Por Wilson Galvão – AGIR/UFRN
A
floculação – ou seu sinônimo coagulação, é uma das etapas do tratamento de água
em que se adicionam substâncias para a formação de flocos (sólidos de tamanho
maior) que carregam a sujeira. Exemplos de aplicação são o problema da água
turva que acontece recorrentemente em piscinas ou o aspecto barrento que a água
das represas e rios apresentam. Em ambos casos, ocorreu um acúmulo de
partículas com diâmetro pequeno, entre um e mil nanômetros, que provoca a
aparência. Por causa do seu peso minúsculo, essas partículas ficam dispersas
por toda a extensão da água, o que impede a sua remoção e, no limite, também o
uso.
Para
resolver a situação, um caminho eficaz é, justamente, utilizar coagulantes,
substâncias que através de processos químicos e físicos, atuam como um ligante
para estas “sujeiras” minúsculas. Com essa ação, as partículas se juntam e
acabam formando blocos maiores e, assim, passíveis de filtragem. Comumente,
esse processo é denominado de clarificação da água. Fecho aqui os parênteses.
A
nova tecnologia desenvolvida por pesquisadores da UFRN está, intimamente,
ligada a esse panorama e pode ser utilizada como fator de desenvolvimento
regional, haja vista sua “matéria-prima”. O coagulante criado dentro da
Universidade é feito de um extrativo vegetal do cajueiro, chamado taninos,
modificado quimicamente. Esse tanino é extraído da casca do cajueiro, espécie
cujo nome científico é Anacardium occidentale L., nativa da Caatinga e
encontrada em abundância na região Nordeste – onde está mais de 98% da área de
plantio do cajueiro do país.
Por
isso, apesar de outras fontes de taninos vegetais estarem presentes no Brasil e
na região Nordeste, nenhuma delas iguala
o cajueiro em área de plantio e disponibilidade anual de resíduos de poda e renovação de cajuais,
“sobras” que usualmente são vendidas como lenha
de baixa categoria para uso,
principalmente, em cerâmicas e agroindústrias. A funcionalidade que surge a
partir dessa nova tecnologia pode ser mais uma fonte de renda para produtores.
Tatiane
Azevêdo coloca que o passo inicial é extrair os taninos da casca do cajueiro.
Em seguida, ocorre a modificação química desses taninos, o que propicia o seu
emprego como floculante para a clarificação de água. “O floculante pode ser
obtido a partir de resíduos de poda e de renovação de cajueiros, o que
evidencia a característica de ser um produto de origem renovável, eficiente na
remoção da turbidez da água e não agressivo ao meio ambiente em nenhuma das
etapas de sua produção e utilização”, circunstancia a docente da Escola
Agrícola de Jundiaí.
Em vídeo, a cientista explicou outros
aspectos da invenção.
Ela
idealizou a pesquisa que rendeu como fruto à invenção, esta objeto de um
depósito de pedido de patente denominado “Floculante à base de taninos da casca
de cajueiro (Anacardium Occidentale) e seu processo de obtenção”. Na
iniciativa, a professora contou com a contribuição de Bruna Ferreira dos Anjos,
orientanda no mestrado, Renata Martins Braga e Alexandre Santos Pimenta,
professores que deram o aporte na caracterização química.
Eles
frisam que os coagulantes naturais são uma alternativa para o tratamento da
água bruta, pois possuem inúmeras vantagens em comparação aos coagulantes
químicos. Os cientistas citam o aumento na vida útil dos filtros, diminuição no
volume de lodo gerado, aumento da eficiência na remoção de cor e turbidez. “Os
taninos possuem também a propriedade de não alterar o pH da água tratada. Um
dos fatores importantes no uso de coagulantes biodegradáveis no tratamento de
efluentes é a redução do odor desagradável, causados pela ação dos
microrganismos associados aos sulfatos usualmente utilizados na floculação
atualmente”, explica Bruna dos Anjos.
Atualmente
morando em São Paulo, e, hoje, mestre pela Pós-Graduação em Ciências Florestais
da UFRN, acrescenta que nos testes comparativos com dois produtos comerciais, o
floculante à base de taninos de cascas de cajueiro mostrou o melhor valor de
remoção de turbidez de água, reduzindo a turbidez da água em 95% a 99%, além de
não promover mudanças no pH da água durante a floculação.
No
Brasil, o coagulante mais utilizado é o sulfato de alumínio, obtido por meio da
reação química entre o óxido de alumínio e o ácido sulfúrico e que comumente
provoca irritação na pele e nas mucosas do nosso corpo. O acúmulo desses
coagulantes convencionais nos lençóis freáticos apresentam sérios riscos,
estando relacionado a doenças de coordenação motora, demência, Alzheimer e Mal
de Parkinson. “Não bastasse, contém uma alta corrosividade, o que encurta a vida
útil dos equipamentos e tubulações das estações de tratamento. A presença de
cloro oriundo do cloreto férrico pode também causar corrosão tipo pitting, a
mais destrutiva e incidente forma de corrosão”, acrescenta Tatiane Azevêdo.
Coordenando
o Grupo de Pesquisa Produtos Florestais Não Madeireiros, a cientista salienta
que o caminho para patentear a invenção foi natural e representa o resultado de
anos de pesquisa. “Essa é uma parte do que fazemos, mas, ainda assim, mostra
que a ciência e a pesquisa são a essência para o surgimento de novas
tecnologias, as quais trazem, inclusive, alternativas ecologicamente corretas,
sustentáveis e com promissor potencial econômico”, finaliza.
O
pedido de patenteamento da invenção foi feito através da Agência de Inovação da
Reitoria (AGIR), unidade dentro da UFRN responsável pela avaliação dos
requisitos de patenteabilidade, tais quais a novidade, capacidade inventiva,
aplicação industrial e suficiência descritiva. As notificações de invenção são
feitas por meio do SIGAA, através da aba “Pesquisa”.
O
diretor da AGIR, Daniel de Lima Pontes, frisa que o depósito já permite que a
tecnologia esteja disponível para o setor produtivo aproveitá-la para melhorar
seus processos e fluxos de trabalho. “Inclusive, dentro da Agência temos um
setor, especificamente, para facilitar a transferência das tecnologias, o qual
realiza atividades de planejamento e promoção de ações para estimular o
licenciamento de tecnologias da UFRN”, afirmou o diretor.
Além
de avaliar os requisitos de patenteabilidade, cabe à AGIR a proteção e gestão
dos ativos de propriedade intelectual da UFRN, como patentes e programas de
computador. As orientações e explicações, em tempos de pandemia, a respeito dos
aspectos para patentear uma determinada invenção são dadas por meio do e-mail
patente@agir.ufrn.br ou via aplicativos de mensagens, pelo telefone 99167 6589.
Assessoria de Comunicação
da Agência de Inovação da Reitoria da UFRN
Imagem relacionada à
divulgação
©2022 www.AssessoRN.com | Jornalista João Bosco Araújo - Twitter @AssessoRN | Instagram: www.instagram.com/assessorn/
0 comentários:
Postar um comentário