Por Fernando Luiz*
No ano de 1972 trabalhei como disc-jóquei na rádio Nordeste AM de Natal quando não existia FM. Na época o Rádio natalense já tinha alguns radialistas famosos: Carlos Alberto, da rádio Cabugi, que graças à popularidade conquistada como disc-jóquei se elegeu ininterruptamente vereador, deputado estadual, deputado federal e senador, e Jota Belmont, que ingressou no rádio em 1964 na Rádio Trairy e em 1967 foi para a Rádio Cabugi, onde permaneceu até 1974. Em 1975 mudou-se para Mossoró, onde trabalhou nas Rádios Difusora, Libertadora e Tapuyo, chegando a se tornar deputado estadual.
Outro nome que marcou época no Rádio natalense foi Gerson Luiz. Começando como disc-jóquei na rádio Trairy na segunda metade dos anos sessenta, Gerson se firmou como um dos maiores nomes da radiofonia potiguar, chegando a ser líder absoluto de audiência na Rádio Cabugi nos anos setenta durante as manhãs de segunda a sexta-feira. Além desses comunicadores, Natal conheceu outros nomes que fizeram história, cada um com um estilo próprio, entre os quais podem ser citados Ajosenildo Alves, Assis de Paula, Edson de Oliveira, Getúlio Medeiros, Alnice Marques, Wellington Carvalho, Betânio Bezerra, Coroné Bolachinha, (que marcou época com a Tarde Sertaneja) e José Eudo (“A voz sorriso do Rádio”), para citar apenas alguns.
Como eu já disse anteriormente, em 1972 fui trabalhar na Rádio Nordeste, levado por Catolé, - na época discotecário da emissora e empresário do conjunto Apaches, do qual eu era crooner – para substituir Jota Belmont, contratado pela Rádio Cabugi. No final de 1973 me mudei para o Rio de Janeiro, de onde voltei em 1980, quando fui trabalhar na Rádio Trairy – depois Rádio Tropical. Posteriormente trabalhei como disc-jóquei na FM 95, na FM 94 e na Rádio Poti AM.
O Rádio sempre foi um meio projeção dos comunicadores. Os salários dos radialistas, com raras exceções, nunca foram grande coisa, mas ofereciam – e ainda oferecem - uma vantagem extra: os locutores, principalmente os líderes de audiência e com espírito empreendedor, além da fama, podem ganhar um bom dinheiro como promotores de eventos, apresentadores de shows e até mesmo como empresários artísticos.
No Brasil, os anos 50 foram considerados como a “Era de Ouro do Rádio”. Na época, no Rio de Janeiro, o rádio chegava a cerca de 95% das residências, com uma média geral de três ouvintes por aparelho, de segunda a sábado, com um aumento para quatro ouvintes aos domingos. Foi aí que começou a se popularizar o famoso “jabá”; era quando os radialistas recebiam dinheiro, presentes e até shows de cantores como forma de pagamento para tocarem determinadas músicas em seus programas. Coincidência ou não, também foi nos anos 50, com a explosão do rock'n'roll, que a prática se expandiu nos Estados Unidos onde, desde os anos 1920, os donos de editoras de músicas pagavam a orquestras e a empresários de grupos musicais para que executassem certas músicas pois, além de incentivar a compra das partituras dessas músicas (nessa época, a venda da partituras davam mais lucro que a venda de discos) também ajudavam a aumentar a vendagem de discos.
Com o passar do tempo, a execução de músicas mediante pagamento também se intensificou no Brasil e passou a se chamar jabaculê, ou simplesmente jabá, termo este de origem incerta (embora exista uma versão segundo a qual um radialista nordestino, ao receber uma certa quantia de uma gravadora, teria dito que "hoje o jabá das crianças tá garantido"). O jabá nem sempre era pago em dinheiro; podia envolver a entrega de presentes a radialistas que executassem certas canções, ou brindes para sortear. No Brasil, acontecia também na televisão, onde as gravadoras pagavam para que os seus artistas se apresentassem em programas como os do Chacrinha e Bolinha.
Independente do “jabá oficial” os comunicadores sempre se beneficiavam de alguma forma, em virtude da atividade que exerciam. Eu mesmo, como quase a totalidade dos comunicadores, durante o tempo que trabalhava na Rádio Trairy ganhava discos dos divulgadores, lembranças no dia do aniversário e embora nunca tivesse recebido dinheiro de nenhuma gravadora, também ganhava “um jabá” extra: recebia convites para shows e inúmera vezes era convidado pelo conjunto Brilho do Som para fazer apresentações curtas durante algumas festas recebendo um cachê razoável.
Hoje, como tudo, o “jabá” evoluiu e se oficializou; na verdade, atualmente nem é justo utilizar este termo, pois agora tudo é feito de forma profissional, com contratos entre empresários, gravadoras e veículos de comunicação envolvendo altos custos para a divulgação de obras musicais no Rádio, na TV e nas redes sociais.
Quem já foi radialista ou é atualmente, sempre terá o rádio no sangue e é praticamente impossível alguém ser radialista sem usufruir de algum tipo de jabá. Por isso, digo sem ter medo de errar que, embora antigamente o que era chamado de “jabá” possa ser denominado hoje “parceria”, tudo é a mesma coisa; o que mudou foi só a nomenclatura.
Instagram: @fernandoluizcantor
*Fernando Luiz: Cantor, compositor, escritor e produtor cultural. Formado em Gestão Pública, apresenta o programa Talento Potiguar, aos sábados, às 8h30 na TV Ponta Negra, afiliada do SBT no RN.
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