para América Austral), quando as populações do campo festejavam a proximidade das colheitas e faziam os sacrifícios para afastar o demônio da esterilidade, pestes dos cereais, estiagens, etc. Toda a Europa conheceu essa tradição de acender fogueiras nos lugares altos e mesmo nas planícies, as danças ao redor do fogo, os saltos sobre as chamas, todas as alegrias do convívio e dos anúncios de meses abundantes. Os deuses que recebem essas homenagens são vários mas a época é a mesma para Ásia, África, Europa. O fogo, afugentador dos demônios da fome, do frio e da miséria, é deus fecundador, purificador e conservador, ligado e mesmo representante vivo dos cultos larários, penates, antepassados.

Os cultos agrícolas foram na Europa e com informação universal, divulgados no domínio do folclore e da etnografia, por James George Frazer, que recenseou centos e centos de cerimônia das fogueiras votivas e festas propiciatórias em junho-julho (Le Rameau D’Or, III, 459, e segs.) ervas que podem ser colhidas nessa noite e possuem qualidade sobrenatural, mágica e terapêutica (518, Paris, 1911). Na Península Ibérica o culto a São João é um dos mais antigos e populares; Portugal possuiu no espírito de sua população todas as superstições, adivinhações, crendices e agouros amalgamados na noite de 23 de junho, convergência de vários cultos desaparecidos e de práticas inumeráveis, confundidos e mantidos sob a égide de um santo católico.

Para o Brasil a devoção foi trazida pelos portugueses e espalhada com a satisfação de um hábito agradável. A maneira de comemorara o santo era a mais sugestiva e fácil para o proselitismo. Os indígenas ficaram seduzidos. Em 1583 o jesuíta Fernão Cardim, indicando as três festas religiosas celebradas pelos indígenas com maior alegria, aplauso e gosto inicial, escreveu: “A primeira é as fogueiras de S. João, porque suas aldeias ardem em fogos, e para saltarem as fogueiras não os estorva a roupa, ainda que algumas vezes chamusquem o couro’’. (Tratado da Terra e Gente do Brasil, 326; Rio de Janeiro, 1925).

O Francisco Frei Vicente do Salvador, na segunda década do séc. XVII, informava que os indígenas “só acodem todos com muita vontade nas festas em que há alguma cerimônia, porque são mui amigos de novidades, como dia de S. João Batista por causa das fogueiras e capelas’’. (393, História do Brasil, São Paulo, 1918).”  (Dicionário do Folclore Brasileiro)

*Texto publicado na página do Jornal Zona Sul
Imagem reproduzida da internet/ Pintura: Norival

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