Tecnologia transforma resíduo do abacaxi em embalagem ecológica
Wilson Galvão – Agir/UFRN
A invenção é resultado da tese de doutorado de Meyrelle Figueiredo Lima, que liderou os experimentos e o desenvolvimento das formulações no laboratório. A cientista destaca que os filmes poliméricos desenvolvidos apresentam facilidade de produção com baixo custo, partindo de um resíduo agroindustrial frequentemente descartado e abundante, promovendo sustentabilidade aliada à viabilidade econômica. “Ao invés de ser um descarte sem valor, a coroa do abacaxi se torna matéria-prima de um material ecológico, renovável e funcional, promovendo a economia circular”, frisa.
Este é o segundo depósito de patentes de Meyrelle. O primeiro, formulações contendo óleo de copaíba (copaifera officinalis l) e seu processo de obtenção, era uma formulação inédita na área cosmecêutica — junção dos nomes cosmética e farmacêutica — uma emulsão, cujo princípio ativo é o óleo de resina de Copaíba. A reportagem sobre essa descoberta pode ser acessada clicando aqui.
A invenção pode ser usada em que?
Os filmes desenvolvidos podem substituir o plástico convencional em uma ampla gama de aplicações, especialmente em produtos de uso único, que são os principais vilões da poluição ambiental. Um dos inventores envolvidos, Dennys Correia da Silva, lista que, no cotidiano, podemos vislumbrar a aplicação desses filmes no embalamento de cosméticos artesanais ou naturais, como sabonetes, cremes e shampoos sólidos, substituindo plásticos; na confecção de sacolas entregues por comércios conscientes, como feiras orgânicas ou lojas sustentáveis; na produção de recipientes biodegradáveis para produtos de higiene hospitalar ou kits de hotelaria ecológica. “Até mesmo como filmes agrícolas para proteção de mudas e sementes, contribuindo para uma agricultura mais limpa, essas aplicações mostram como um resíduo que antes iria para o lixo pode, por meio da tecnologia, ganhar um novo propósito e ajudar a mudar o mundo ao nosso redor”, complementa.
Orientador do estudo, o professor do Instituto de Química e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química, Alcides de Oliveira Wanderley Neto, acrescenta que há um ponto essencial para a relevância da invenção: uma contribuição tríplice — ambiental, social e econômica. Ele explica que, ambientalmente, isso se dá pela redução do descarte de resíduos agroindustriais e a dependência de plásticos sintéticos, promovendo materiais que se degradam naturalmente e mais rápido. Socialmente, pode gerar novas oportunidades de renda para as comunidades produtoras de abacaxi, valorizando a cadeia produtiva local. Enquanto que, economicamente, apresenta um baixo custo de produção e potencial de escalabilidade industrial, com apelo ecológico para mercados que exigem sustentabilidade.
“Já temos amostras laboratoriais dos filmes com características promissoras. Agora, a equipe está na fase de validação técnica, realizando testes adicionais para avaliar o desempenho e a escalabilidade. O próximo passo é desenvolver um protótipo com características padronizadas, o que permitirá rodadas de testes com parceiros potenciais da indústria e futuros pedidos de fomento para a produção em escala piloto. Em resumo, trata-se de uma tecnologia verde com alto impacto positivo no presente e no futuro”, contextualiza o docente.
Além de Meyrelle, Dennys e Alcides, completa o time de inventores os pesquisadores Wanderley de Oliveira Bezerra e Domingos Fabiano de Santana Sousa. O primeiro participou da coleta de dados e da produção experimental dos filmes, enquanto o Domingos, ao lado de Dennys e Alcides, contribuiu, sobretudo, na orientação científica, análise dos resultados e redação técnica da patente. Para o grupo, as patentes são marcos fundamentais na ciência aplicada. “O processo de patenteamento representa o reconhecimento do caráter inovador e aplicável de uma pesquisa, protegendo a autoria, abrindo portas para parcerias com o setor produtivo e, além disso, ao ser publicada, a patente disseminará conhecimento técnico e científico, servindo de base para novas pesquisas e soluções”, ressalta Dennys Correia.
Os experimentos ocorreram no Laboratório de Tecnologia de Tensoativos, localizado no Instituto de Química, no Campus Central da UFRN. Lá, atualmente, a equipe de pesquisa está expandindo os estudos para desenvolver novos biopolímeros biodegradáveis a partir de outras matérias-primas renováveis e resíduos agroindustriais. “A ideia é testar diferentes composições que otimizem propriedades como resistência mecânica, flexibilidade, transparência, estabilidade térmica e tempo de degradação. Esses esforços complementam diretamente a invenção já patenteada, mostrando que a tecnologia pode ser ampliada e adaptada às outras necessidades industriais e ambientais, como aplicações agrícolas, médicas ou até impressão 3D com materiais verdes”, salienta o professor Alcides.
Fotos: Cícero Oliveira – UFRN
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