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quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Universidade recebe patenteamento de sensores que podem ser usados para detectar desde cafeína até cloroquina


A Universidade Federal do Rio Grande do Norte conseguiu, no dia 12 de dezembro, mais um reconhecimento de descoberta científica. Isso porque um grupo de cinco inventores recebeu, do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), o patenteamento definitivo relativo a um sensor eletroquímico, desenvolvido com cortiça e pasta de carbono, capaz de aumentar a sensibilidade e a seletividade para detecção e quantificação de vários compostos específicos. Os sensores eletroquímicos são dispositivos que transformam a interação eletroquímica em um sinal analiticamente útil. No caso da tecnologia patenteada, são microssensores.

“Para tentar entender mais facilmente, vou fazer uma comparação. Nós encontramos na farmácia um dispositivo para medir a glicose, que nos ajuda a determinar alguns valores e os identifica no display do aparelho. Juntamente com ele, são utilizadas algumas ponteiras — com as quais fazemos um furo no dedo e obtemos gotículas de sangue — e umas tirinhas. Essas tirinhas colocadas no dispositivo eletrônico são microssensores eletroquímicos. Então, o que nós desenvolvemos no Laboratório de Eletroquímica e Aplicada, junto com o Grupo de Energias Renováveis e Sustentabilidade Ambiental, são dispositivos como essas tirinhas, também chamados de microssensores eletroquímicos”, explica Carlos Alberto Martínez-Huitle, coordenador do grupo.

Docente do Instituto de Química da UFRN, ele pontua que esses microssensores, regra geral, são baseados na composição de diferentes materiais. Essa composição é direcionada de acordo com a aplicação que se busca. No caso da patente Sensor eletroquímico de cortiça em pasta de carbono, o carbono e a cortiça são os principais componentes. Menos conhecida, a segunda é muito utilizada em utensílios de cozinha e em alguns materiais de construção, porém é considerada um resíduo. Para ser aproveitada na invenção, ressalta Martínez-Huitle, ela passa por um pré-tratamento químico visando à eliminação de impurezas. “A quantidade usada é relativamente pouca, pois com, vamos supor, um quilo de cortiça, podemos fazer muitos desses sensores eletroquímicos. Isso sem perder eficiência, já que a seletividade e a sensibilidade do sensor para compostos orgânicos e inorgânicos têm sido significativamente aumentadas. Essa combinação faz dele algo altamente econômico, fácil de usar e preparar, e, não bastasse, multiuso na detecção de materiais”, destaca.

O cientista acrescenta que o dispositivo pode ser aplicado na parte ambiental e no controle de qualidade em algumas indústrias. Martínez-Huitle identifica que, com o sensor patenteado, já ocorreram trabalhos práticos para detecção de cafeína em fármacos e bebidas, como refrigerantes e energéticos. Ele cita também que a nova tecnologia foi utilizada na detecção de poluentes na água.

 

“Durante a pandemia, o grupo de pesquisa coletou água da Lagoa de Alcaçuz e conseguimos detectar uma concentração diferenciada de hidroxicloroquina. Em virtude do consumo exagerado desse tipo de fármaco durante a pandemia, quando ele era descartado, chegava nos efluentes e ia parar na lagoa. Essa é mais uma opção de aplicação do sensor eletroquímico”, conta o pesquisador, reforçando que as ponteiras são desenvolvidas pelo grupo de forma recorrente, com o objetivo de tentar entender ainda mais o funcionamento frente a outras combinações de elementos e, assim, poder aplicar em diferentes âmbitos.

Em vídeo, cientistas explicam alguns aspectos adicionais da invenção.

Ao lado de Martínez-Huitle, participaram da criação os pesquisadores Mayra Kerolly Sales Monteiro, Djalma Ribeiro da Silva, Vítor Jorge Pais Vilar e Elisama Vieira dos Santos. O estudo que deu origem tem ramificação pelos programas de pós-graduação em Química, em Engenharia Química e em Ciências, além de Engenharia de Petróleo e Energia. Para o grupo, proteger a tecnologia com o patenteamento é também traduzir o que é feito no laboratório em uma aplicação real, além de ser um caminho para a comercialização da invenção ou de parte dela. Segundo os cientistas, isso implica aproveitar a tecnologia com um impacto social, bem como ajuda a motivar os alunos e colegas a alcançarem maiores TRLs nas pesquisas no laboratório. O TRL é o Nível de Maturidade Tecnológica (sigla em inglês) e vai de um a dez.

“Quando o TRL vai aumentando e ultrapassa o nível de seis ou sete, estamos falando de um dispositivo que já pode ser comercializado, que já podemos colocar na prateleira, disponibilizar na indústria, que tem uma aplicação real e comercial. Então a invenção tem proporcionado ciência de qualidade no Laboratório de Eletroquímica Aplicada e, quanto mais nos aprofundarmos, como fazemos, mais a tendência é aumentarmos esse marcador do TRL”, finaliza Carlos Alberto Martínez-Huitle.

Números da UFRN

Chegando agora a 74 cartas-patente, a invenção passa a compor a Vitrine Tecnológica da UFRN, grupo de inovações que abrange tanto os programas de computador registrados quanto as patentes concedidas e as novas tecnologias em fase de depósito. Embora essa última distinção exista, não há empecilho para a utilização das tecnologias pelo setor produtivo, já que o depósito de pedido de patente é o primeiro passo para garantir direitos de comercialização exclusiva, por um determinado período, de uma nova invenção com aplicação industrial.

O depósito em si já propicia a alternativa de transferência de tecnologia com as proteções estabelecidas na legislação. Na UFRN, a Agência de Inovação (Agir) tem a responsabilidade de dar suporte aos pesquisadores desde o depósito até os trâmites seguintes, como a resposta aos questionamentos dos analistas do Inpi e o pagamento das taxas junto ao Instituto. O passo inicial para tudo se chama notificação de invenção, que pode ser feito pelo Sigaa, na aba Pesquisa.

“Nosso objetivo é fazer com que as tecnologias criadas na UFRN alcancem as pessoas, melhorando a qualidade de vida da população e contribuindo para o desenvolvimento sustentável do nosso país. Para isso, a Agir estimula que sejam firmados cada vez mais contratos de transferência de tecnologia com empresas já atuantes no mercado ou que os pesquisadores e alunos elaborem novos negócios. O licenciamento é realizado após um processo de negociação com a empresa interessada, que se compromete a remunerar adequadamente a Universidade por esse acesso. Os recursos obtidos, por sua vez, são uma importante fonte de financiamento para novas pesquisas básicas e aplicadas, além de proporcionarem maior aproximação entre a UFRN e as empresas, gerando novas oportunidades para nossos alunos e pesquisadores”, defende Jefferson Ferreira de Oliveira, diretor da Agir.

A Unidade é também a responsável, no âmbito da Universidade, por promover e acompanhar o relacionamento com empresas, em especial aquelas interessadas em desenvolver novas tecnologias em parceria ou em transferir tecnologias já desenvolvidas pela UFRN.

Wilson Galvão- Jornalista DRT-RN 1340/Assessor de Comunicação AGIR/UFRN

Foto: Cícero Oliveira/UFRN


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