Um grupo de pesquisadores da UFRN desenvolveu uma máquina com potencial para otimizar a produção de massa cerâmica, reduzindo custos na indústria voltada para a fabricação de produtos constituídos por cerâmicas tradicionais, na grande maioria materiais argilosos para a fabricação de telhas e tijolos, por exemplo.
O resultado é alcançado por meio das funcionalidades do dispositivo, que propicia um aperfeiçoamento na etapa de formulação da massa cerâmica, especificamente o relativo ao teste de determinação do limite de plasticidade de massas cerâmicas, previsto na norma NBR 7180-2016. A cientista envolvida no desenvolvimento da nova tecnologia, Kívia Fabiana Galvão de Araújo, pontua que o invento reproduz o movimento que é realizado manualmente pelo operador que está realizando o teste, permitindo a automação de uma das etapas do teste de limite de plasticidade.
“Assim,
conseguimos algumas vantagens e benefícios, como a padronização e automatização
da etapa de formação do cilindro para amostras de materiais cerâmicos e
realização dos testes de plasticidade. Dessa maneira, há a melhoria da
eficiência, reprodutibilidade e confiabilidade dos produtos confeccionados,
reduzindo custos de capacitação profissionalizante e de tempo por meio da
integração de sistemas e ferramentas”, coloca a pesquisadora, na época
estudante do curso de Engenharia de Materiais da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN) e, atualmente, mestranda no Programa de Pós-Graduação em
Ciência e Engenharia de Materiais.
De
forma resumida, com a utilização da invenção, após a preparação da amostra
seguindo a NBR 6457 (esta Norma especifica o método para a preparação de
amostras de solos para os ensaios de compactação e de caracterização), uma
massa cerâmica é preparada e, então, retira-se 10 g desse material para que
seja enrolado manualmente em formato de esfera. Esta esfera é colocada na
máquina e, em seguida, com o motor superior acionado, a placa superior desce
até a altura referente ao tamanho da esfera. Em seguida, o motor inferior é
ativado por um software acoplado à máquina que emite os comandos para que sejam
realizados os movimentos de deslizamento. Com esses movimentos, há uma redução
do tamanho da esfera. Com a redução, a placa superior é reajustada para o novo
tamanho compatível. O conjunto dessas operações resultará em um corpo
cilíndrico com dimensões de 3 milímetros de diâmetro e 100 milímetros de
comprimento no final do processo.
O
processo descrito acima mantém relação direta com a singularidade do invento,
ao “incorporar” a automatização à etapa de formação do cilindro com as medidas
correspondentes ao que dispõe a norma NBR 7180-2016.
O
depósito do pedido de patente da invenção aconteceu no final do mês de novembro
junto ao Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI). Nele, constam os
detalhes específicos do funcionamento da máquina, bem como as comparações
distintivas com alguns aparelhos já existentes. “Inovamos ao proporcionar
testes que passam a ser mais rápidos, com resultados mais padronizados, que
reduzem a probabilidade de erros de formulação das massas cerâmicas e do
operador em repetibilidade e reprodutibilidade durante o teste”, acrescenta
Kivia Galvão.
Para
a pesquisadora Fabiana Villela da Motta, o contexto dessas novas
funcionalidades, ao proporcionar melhor precisão e padronização, beneficia a
qualidade dos resultados. “Além disso, por reduzir o tempo e trazer melhorias
de processo, gera economia de recursos e agrega valor aos negócios desse
segmento da indústria ceramista”, realça a professora da UFRN. Ao pontuar que o
invento integrou estudantes de graduação de três áreas, a Engenharia de
Materiais, de Mecatrônica e de Tecnologia da Informação, a docente ressalta que
a UFRN pode contribuir muito com o setor industrial, trazendo benefícios
diretos ou indiretos para a sociedade. “A integração entre alunos de diferentes
engenharias permitiu agregar tecnologia e melhoria em qualidade para o setor
cerâmico, demonstrando que a interdisciplinaridade é a chave fundamental no
processo de inovação”.
Além
das duas, o grupo de inventores é composto por Amaralina Lituânia Morais
Marinho, Joyce Cavalcante da Silva, Margareth Nascimento de Souza Lira, Maria
Monique de Brito Leite, João Matheus Bernardo Resende, Álvaro Portela
Figueiredo Neto e Tiago Hérique Silva de Almeida. Inclusive, já existe um
protótipo funcional da tecnologia, cujo desenvolvimento seguiu a proposta da
invenção e apresentou resultados promissores relacionados à otimização do tempo
de ensaio e a qualidade, se comparado ao ensaio manual.
O
que é um pedido de patente?
Patente
é um título de propriedade temporária sobre uma invenção ou modelo de utilidade
outorgado pelo Estado aos inventores, autores ou outras pessoas físicas ou
jurídicas detentoras de direitos sobre a criação. Assim, o depósito de pedido
de patente é o primeiro passo para garantir direitos de comercialização
exclusiva, por um determinado período, de uma nova invenção com aplicação industrial.
Na UFRN, as notificações de invenção são feitas através do Sigaa, por meio da
aba Pesquisa. Em seguida, a equipe da AGIR entra em contato com o inventor para
dar prosseguimento aos trâmites.
A
proteção das tecnologias desenvolvidas por inventores da UFRN tem como objetivo
resguardar os direitos patrimoniais da instituição frente aos investimentos
intelectuais e financeiros despendidos durante o seu desenvolvimento, além de
permitir que esses novos produtos e processos sejam licenciados por empresas
que possam explorá-los comercialmente, gerando recursos para a instituição na
forma de royalties que novamente serão investidos em inovação.
Contudo,
para além do retorno financeiro, há o retorno do reconhecimento intelectual.
Nesse primeiro momento do depósito, o Instituto Nacional de Propriedade
Intelectual (INPI) “guarda” o documento por 18 meses em sigilo. Em seguida, o
estudo é publicado e fica o mesmo período aberto a contestações. Após três
anos, o Instituto parte para a análise em si. Por causa disso, o processo de
expedição da carta-patente acontece costumeiramente após cinco anos do
depósito.
Dentro
da Universidade, a Agência de Inovação (AGIR) é a unidade responsável pela
avaliação dos requisitos de patenteabilidade, tais como a novidade, capacidade
inventiva, aplicação industrial e suficiência descritiva. Embora pontue que é
importante que os pesquisadores saibam reconhecer as características de um
invento patenteável, o diretor da AGIR, Daniel de Lima Pontes, frisou que a
Agência de Inovação propicia esse suporte aos cientistas. “Fazemos a análise
prévia do texto, indicando já possíveis alterações, para suprimir ou dar ênfase
a algum aspecto. Além disso, cuidamos da parte burocrática em si, como a
assinatura dos termos. Não obstante o período de pandemia, as demandas dentro
da Agência de Inovação continuam sendo recebidas pela equipe mediante o e-mail
patente@agir.ufrn.br”, frisou o gestor.
Assessoria
de Comunicação da Agência de Inovação da Reitoria da UFRN
Fotos:
Cícero Oliveira
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