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quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Produto criado na UFRN tem características que podem diminuir alcance de desastres ambientais


Um material absorvente, capaz de conter e remover petróleo e derivados com rapidez e eficiência, reduzindo os impactos ambientais em casos de derramamento na água e na terra, é a mais nova tecnologia desenvolvida dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O produto tem capacidade de remoção de petróleo de mais de 100 vezes a sua própria massa, superando os absorventes comerciais sintéticos, como as espumas de poliuretano e poliproleno, os quais apresentam limitações de custo de produção e não biodegradabilidade.

Para termos uma ideia, uma possível aplicação da invenção se dá em casos como o recente caso do derramamento na costa do Brasil, que atingiu 11 estados do Nordeste e Sudeste, 120 municípios e 724 localidades, em 2019 e 2020. Crimes ambientais como esse causam severos impactos e os danos desses derramamentos repercutem na vida marinha, no solo, no ar, podendo ainda comprometer à saúde humana, o turismo, o lazer e também a economia.

“O material tem origem natural, a partir das fibras da Calotropis procera, e é modificado com cloreto de sódio, o popular sal. Após a alteração e mediante a utilização posterior de alguns processos térmicos e químicos, a fibra tratada resulta no produto final, um material que pode ser usado solto ou produzido em forma de manta, filtro, almofada ou barreiras de alta eficiência”, descreve Raoni Batista dos Anjos.

Um dos cientistas que integra o grupo de inventores, Raoni pontua ainda o alcance social da nova tecnologia no Nordeste, já que a Calotropis procera é uma planta abundante na Caatinga – a depender da região e do estado, recebe denominações variadas, como bombardeira, queimadeira, leiteira, paina-de-sapo e paina-de-seda. “A matéria-prima do absorvente de petróleo é de grande abundância e com sua maior população na região Nordeste”, explicita.

Larissa Sobral Hilário, autora da tese que dá origem ao produto, acrescenta que a escolha pela Calotropis procera como matéria prima do absorvente ocorreu por ser um material biodegradável e de alta capacidade natural de absorção – também denominada capacidade de retenção por capilaridade. Além disso, o processo de obtenção requer um curto tempo de preparação.

“O protótipo do material absorvente está sendo desenvolvido pela equipe de Pesquisadores do Laboratório da Central Analítica do Núcleo de Processamento Primário e Reuso de Água Produzida e Resíduos, vinculado ao NUPPRAR. O intuito é justamente obter uma almofada ou cordão absorvente para limpeza em superfície terrestre e em meio aquático do petróleo e seus derivados”, explica.

O depósito para o registro da propriedade intelectual da invenção ocorreu no primeiro dia deste mês de dezembro, sob a denominação Material absorvente à base de Calotropis procera para petróleo e derivados. Além de Larissa e Raoni, o estudo envolve os pesquisadores Djalma Ribeiro da Silva, Emily Cintia Tossi de Araújo Costa, Tarcila Maria Pinheiro Frota e Aécia Seleide Dantas dos Anjos. Para além da patente, a pesquisa rendeu três publicações internacionais em pesquisa de alto impacto.

Os cientistas apontam que, apesar da sua potencialidade, a fibra da Calotropis procera ainda é pouco estudada. Contudo, os estudos desenvolvidos pelo grupo, sobretudo no âmbito do Programa de Pós-Graduação de Ciência e Engenharia do Petróleo, foram capazes de mostrar a capacidade do material para remoção de petróleo e hidrocarbonetos derivados do petróleo. Nessas pesquisas, ficam evidenciadas, por um lado, as características oleofílicas e hidrofóbicas – respectivamente, com alta capacidade de absorver vários óleos – e também, por outro lado, características de “repulsa” à água.

A relevância do novo dispositivo desenvolvido fica ainda mais evidente quando comparado com os absorventes disponíveis atualmente. Estes usam minerais inorgânicos, sintéticos e produtos vegetais orgânicos – os três com sérias dificuldades. Os primeiros têm baixo grau de absorção e elevado peso que dificulta o uso em larga escala. Os sintéticos apresentam preços elevados, produzem gases tóxicos quando incinerados durante o descarte e podem ser tóxicos aos organismos quando utilizados em meio aquático e terrestre. Por fim, os absorventes vegetais orgânicos apresentam desvantagens relacionadas à afinidade por água, ao baixo grau de absorção de óleo e são obtidos por extrativismo predatório, sendo considerado um material não renovável.

“Por isso, pesquisadores têm voltado suas atenções para a necessidade de estudar novos materiais naturais absorventes de petróleo e seus derivados que sejam renováveis e de baixo custo, como o caso desta tecnologia que desenvolvemos, o que acreditamos que indica um interessante caminho para a viabilidade do seu uso”, finaliza Raoni dos Anjos.

Pedidos de patente

Na UFRN, o pedido de patente tem início com a notificação de invenção, procedimento realizado através do Sigaa, na aba pesquisa. Em seguida, a equipe da Agência de Inovação (AGIR) entra em contato, para realizar os trâmites seguintes, como a confecção do texto, ajustes na escrita e a parte burocrática, como pagamento de taxas e assinatura de termos de cessão. Antes do depósito em si, a AGIR procede com a uma avaliação preliminar dos requisitos de patenteabilidade, tais quais a novidade, capacidade inventiva, aplicação industrial e suficiência descritiva.

Ao falar sobre o alto potencial de transferência dessa tecnologia, o diretor da Agência, Daniel de Lima Pontes, ressaltou a importância de se conhecer o portfólio de patentes prontas para aplicação na indústria. Ele explicou que o desafio atual da Universidade é intensificar a transferência da tecnologia e que estratégias são traçadas através do desenvolvimento de estudos de prospecção tecnológica e de inteligência competitiva.

“É muito importante situar que a AGIR está à disposição dos membros da comunidade universitária para orientar a respeito dos critérios de patenteabilidade, bem como realizar uma intermediação entre a academia e o setor produtivo. A transferência de tecnologia é o aspecto que dá ao processo de patentear a característica de inovação”, explicou o diretor.

Assessoria de Comunicação da Agência de Inovação da Reitoria da UFRN

Foto: Arthur de Souza

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