Tecnologia da UFRN promove independência funcional em atividades simples
Nele, com o auxílio de dois botões conectados sem fio ao computador, pessoas com deficiência podem utilizar qualquer parte do corpo para controlar a apresentação de slides durante uma palestra ou aula. Assim, o dispositivo pode ser posicionado ou colocado sobre uma mesa, cadeira ou mesmo no piso. Dessa maneira, a pressão nos botões pode ser feita com qualquer parte do corpo, como mãos, cotos em amputados e pés. “Os controles comerciais de passar slides são inviáveis para quem não consegue controlar movimentos finos dos dedos, segurar um controle ou mesmo que não tenha partes do membro superior”, descreve José Carlos Gomes da Silva, um dos inventores envolvidos.
Ele destaca que o material do suporte dos botões do passador pode ser confeccionado em diferentes tipos, para permitir flexibilidade e ser acomodado em superfícies côncavas ou convexas, ou mesmo em material rígido para superfícies planas. Inclusive, os botões arredondados podem ter diferentes alturas para se adequar à necessidade da pessoa com deficiência. Esse aspecto é uma das singularidades da invenção. “A faz diferir dos dispositivos de apresentação disponíveis no mercado, pelo fato de realizar o passar dos slides com botões grandes e separados, mesmo para quem não possui controle motor fino, enquanto os apresentadores sem fio similares exigem controle motor manual fino. Assim, permite que pessoas com deficiência possam fazer palestras ou aulas sem depender de outra pessoa para controlar os slides, e o dispositivo também pode controlar outros equipamentos eletrônicos, como uma smart TV”, pontua José Carlos.
Professor da UFRN, Paulo Moreira Silva Dantas salienta que não há no mercado, nem em pesquisas científicas, um passador de slides que seja adaptado para pessoas sem coordenação motora fina. Ele retrata que o dispositivo criado é composto por um suporte confeccionado em material rígido ou flexível para se adaptar à superfície de apoio do usuário, dois botões com tamanhos e resistências variadas, para facilitar o pressionar do usuário de acordo com a deficiência motora; e o microcontrolador sem fio que transmite os comandos para controlar a apresentação dos slides. Paula Dantas destaca que, com essa concepção, o dispositivo pode ser customizado para atender diversas necessidades.
Ele cita que atualmente existem teclados de computador adaptados para pessoas com deficiências, mas não existe um passador de slides para pessoas com deficiência utilizarem durante apresentações com slides em salas de aula e auditórios. Os teclados adaptados exigem coordenação motora fina e limitam o uso de slides durante a apresentação da pessoa com deficiência.
Além de Paulo Dantas e José Carlos, participaram do desenvolvimento da invenção Cícera Bruna Silva de Sousa, Edgard Morya e Luiz Henrique Bertucci Borges, cientistas também vinculados ao Programa de Neuroengenharia do ISD. O pedido para proteção intelectual do equipamento foi feito no mês de julho, junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), órgão nacional responsável pela análise e concessão de patentes, bem como pela emissão de registros de computador.
O grupo de pesquisadores identifica que o dispositivo surgiu da necessidade de uma pesquisadora em tecnologia assistiva que é palestrante – inclusive, o protótipo foi testado e está em funcionamento. Segundo eles, o próximo passo é fazer equipamentos com mais opções de controle, para aumentar as funcionalidades de acordo com a deficiência. Edgard Morya, gerente do Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra (IIN-ELS), instituição à qual o ISD é vinculado, realça que os inventores do Instituto e da UFRN compartilham o desenvolvimento em tecnologias assistivas, desde a parte científica até a necessidade de resolver problemas reais de quem está precisando de soluções.
É um contexto que abarca também a quantidade de pessoas, número de ações e de patentes de um grupo de pesquisa: o de Atividade Física e Saúde (Afisa). Formado pela aliança entre graduandos em Educação Física, Fisioterapia e Nutrição, além de mestres e doutores em Educação Física e em Ciências da Saúde, a Afisa tem como base de sustentação seis linhas de pesquisa: saúde e indicadores biofísicos e culturais na motricidade humana; atividade física e qualidade de vida em portadores de necessidades especiais; atividade física, qualidade de vida e estilo de vida; descoberta de talentos esportivos; herdabilidade e aptidão física; e bioquímica da nutrição no contexto do exercício.
A junção de teoria e prática, ensino, extensão e pesquisa, casada com a inclinação de enxergar a inovação como aspecto de crescimento da importância científica da instituição, contribuiu para a existência de um rol de novas tecnologias que se alargou a ponto de despertar o interesse de grupos europeus pelas pesquisas desenvolvidas. “A gente não foca apenas em um equipamento, a gente foca em soluções, tendo em vista que o nosso grupo é um grupo de estudos e pesquisas em tecnologias de saúde. Então estamos também com outras demandas, de outros problemas, que a gente está desenvolvendo outras soluções”, descreve Paulo Moreira Silva Dantas.
Como exemplos da produtiva parceria científica existente, a UFRN e o ISD são cotitulares de quase uma dezena de pedidos de patenteamento de descobertas científicas. Uma delas busca patentear um invento que promete facilitar a identificação precoce da Esclerose Lateral Amiotrófica. Outra trata-se de um aparelho que possibilita maior independência a pessoas que têm alguma patologia ou que sofreram algum acidente que as impossibilite de realizar certos movimentos por falta de força muscular nas pernas. Outro pedido realizado é de um jogo virtual que treina pessoas com lesão medular para o uso de cadeiras de rodas motorizadas. “Parcerias institucionais como esta com a UFRN reforçam o compromisso do ISD em desenvolver soluções inovadoras e de baixo custo, capazes de ampliar o acesso a novas tecnologias com potencial para gerar impacto social para a população”, contextualiza Edgard Morya.
A tecnologia passa a compor a Vitrine Tecnológica da UFRN, grupo de tecnologias protegidas formado por Programas de Computador e Patentes, totalizando atualmente mais de 800 ativos. Essas invenções podem ser acessadas pelo site da Agência de Inovação (Agir) da UFRN: www.agir.ufrn.br. A Agência é responsável pela gestão da propriedade intelectual dessas inovações, bem como pelo apoio aos ambientes promotores de inovação, como incubadoras, parques e polos tecnológicos. O objetivo desse entrelaçamento funcional é ampliar a capacidade inovadora e empreendedora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, permitindo que projetos com potencial comercial sejam transformados em benefício para a sociedade, por meio de empresas, novos produtos ou patentes.
Por Wilson Galvão- Jornalista DRT-RN 1340/
Assessoria de Comunicação AGIR/UFRN/
Foto: Cícero Oliveira
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