Para
termos uma ideia, uma possível aplicação da invenção se dá em casos como o
recente caso do derramamento na costa do Brasil, que atingiu 11 estados do
Nordeste e Sudeste, 120 municípios e 724 localidades, em 2019 e 2020. Crimes
ambientais como esse causam severos impactos e os danos desses derramamentos
repercutem na vida marinha, no solo, no ar, podendo ainda comprometer à saúde
humana, o turismo, o lazer e também a economia.
“O
material tem origem natural, a partir das fibras da Calotropis procera, e é
modificado com cloreto de sódio, o popular sal. Após a alteração e mediante a
utilização posterior de alguns processos térmicos e químicos, a fibra tratada
resulta no produto final, um material que pode ser usado solto ou produzido em
forma de manta, filtro, almofada ou barreiras de alta eficiência”, descreve
Raoni Batista dos Anjos.
Um
dos cientistas que integra o grupo de inventores, Raoni pontua ainda o alcance
social da nova tecnologia no Nordeste, já que a Calotropis procera é uma planta
abundante na Caatinga – a depender da região e do estado, recebe denominações
variadas, como bombardeira, queimadeira, leiteira, paina-de-sapo e
paina-de-seda. “A matéria-prima do absorvente de petróleo é de grande
abundância e com sua maior população na região Nordeste”, explicita.
Larissa
Sobral Hilário, autora da tese que dá origem ao produto, acrescenta que a
escolha pela Calotropis procera como matéria prima do absorvente ocorreu por
ser um material biodegradável e de alta capacidade natural de absorção – também
denominada capacidade de retenção por capilaridade. Além disso, o processo de
obtenção requer um curto tempo de preparação.
“O
protótipo do material absorvente está sendo desenvolvido pela equipe de
Pesquisadores do Laboratório da Central Analítica do Núcleo de Processamento
Primário e Reuso de Água Produzida e Resíduos, vinculado ao NUPPRAR. O intuito
é justamente obter uma almofada ou cordão absorvente para limpeza em superfície
terrestre e em meio aquático do petróleo e seus derivados”, explica.
O
depósito para o registro da propriedade intelectual da invenção ocorreu no
primeiro dia deste mês de dezembro, sob a denominação Material absorvente à
base de Calotropis procera para petróleo e derivados. Além de Larissa e Raoni,
o estudo envolve os pesquisadores Djalma Ribeiro da Silva, Emily Cintia Tossi
de Araújo Costa, Tarcila Maria Pinheiro Frota e Aécia Seleide Dantas dos Anjos.
Para além da patente, a pesquisa rendeu três publicações internacionais em
pesquisa de alto impacto.
Os
cientistas apontam que, apesar da sua potencialidade, a fibra da Calotropis
procera ainda é pouco estudada. Contudo, os estudos desenvolvidos pelo grupo,
sobretudo no âmbito do Programa de Pós-Graduação de Ciência e Engenharia do
Petróleo, foram capazes de mostrar a capacidade do material para remoção de
petróleo e hidrocarbonetos derivados do petróleo. Nessas pesquisas, ficam
evidenciadas, por um lado, as características oleofílicas e hidrofóbicas –
respectivamente, com alta capacidade de absorver vários óleos – e também, por
outro lado, características de “repulsa” à água.
A
relevância do novo dispositivo desenvolvido fica ainda mais evidente quando
comparado com os absorventes disponíveis atualmente. Estes usam minerais
inorgânicos, sintéticos e produtos vegetais orgânicos – os três com sérias
dificuldades. Os primeiros têm baixo grau de absorção e elevado peso que
dificulta o uso em larga escala. Os sintéticos apresentam preços elevados,
produzem gases tóxicos quando incinerados durante o descarte e podem ser
tóxicos aos organismos quando utilizados em meio aquático e terrestre. Por fim,
os absorventes vegetais orgânicos apresentam desvantagens relacionadas à
afinidade por água, ao baixo grau de absorção de óleo e são obtidos por
extrativismo predatório, sendo considerado um material não renovável.
“Por
isso, pesquisadores têm voltado suas atenções para a necessidade de estudar
novos materiais naturais absorventes de petróleo e seus derivados que sejam
renováveis e de baixo custo, como o caso desta tecnologia que desenvolvemos, o
que acreditamos que indica um interessante caminho para a viabilidade do seu
uso”, finaliza Raoni dos Anjos.
Pedidos
de patente
Na
UFRN, o pedido de patente tem início com a notificação de invenção,
procedimento realizado através do Sigaa, na aba pesquisa. Em seguida, a equipe
da Agência de Inovação (AGIR) entra em contato, para realizar os trâmites
seguintes, como a confecção do texto, ajustes na escrita e a parte burocrática,
como pagamento de taxas e assinatura de termos de cessão. Antes do depósito em
si, a AGIR procede com a uma avaliação preliminar dos requisitos de
patenteabilidade, tais quais a novidade, capacidade inventiva, aplicação
industrial e suficiência descritiva.
Ao
falar sobre o alto potencial de transferência dessa tecnologia, o diretor da
Agência, Daniel de Lima Pontes, ressaltou a importância de se conhecer o
portfólio de patentes prontas para aplicação na indústria. Ele explicou que o
desafio atual da Universidade é intensificar a transferência da tecnologia e
que estratégias são traçadas através do desenvolvimento de estudos de
prospecção tecnológica e de inteligência competitiva.
“É
muito importante situar que a AGIR está à disposição dos membros da comunidade
universitária para orientar a respeito dos critérios de patenteabilidade, bem
como realizar uma intermediação entre a academia e o setor produtivo. A
transferência de tecnologia é o aspecto que dá ao processo de patentear a
característica de inovação”, explicou o diretor.
Assessoria
de Comunicação da Agência de Inovação da Reitoria da UFRN
Foto:
Arthur de Souza
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