Por Fernando Luiz*
Em 1912, nascia em Exu, Pernambuco, Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Começando a cantar boleros nas boates (pode-se ler puteiros) na região central do Rio de Janeiro, popularizou o baião, o xaxado e o xote, deixando um legado imortal na música brasileira, tendo muitas das suas músicas sido compostas em parceria com Humberto Teixeira e com o potiguar Zé Dantas. As letras das suas canções retratam a vida e a cultura do sertão e algumas delas se tornaram clássicos da Música Popular Brasileira, como Asa Branca (de sua autoria e Humberto Teixeira) e A triste Partida, de Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, cearense que, ao longo da sua vida recebeu dezenas de condecorações e nada menos do que cinco títulos de Doutor Honoris Causa.
Luiz Gonzaga, como representante do Nordeste, deu uma contribuição única à música brasileira.
No ano de 1974, depois de ganhar o concurso Calouro Exportação na Buzina do Chacrinha, tive a oportunidade de viajar com Luiz Gonzaga na sua Veraneio, realizando uma série de shows em inaugurações no final do governo de Cortez Pereira. Na década de 90 tive a honra de abrir um show de Luiz Gonzaga na cidade de São Gonçalo do Amarante, (foi um “showmício”), quando eu já era um artista conhecido em todo o Brasil. “Seu Lua”, já debilitado pela idade, cantou sentado, mas antes do show relembramos alguns momentos das viagens que fizemos juntos por várias cidades do estado em 1974.
Genival Joaquim dos Santos, nasceu em Campina Grande, no dia 13 de novembro de 1945 e começou sua trajetória musical em meados dos anos 60, fazendo shows e se apresentando em rádios locais. Aos poucos se destacou e chamou a atenção da gravadora Copacabana que o contratou em 1973, lançando o seu primeiro disco produzido pelo mossoroense Oseas Lopes (Carlos André), que vendeu 85 mil cópias, tornando-o conhecido no cenário musical nacional. Seus maiores sucessos são Eu Te Peguei No Fraga, Se Errar Outra Vez e Sendo Assim, esta última regravada por Marilia Mendonça.
Conheci Genival Santos do escritório da gravadora Copacabana em 1974, no Rio de Janeiro, quando ele começava a ficar famoso por suas canções românticas com forte apelo popular. Depois, ficamos amigos e quando eu me tornei um cantor conhecido com a música Garotinha, chegamos a fazer alguns shows juntos.
Há alguns anos eu tive uma pequena discussão com um produtor cultural de Natal, envolvendo Luiz Gonzaga e Genival Santos. O produtor insistia em criticar “o erro de português horroroso” do título deuma música do meu amigo cearense: Eu Te Peguei No Fraga. Discordei dele e disse que, se fosse assim, a música Assum Preto, de Luiz Gonzaga também teria uma sequência de erros de português na frase “cegaro os óio do asum preto pra ele assim cantá mió,” meu amigo retrucou: “Mas aí é licença poética”. Admirado, respondi: “quer dizer que na voz de Genival Santos é erro de português e na de Luiz Gonzaga é licença poética?” Meu amigo ficou calado. Mas não tinha mesmo o que dizer: ele é um exemplo claro das pessoas que fazem questão de não respeitar o trabalho de cantores populares, a quem nomeiam pejorativamente de cantores de brega; são pseudointelectuais disfarçados de puristas musicais.
Genival Santos morreu em Fortaleza, de câncer, no dia18 de novembro de 2014. A sua contribuição para a música brasileira é imensa: através da simplicidade das letras e dos arranjos de suas canções marcadas pela sinceridade e pela paixão, ele conquistou um lugar especial no coração de milhares de brasileiros.
Luiz Gonzaga e Genival Santos têm, sim, algo em comum: foram dois nomes da música brasileira, de origem humilde, que transportavam para suas canções a realidade do mundo em que viviam.
Instagram: @fernandoluizcantor
*Fernando Luiz: Cantor, compositor, escritor e produtor cultural. Formado em Gestão Pública, apresenta o programa Talento Potiguar, aos sábados, às 8h30 na TV Ponta Negra, afiliada do SBT no RN.
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