Por Fernando Luiz*
São considerados artistas da terra pessoas que nasceram em um determinado lugar e se inspiraram na história da sua cidade (ou da cidade onde não nasceram, mas escolheram para viver) para criar obras de arte. Podem ser artistas plásticos, escritores, escultores, poetas, artesãos, instrumentistas, cantores, compositores etc.
Os chamados “artistas da terra” celebram com seu talento a cultura e as tradições do lugar onde vivem.
No caso da música, são aqueles que cantam e que muitas vezes também compõem. Na grande maioria dos casos, esses artistas vivem do seu ofício. Eles exercem uma forma de resistência cultural e muitas vezes sequer percebem a importância cultural da qual são portadores, por terem uma formação cultural limitada, em virtude de um baixo nível de escolaridade. Geralmente, quando se destacam na cena cultural da cidade onde vivem, são contratados por empresários artísticos para participarem de shows em clubes, bares, churrascarias, eventos privados, casas noturnas etc. Quando alcançam uma notoriedade maior, também participam de eventos culturais promovidos pelo poder público, principalmente em períodos festivos como festas de aniversário da cidades, festas de padroeiros e em datas comemorativas como São João, Natal e Ano Novo.
O grande drama dos “artistas da terra” é que, algumas vezes, mesmo sendo talentosos acima da média normal, são explorados – no pior sentido da palavra – tanto por empresários artísticos ambiciosos –como pelo poder público; no primeiro caso, os empresários e promotores de eventos sempre encontram uma maneira de pagar a eles o menor cachê possível, alegando – quando se trata de shows com boa divulgação nas mídias de rádio, TV e redes sociais – que se trata de uma “excelente oportunidade de aparecer”.
Quando se trata de eventos promovidos pelo poder público, a situação é muito pior: além de ter seu nome em segundo plano na mídia, o “artista da terra,” por mais talentoso que seja, por mais que tenha contribuído com seu trabalho para o fortalecimento cultural do lugar onde vive, ganha cachês irrisórios, enfrenta uma burocracia que geralmente o obriga a esperar durante semanas – e não raro meses – para receber seu mísero cachê, o que o leva a enfrentar situações vexatórias, passando por dificuldades financeiras seríssimas.
Embora sejam as vozes da cidade onde vivem e contribuam para o fortalecimento das economias de suas regiões com seu trabalho, os artistas da terra, que abraçam e defendem sua cultura e suas raízes, muitas vezes são tratados como minhocas, que vivem embaixo da terra.
Quando isso ocorre, os artistas da terra se transformam em instrumento de exploração tanto de empresários inescrupulosos como de gestores insensíveis.
Ao longo da minha trajetória de mais de cinquenta anos na música, algumas vezes fui tratado como minhoca. Mas um dia – e já faz muito tempo – acabei com esse tabu: Hoje, quando alguém diz que sou “artista da terra” respondo educadamente: “sou um artista potiguar. Com muito orgulho”.
Instagram: @fernandoluizcantor
*Fernando Luiz: Cantor, compositor, escritor e produtor cultural. Formado em Gestão Pública, apresenta o programa Talento Potiguar, aos sábados, às 8h30 na TV Ponta Negra, afiliada do SBT no RN.
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