Por Fernando Luiz*
...Rasga-lhe o peito o demônio / Tombando a velhinha aos pés do altar / Tira do peito sangrando / Da velha mãezinha o pobre coração... (Trecho de Coração Materno, gravada por Vicente Celestino em 1951).
...E nesse dia, então / Vai dar na primeira edição / Cena de sangue num bar / Da avenida São João... (Trecho de Ronda, da autoria de Paulo Vanzolini, gravada pela primeira vez em1953 por Inezita Barroso e que já teve mais de quarenta regravações).
...Se te agarro com outro te mato / Te mando algumas flores e depois escapo... (Trecho de Se te Agarro Com Outro te Mato, gravada por Sidney Magal em 1977).
A diversidade de temas na música brasileira é enriquecedoramente abrangente, tanto no cancioneiro romântico como em grandes clássicos da MPB. Neste último caso, a predominância se encontra no trabalho de artistas consagrados que, de forma metafórica – principalmente no período da ditadura – através de obras de artistas como Chico Buarque, Milton Nascimento e Caetano Veloso, entre outros, protestavam contra o regime militar.
Nas canções de cantores românticos – principalmente os considerados bregas - o tema está presente literalmente, sem sutilizas. Na música Coração Materno, (um clássico da MPB – queiram ou não os pseudointelectuais xiitas) a letra narra de forma despudoradamente clara a história de um filho que mata a própria mãe e arranca o coração da pobre mulher para entregar à sua amada.
Em Ronda, é a própria esposa que sai pela noite paulistana percorrendo os bares, desesperada, à procura do marido – decerto um boêmio – na esperança de encontrá-lo “rodando um dadinho ou jogando bilhar”; no final da música, uma ameaça: se encontrá-lo com outra mulher “vai rolar cena de sangue na Avenida São João”, que, com certeza será manchete de primeira página nos jornais do dia seguinte.
Na canção gravada por Sidney Magal em 1977, existe, aparentemente, uma contradição, pois depois de matar a amada traidora, o autor do crime ainda dá um jeito de jogar flores sobre a pobre vítima, antes de escapar.
A MPB sempre foi um reflexo da sociedade brasileira ao abordar questões de fundo social, político e cultural; a violência é um tema que, independentemente do nível intelectual e cultural dos seus autores e intérpretes, está presente na obra de muitos artistas consagrados.
É por isso que nosso cancioneiro é rico e plural, de Vicente Celestino a Sidney Magal, passando por Chico Buarque. Milton Nascimento e Caetano Veloso, entre outros.
Instagram: @fernandoluizcantor
*Fernando Luiz: Cantor, compositor, escritor e produtor cultural. Formado em Gestão Pública, apresenta o programa Talento Potiguar, aos sábados, às 8h30 na TV Ponta Negra, afiliada do SBT no RN.
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