Pesquisadores da UFRN obtêm patente de curativo com propriedades de liberação de medicação
O grupo de cientistas envolvidos é composto por Sibele Berenice Castellã Pergher, Anna Karla de Carvalho Freitas, Iane Maiara Soares de Souza, Ana Paula da Silva Peres e Wilson Acchar. O depósito da invenção ocorreu no ano de 2017 e recebeu o nome de “Nanocompósito LPM13 para liberação controlada de neomicina a partir do argilomineral paligorskita via tape casting aquoso”. Os pesquisadores identificam que a fita pode ser moldada em diferentes formatos e tamanhos, conforme a necessidade.
Professora do Instituto de Química, Sibele Pergher pontua que o material utilizado no estudo é uma argila chamada paligorskita, também conhecida como atapulgita. “Trata-se de um material natural, abundante e de baixo custo, com propriedades fibrosas e porosas. Nestes poros, inserimos a neomicina, um fármaco que é liberado de forma lenta e controlada no local da ferida. Além da argila e do medicamento, há também um agente ligante e um biopolímero, que conferem maleabilidade e facilitam o uso”, descreve.
O objetivo é que a fita proporcione o tratamento da ferida, liberando o medicamento por um período prolongado, sem a necessidade de aplicações frequentes. Um efeito colateral positivo é que, dessa maneira, o material agride menos a pele, por exemplo, ao reduzir a necessidade de trocas recorrentes de curativos. A fita cerâmica com o antibiótico tende a absorver a umidade, sendo especialmente útil em feridas de difícil cicatrização, como as de pacientes diabéticos. Outro inventor envolvido, Wilson Acchar, salienta que a pesquisa envolveu o teste da tecnologia com o fármaco neomicina, mas ela pode ser aplicada a outros fármacos, o que demonstra a sua versatilidade.
“A tecnologia por trás da fabricação dessa invenção, desenvolvida durante o doutorado de Iane e Anna Karla, otimizou o processo para criar uma fita que pode ser cortada no tamanho desejado e aplicada em um esparadrapo, funcionando de maneira semelhante a um curativo comercial desses encontrados em farmácias. A espessura da fita pode variar dependendo da aplicação desejada, assim como a proporção dos ingredientes utilizados”, identifica o docente da UFRN.
Tecnicamente, o procedimento utilizado consiste na preparação do híbrido paligorskita-neomicina. Uma vez obtido este material, é possível iniciar a preparação da fita cerâmica via tape casting. A suspensão, para tanto, foi preparada através da mistura da paligorskita-neomicina, água destilada, dispersante e etanol, sendo esta colocada sob agitação em um moinho de bolas. Após, são incluídos o ligante, o plastificante, o etanol, o surfactante e o antiespumante. Em seguida, a suspensão é levada novamente para o moinho de bolas.
A colagem da fita é efetuada através do movimento da superfície coletora sob uma lâmina fixa, e a secagem é realizada em temperatura ambiente. Após a fita cerâmica ser produzida, ocorreu a fase de testes, a fim de verificar a capacidade de controle de liberação, o que comprovou que o nanocompósito LPM13 apresentou controle na liberação do fármaco neomicina, sendo de interesse para uso tópico, como curativos, com atividade antimicrobiana.
Entre o depósito e a concessão
“Apesar do tempo decorrido entre o depósito da patente e a expedição da carta patente, estamos trabalhando para dar continuidade ao projeto, visando sua implementação e disponibilização ao público. As desenvolvedoras chegaram a criar uma startup chamada TAPE Care que, embora não tenha avançado, demonstra o potencial do produto. A simplicidade da fita facilita a sua utilização, mas o desenvolvimento exigiu anos de pesquisa para definir a quantidade ideal de fármaco e a sua liberação prolongada”, narra Sibele. A pesquisadora acrescenta ainda a importância de parcerias e aproximações entre grupos de pesquisa, como ocorreu no caso, que juntou pesquisadores da engenharia de materiais e da química. Para Pergher, a interdisciplinaridade otimiza a pesquisa e acelera o desenvolvimento de novos produtos.
“Por exemplo, eu trabalho com a parte de materiais porosos, enquanto que o professor Wilson Acchar tem mais expertise na obtenção de fitas cerâmicas (com várias teses defendidas neste tema), e precisamos também de competências na parte de liberação de fármacos. A gente tem uma patente, com a participação do Artur de Santana Oliveira e Ana Clécia Santos de Alcântara, que é a liberação controlada da olanzapina, substância utilizada no tratamento da esquizofrenia”, pontua Pergher. Essa tecnologia foi também objeto de outra reportagem, cujo acesso pode ser feito clicando aqui.
Juntando as concessões de patente que ambos participaram, Sibele e Achar contam com doze cartas-patente, o que os coloca entre os principais patenteadores da UFRN. Essa é a 97ª concessão da UFRN, número que também a insere em um patamar de relevância regional, sendo a instituição de ensino com mais concessões entre as localizadas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Por Wilson Galvão- Jornalista DRT-RN 1340/
Assessor de Comunicação AGIR/UFRN/84 991936277
Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN
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