Pesquisa da UFRN transforma material vegetal em saborizantes e compostos industriais de alto valor
De malas prontas para fazer parte de seu doutorado na Alemanha, no Max Planck Institute for Chemical Energy Conversion, Thalita Barros salienta que a patente consiste no desenvolvimento de uma metodologia para a obtenção de compostos fenólicos a partir da biomassa de cortiça. A cortiça é um material de origem vegetal, obtido da casca dos sobreiros (Quercus suber), leve e com grande poder isolante e adsorvente. Thalita pontua que o grupo de pesquisadores conseguiu quantificar cinco compostos, dentre os quais o ácido siríngico, a vanilina e o ácido vanílico se destacam. “Esses materiais são compostos fenólicos de alto valor agregado. Insumos para a indústria, são precursores aplicados à indústria de cosméticos, indústrias alimentícias e indústrias farmacêuticas. A vanilina e o ácido vanílico são aplicados como saborizantes no sorvete de baunilha, por exemplo”, situa a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da UFRN.
Orientadora da pesquisa, Elisama Vieira dos Santos explica que, para chegar aos compostos, o processo utilizou a eletrossíntese de persulfato como agente oxidante útil para a produção de moléculas precursoras da indústria. A eletrossíntese é uma técnica na área química que utiliza energia elétrica para produzir novos compostos a partir de reações químicas e eletroquímicas. Ela acrescenta que a integração de sistemas eletroquímicos para a produção dos oxidantes, tais como o persulfato, peróxido de hidrogênio e percarbonato, garante um processo eficiente e de alta precisão, aumentando o rendimento e a pureza dos compostos extraídos. O uso desses oxidantes reduz a dependência de produtos químicos agressivos, minimizando os resíduos tóxicos e os impactos ambientais do processo. Em vídeo, pesquisadoras falam sobre a descoberta científica (https://www.instagram.com/p/DEkRXUPOvta/)
Cientista que integra o grupo do Laboratório de Eletroquímica Ambiental Aplicada (LEAA) e do Grupo de Energias Renováveis e Sustentabilidade Ambiental, Elisama complementa que o resíduo de cortiça é um material renovável e amplamente disponível. “Promover o aproveitamento de resíduos naturais, oferecendo uma alternativa ambientalmente amigável para a sua produção, ao substituir métodos tradicionais mais poluentes e dispendiosos e, por conseguinte, promover a economia circular, são eixos de atuação do nosso grupo de pesquisa. Especificamente sobre esse nosso último depósito, a flexibilidade e escalabilidade deste processo são evidenciadas pela possibilidade de ajustar proporções de biomassa. A metodologia produzida e as condições de operação permitem que o método seja adaptado para diferentes volumes de produção e aplicações industriais”, destaca.
Alto nível de maturidade
Recém-chegado da Europa, onde recebeu em dezembro, na Inglaterra, o título de Fellow da Royal Society of Chemistry (FRSC), concedido pela instituição do Reino Unido pelo reconhecimento a cientistas que tenham feito contribuições notáveis para o avanço da química, o professor do Instituto de Química Carlos Alberto Martínez-Huitle destaca que o LEAA possui uma sólida experiência em estudos de reatores eletroquímicos com produtos aplicados na indústria.
“Neste sentido, o nível de maturidade tecnológica deste processo é alto, estando localizado na escala entre o nível seis e sete, ou seja, passível de ser aplicado em escala comercial. Interessante salientar que temos outros reatores de pequeno e médio porte, também protegidos por patenteamento, que servem para o tratamento de água de reuso, ou que podem ser utilizados para algumas atividades humanas, como a irrigação. Esse conjunto da obra, digamos assim, fez com que algumas empresas já demonstrassem interesse em estabelecer parcerias mais próximas”, contextualiza o docente do Instituto de Química, também vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Química.
Por sua vez, Elisama menciona ainda que a patente combinou conhecimentos de áreas distintas, como eletroquímica, química orgânica, engenharia de processos, ciência de materiais e sustentabilidade, o que reforça a importância de abordagens multidisciplinares na resolução de desafios científicos e tecnológicos. Segundo a cientista, atualmente o Laboratório de Eletroquímica Ambiental e Aplicada estuda outros tipos de resíduos agroindustriais de abundância local e regional, assim como está empenhado em valorar os produtos produzidos por métodos de extração ambiental sustentáveis.
Assessoria de Comunicação AGIR/UFRN
Foto: Cícero Oliveira – UFRN
©2025 www.AssessoRN.com | Jornalista João Bosco Araújo- Twitter @AssessoRN | Instagram:https://www.instagram.com/assessorn_
0 comentários:
Postar um comentário