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domingo, 22 de junho de 2025

CADÊ OS TEATROS DE LONA?

 Por Fernando Luiz*

Malabaristas, trapezistas, palhaços, engolidores de fogo, equilibristas, músicos, ilusionistas, contorcionistas, acrobatas... Estes são alguns elementos que fazem parte de um mundo mágico presente nas vidas de quase todas as pessoas: o circo.

A pesquisadora de Artes Circenses Alice Viveiros, que desde 1985 tem escrito artigos sobre a história do circo no Brasil, afirmou em uma das suas inúmeras publicações, que transcrevo aqui literalmente:  "Ao escrever sobre a origem do circo eu gosto de fazer uma separação entre circo e arte circense, porque as artes circenses são milenares; elas estão com o homem desde o início dos tempos: brincar de saltar, de equilibrar, fazer contorção, fazer parada de mão, dar saltos, tudo isso é uma coisa que a gente tem em figuras rupestres antiquíssimas na China, na Índia, no Egito; em todos os lugares onde você encontra grupamento humano, também vai encontrar essas habilidades, essa coisa que o circo é: a arte da proeza."

Ainda segundo Alice Viveiros, os primeiros relatos de grupos de artistas que entretiam os convidados durante os banquetes de filosofia que duravam dias, datam da Grécia antiga. 

O primeiro circo na forma em que conhecemos hoje, foi criado em Londres, por volta de 1770, por um oficial da Cavalaria Britânica, Philip Astley e tinha um picadeiro com uma espécie de arquibancada. No início oferecia apenas apresentações com cavalos, mas com o tempo foram acrescentados números de malabarismos, e palhaços se juntaram ao espetáculo.

Segundo os pesquisadores, a história do circo no Brasil começou no século XIX e teve sua origem com famílias e companhias circenses vindas da Europa, onde eram perseguidos. Os ciganos sempre tiveram uma forte ligação com o circo; eles viajavam de cidade em cidade e adaptavam seus espetáculos ao gosto da população das localidades por onde passavam.

No Brasil, alguns circos se tornaram referência, mas pelo menos três podem ser citados como responsáveis pela popularização da arte circense no país: o circo Garcia, fundado na cidade de Campinas em 1928 por Antolino Garcia, que na década de 70, figurou entre as quatro maiores companhias circenses do mundo; o circo Nerino, fundado pelo casal Nerino e Armandine Avanzi, em Curitiba em 1913. Depois de percorrer as principais cidades do Brasil durante meio século, o circo  apresentou seu último espetáculo em setembro de 1964, na cidade paulista de Cruzeiro; o Circo Orlando Orfei, cuja história começa em 1822 quando o então seminarista Paulo Orfei conheceu uma jovem da família Massari no conservatório da cidade italiana de Ferrara. Em 1920 Orlando Orfei, estreou aos cinco anos como palhaço e aos 18 anos se tornou equilibrista, ciclista, acrobático e mágico; ele foi responsável por inúmeras invenções do circo moderno: foi criador da propaganda aérea, das águas dançantes e de um modo pioneiro de domar os animais.  

Os circos também se tornaram palco para dramas, comédias e shows artísticos; na minha infância e adolescência assisti a dezenas de espetáculos nos circos que passavam por Nova Cruz: o circo Mágico Nelson, o circo de Zé Palito, o circo de Zé da Lapa e inúmeros outros. Morando em Natal e já exercendo minha atividade profissional como cantor, realizei dezenas de shows em circos grandes e pequenos como o circo Continental, o circo de Tarzan Moreno, o circo Santa Lúcia, o circo Thianito e o circo Guarani, pano de roda do palhaço Bolachinha, que nunca teve cobertura.

Os circos são – pelo menos eram – verdadeiros “teatros de lona”, estruturas temporárias, espaços de cultura, arte e entretenimento que proporcionavam experiências únicas, acessíveis às camadas mais humildes da população. Com a modernidade e as exigências cada vez mais complexas para continuarem na estrada, atualmente os poucos circos que resistem precisam se modernizar, usar as mídias sociais com competência, atender às exigências dos órgãos públicos (Corpo de Bombeiros, órgãos de defesa do Meio Ambiente etc.) e se reinventar para não sucumbir à modernidade. O que, infelizmente nem todas as companhias circenses conseguem.

Cadê os Teatros de Lona? Quase todos sucumbiram à modernidade.

Instagram: @fernandoluizcantor

*Fernando Luiz: Cantor, compositor, escritor e produtor cultural. Formado em Gestão Pública, apresenta o programa Talento Potiguar, aos sábados, às 8h30 na TV Ponta Negra, afiliada do SBT no RN.


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