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quarta-feira, 22 de maio de 2019

O futuro está aqui: Motores a vapor, eletricidade, tecnologia da informação, indústria 4.0...

Por Ana Lourdes Bal – ASCOM/Reitoria/UFRN
Fotos: Cícero Oliveira

Desde a metade do século 18, o ser humano cria e se reinventa. Devido às descobertas, aconteceram as chamadas Revoluções Industriais, caracterizadas por mudanças abruptas e transformações radicais nos sistemas de trabalho. A Primeira Revolução Industrial foi iniciada em 1760, onde as máquinas de vapor foram aprimoradas e as indústrias de tecidos de algodão foram surgindo. Já a Segunda começou em 1860, na qual a energia elétrica, o aço, a química e os combustíveis derivados do petróleo foram uma inovação para a época. Com a Revolução Industrial seguinte, a partir da década de 70, a tecnologia e a internet deram o pontapé inicial para a criação de computadores, biotecnologia, microeletrônica e informática, os quais atualmente auxiliam nos modelos de produção trabalhistas.

Após essa terceira revolução, o mundo digital se expandiu desmesuradamente. Segundo uma pesquisa, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil, em 2017, entre as 181,1 milhões de pessoas com 10 anos ou mais de idade no país, 126,3 milhões (69,8%) acessaram a Internet pelo menos uma vez nos três meses antecedentes à pesquisa. Destes, 97% utilizam a internet através do celular. Esse panorama é um dos que propicia a ascensão de uma quarta revolução.

No livro de Klaus Schwab, “A Quarta Revolução Industrial”, ele narra os novos aspectos que podem ser trazidos com as inovações que foram e estão sendo construídas, com a fusão dos mundos físico, digital e biológico. Alguns itens que parecem ter saído direto da série britânica Black Mirror (2011), de tão futuristas que são, já estão aqui. Fabricações de itens feitos por impressoras 3D; as chamadas inteligências artificiais (IAs), as quais podem simular a capacidade humana de raciocinar e tomar decisões; a Internet das Coisas, que permite que objetos físicos estejam conectados à internet para coordenar ações; biologia sintética, que permite a construção de enzimas, células, circuitos genéticos e redesenhos de sistemas biológicos existentes.

Isso é real. Tudo está sendo intenso e extremamente veloz. As mudanças abruptas e transformações radicais estão acontecendo. Essa convergência está relacionada com a fusão dos três mundos citados por Klaus Schwab. Agora o que precisa ser feito é integrar estes itens à indústria, o que é um processo mais demorado. O Laboratório de Informática Industrial, localizado no Instituto Metrópole Digital (IMD) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que conta também com a participação do Departamento de Engenharia de Computação e Automação (DCA) e da Escola de Ciências e Tecnologia (ECT), existe há 12 anos.

Procuram, desde lá, soluções que forneçam segurança, relacionadas a sistemas de alarmes. “Nós trabalhamos principalmente com a área da segurança operacional, tornando a indústria mais segura em seus processos e na parte da eficiência, como quantificar perdas, para auxiliar no futuro”, diz o professor Gustavo Leitão, um dos organizadores do projeto. Ele explica que o foco é em engenharia de dados, com o armazenamento das informações geradas por sensores, atuadores, entre outros elementos de campo, fomentando técnicas e algoritmos para o processamento dos dados para diversos setores da indústria.

“Na Terceira Revolução Industrial, estávamos muito preocupados para gerar a automação da indústria, afinal, ela ainda não existia, o que foi conseguido. Nessa nova fase, que chamamos também de Indústria 4.0, queremos ir além da automação. Queremos a digitalização completa de uma indústria, de um processo industrial”, afirma o professor. “A novidade é adaptar essas ferramentas tecnológicas, como realidade virtual, simulações mais complexas, interligações de dados, tudo para tornar a indústria mais eficiente, produzindo mais rápido, com mais qualidade e com menor desperdício. É uma busca incessante que a indústria tem de melhorar seus processos. O mundo todo está construindo ferramentas para essa nova realidade. O desafio é perceber a importância disso e dar o primeiro passo, não apenas para o contexto de grandes empresas. Pequenas e médias empresas são a matriz principal, onde podemos transformar o país”, diz o professor Gustavo.

Soluções de problemas com a tecnologia

O uso de drones passou a ser algo bastante comum. Anteriormente, eles eram utilizados para funções militares, sobretudo no reconhecimento de terrenos, permitindo visão aérea. Como não há necessidade de um tripulante, podem ser controlados a distância, leves e entram em espaços de difícil acesso; em virtude disso, já serviram como apoio e forma de ataque e espionagem. Hoje, o uso deles pelo mundo se espalhou, especialmente para realizar imagens e vídeos. A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), no Brasil, permite a utilização do aparelho com distância de 30 metros das pessoas que não estejam envolvidas com a operação que esteja sendo realizada. Outra exigência é que cada piloto remoto só possa utilizar um drone por vez.

Embora a popularização ocorreu sobretudo por conta de imagens e vídeos, há casos pelo mundo que trazem solução para problemas, de uma forma simples. O professor António Rochette, da Universidade de Coimbra (Portugal) e que atualmente tem um projeto de sustentabilidade em parceria com o IMD, afirma que as ferramentas da Indústria 4.0, também como é chamada essa nova revolução, trouxeram novas possibilidades, novas vantagens. “Em Portugal, nós temos um problema muito sério, relacionado ao envelhecimento da população e os idosos. Com o drone, nós conseguimos levar alimentação para eles diariamente, em lugares remotos”, conta o professor. Assim, as tecnologias podem ser socializadas e utilizadas em prol da humanidade.

Impacto no mundo do trabalho

A Primeira Revolução Industrial trouxe mudanças à sociedade, à economia e até às relações sociais. “O que está acontecendo neste momento é algo similar ao que aconteceu no século 18”, diz Cesar Sanson, professor do Departamento de Ciências Sociais, da UFRN. Sua área é a Sociologia do Trabalho, onde estuda os impactos na estrutura ocupacional. “Nós estamos vivendo uma revolução extremamente profunda, extremamente radical, que está deixando para trás um mundo que não retornará mais”, complementa.

O professor acredita que esta revolução tem duas possibilidades de caminhos: um promissor e exuberante; e outro potencialmente perigoso. “Pode-se abrir uma janela para um mundo melhor, onde há perspectiva de inclusão social, de distribuição de renda, de superação da desigualdade social. Mas também, pode-se abrir outra, onde todos esses problemas citados se aprofundem ainda mais, caso as tecnologias da quarta revolução caiam na hegemonia de interesse do mercado, que tem esse indicativo na atualidade, podendo correr o risco de aprofundar desigualdades sociais e concentração de renda”, explica Sanson.

Com o crescimento das tecnologias e a substituição da mão de obra humana, as empresas não precisam mais pagar um salário para uma pessoa. “O dinheiro que anteriormente era revertido em salários para os trabalhadores e à geração de empregos, está indo pro mercado financeiro. A lógica atual das inovações tecnológicas está sendo apropriada na perspectiva de aumento de produtividade das empresas, sem retorno pra sociedade”, explica Cesar. Para exemplificar, uma profissão que atualmente está perdendo forças é a de cobrador, substituída por catracas eletrônicas.

Em países como a Argentina foi praticamente abolida. Lá, utiliza-se um cartão, o Sistema Único de Boleto Electrônico, conhecido popularmente como SUBE, o qual você recarrega e pode andar em ônibus, metrô e trem, sendo uma solução para a falta da circulação de moedas no país. Em Buenos Aires, desde 2016, é a única forma para realizar pagamento nos serviços de transporte público. “Será que há necessidade de eliminar empregos em todas as áreas só porque é tecnologicamente bom? Essas pessoas que não tem qualificação, vão trabalhar onde?”, questiona o professor. “Essa é a diferença dessa revolução com a anterior. A anterior, empregou massivamente as pessoas, ela necessitou de muita mão de obra. A novidade dessa revolução é essa: aumenta a produtividade, mas diminui os postos de trabalho. Essa é uma questão que o capitalismo vai ter que resolver, afinal, empregar as pessoas é uma forma de distribuir renda”, finaliza Sanson.

Não há como prever qual será a escolha, entre o caminho promissor ou perigoso, de uma forma definitiva, isso é algo que será visto com o tempo. Tudo está acontecendo aqui e agora, e de uma coisa temos certeza: o futuro não está tão distante assim, ele já está aqui.

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