Por Fernando Luiz*
A cidade de Natal e o Rio Grande do Norte são ricos em talentos. Na música, por exemplo, temos inúmeros exemplos de artistas qualificados. Na minha opinião, em Natal falta apoio aos artistas das comunidades, principalmente as mais carentes, onde a diversidade de talentos é abundante, não só na música, como em outras áreas; muitas vezes, é nos bolsões de pobreza onde existe uma verdadeira gama de talentos ocultos. Projetos realizados pelo poder público precisam descentralizar a atividade cultural, permitindo o surgimento de novos nomes na cena cultural não só de Natal, como também do Interior.
Cada estado tem sua tradição cultural, geralmente proporcional ao tamanho do seu território, à sua população e até mesmo às suas potencialidades econômicas. Nos grandes centros como Rio e São Paulo projetam-se para o Brasil inteiro artistas, muitos deles oriundos de outros estados. No Nordeste, estamos cansados de saber que três estados se destacam no cenário cultural do Brasil: Ceará, Bahia e Pernambuco. No Norte, o Pará vem conquistando a cada dia mais visibilidade em termos culturais, por conta da grande diversidade cultural da Amazônia e, agora, com a realização da COP 30 em Belém.
A meu ver, o nosso estado, que tem tudo para ocupar um espaço de maior relevância no cenário cultural do Brasil, sofre de um problema crônico, para mim inexplicável: por mais que nós tenhamos uma riqueza cultural imensa, estamos sempre à sombra dos outros estados nordestinos. Pessoalmente creio que a nossa posição desconfortável no “ranking” cultural nordestino é, até certo ponto – volto a repetir – decorrente da pouca atenção dada ao potencial artístico das nossas periferias. Enquanto em Fortaleza, Recife e Salvador os artistas geralmente percorrem um longo caminho se apresentando em clubes suburbanos, espaços alternativos e até barzinhos antes de ocupar espaços nobres, aqui – pelo menos na capital – um artista novato precisa apenas de amigos influentes e competência para usar bem as redes sociais (principalmente o Instagram) para conquistar prestígio e fama no mercado local. Não raro, um artista, mesmo sem experiência e com pouca bagagem, estreia na vida artística com estrutura de “superstar local”: tem equipe de produção, empresário, fã clube (com direito a camiseta padronizada e tudo o mais), assessor de Imprensa e às vezes consegue fazer seu primeiro show num lugar “cult.” Se for competente pode até abrir o show de um artista de renome (ganhando pouco, ou quase nada, só em troca de visibilidade na mídia e nas redes sociais).
Pronto, acabou de nascer em Natal mais um astro. Aliás, um astro sem lastro.
Instagram: @fernandoluizcantor
*Fernando Luiz: Cantor, compositor, escritor e produtor cultural. Formado em Gestão Pública, apresenta o programa Talento Potiguar, aos sábados, às 8h30 na TV Ponta Negra, afiliada do SBT no RN.
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