Fotos: Cícero Oliveira
Desde a
metade do século 18, o ser humano cria e se reinventa. Devido às descobertas,
aconteceram as chamadas Revoluções Industriais, caracterizadas por mudanças
abruptas e transformações radicais nos sistemas de trabalho. A Primeira
Revolução Industrial foi iniciada em 1760, onde as máquinas de vapor foram
aprimoradas e as indústrias de tecidos de algodão foram surgindo. Já a Segunda
começou em 1860, na qual a energia elétrica, o aço, a química e os combustíveis
derivados do petróleo foram uma inovação para a época. Com a Revolução
Industrial seguinte, a partir da década de 70, a tecnologia e a internet deram
o pontapé inicial para a criação de computadores, biotecnologia,
microeletrônica e informática, os quais atualmente auxiliam nos modelos de
produção trabalhistas.
Após essa
terceira revolução, o mundo digital se expandiu desmesuradamente. Segundo uma
pesquisa, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil,
em 2017, entre as 181,1 milhões de pessoas com 10 anos ou mais de idade no
país, 126,3 milhões (69,8%) acessaram a Internet pelo menos uma vez nos três
meses antecedentes à pesquisa. Destes, 97% utilizam a internet através do
celular. Esse panorama é um dos que propicia a ascensão de uma quarta
revolução.
No livro de
Klaus Schwab, “A Quarta Revolução Industrial”, ele narra os novos aspectos que
podem ser trazidos com as inovações que foram e estão sendo construídas, com a
fusão dos mundos físico, digital e biológico. Alguns itens que parecem ter
saído direto da série britânica Black Mirror (2011), de tão futuristas que são,
já estão aqui. Fabricações de itens feitos por impressoras 3D; as chamadas
inteligências artificiais (IAs), as quais podem simular a capacidade humana de
raciocinar e tomar decisões; a Internet das Coisas, que permite que objetos
físicos estejam conectados à internet para coordenar ações; biologia sintética,
que permite a construção de enzimas, células, circuitos genéticos e redesenhos
de sistemas biológicos existentes.
Isso é real.
Tudo está sendo intenso e extremamente veloz. As mudanças abruptas e
transformações radicais estão acontecendo. Essa convergência está relacionada
com a fusão dos três mundos citados por Klaus Schwab. Agora o que precisa ser
feito é integrar estes itens à indústria, o que é um processo mais demorado. O
Laboratório de Informática Industrial, localizado no Instituto Metrópole
Digital (IMD) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que conta
também com a participação do Departamento de Engenharia de Computação e
Automação (DCA) e da Escola de Ciências e Tecnologia (ECT), existe há 12 anos.
Procuram,
desde lá, soluções que forneçam segurança, relacionadas a sistemas de alarmes.
“Nós trabalhamos principalmente com a área da segurança operacional, tornando a
indústria mais segura em seus processos e na parte da eficiência, como
quantificar perdas, para auxiliar no futuro”, diz o professor Gustavo Leitão,
um dos organizadores do projeto. Ele explica que o foco é em engenharia de
dados, com o armazenamento das informações geradas por sensores, atuadores,
entre outros elementos de campo, fomentando técnicas e algoritmos para o
processamento dos dados para diversos setores da indústria.
“Na Terceira
Revolução Industrial, estávamos muito preocupados para gerar a automação da
indústria, afinal, ela ainda não existia, o que foi conseguido. Nessa nova
fase, que chamamos também de Indústria 4.0, queremos ir além da automação.
Queremos a digitalização completa de uma indústria, de um processo industrial”,
afirma o professor. “A novidade é adaptar essas ferramentas tecnológicas, como
realidade virtual, simulações mais complexas, interligações de dados, tudo para
tornar a indústria mais eficiente, produzindo mais rápido, com mais qualidade e
com menor desperdício. É uma busca incessante que a indústria tem de melhorar
seus processos. O mundo todo está construindo ferramentas para essa nova
realidade. O desafio é perceber a importância disso e dar o primeiro passo, não
apenas para o contexto de grandes empresas. Pequenas e médias empresas são a
matriz principal, onde podemos transformar o país”, diz o professor Gustavo.
Soluções de
problemas com a tecnologia
O uso de
drones passou a ser algo bastante comum. Anteriormente, eles eram utilizados para
funções militares, sobretudo no reconhecimento de terrenos, permitindo visão
aérea. Como não há necessidade de um tripulante, podem ser controlados a
distância, leves e entram em espaços de difícil acesso; em virtude disso, já
serviram como apoio e forma de ataque e espionagem. Hoje, o uso deles pelo
mundo se espalhou, especialmente para realizar imagens e vídeos. A Agência
Nacional de Aviação Civil (ANAC), no Brasil, permite a utilização do aparelho
com distância de 30 metros das pessoas que não estejam envolvidas com a
operação que esteja sendo realizada. Outra exigência é que cada piloto remoto
só possa utilizar um drone por vez.
Embora a
popularização ocorreu sobretudo por conta de imagens e vídeos, há casos pelo
mundo que trazem solução para problemas, de uma forma simples. O professor
António Rochette, da Universidade de Coimbra (Portugal) e que atualmente tem um
projeto de sustentabilidade em parceria com o IMD, afirma que as ferramentas da
Indústria 4.0, também como é chamada essa nova revolução, trouxeram novas
possibilidades, novas vantagens. “Em Portugal, nós temos um problema muito
sério, relacionado ao envelhecimento da população e os idosos. Com o drone, nós
conseguimos levar alimentação para eles diariamente, em lugares remotos”, conta
o professor. Assim, as tecnologias podem ser socializadas e utilizadas em prol
da humanidade.
Impacto no
mundo do trabalho
A Primeira
Revolução Industrial trouxe mudanças à sociedade, à economia e até às relações
sociais. “O que está acontecendo neste momento é algo similar ao que aconteceu
no século 18”, diz Cesar Sanson, professor do Departamento de Ciências Sociais,
da UFRN. Sua área é a Sociologia do Trabalho, onde estuda os impactos na
estrutura ocupacional. “Nós estamos vivendo uma revolução extremamente
profunda, extremamente radical, que está deixando para trás um mundo que não
retornará mais”, complementa.
O professor
acredita que esta revolução tem duas possibilidades de caminhos: um promissor e
exuberante; e outro potencialmente perigoso. “Pode-se abrir uma janela para um
mundo melhor, onde há perspectiva de inclusão social, de distribuição de renda,
de superação da desigualdade social. Mas também, pode-se abrir outra, onde
todos esses problemas citados se aprofundem ainda mais, caso as tecnologias da
quarta revolução caiam na hegemonia de interesse do mercado, que tem esse
indicativo na atualidade, podendo correr o risco de aprofundar desigualdades
sociais e concentração de renda”, explica Sanson.
Com o
crescimento das tecnologias e a substituição da mão de obra humana, as empresas
não precisam mais pagar um salário para uma pessoa. “O dinheiro que anteriormente
era revertido em salários para os trabalhadores e à geração de empregos, está
indo pro mercado financeiro. A lógica atual das inovações tecnológicas está
sendo apropriada na perspectiva de aumento de produtividade das empresas, sem
retorno pra sociedade”, explica Cesar. Para exemplificar, uma profissão que
atualmente está perdendo forças é a de cobrador, substituída por catracas
eletrônicas.
Em países
como a Argentina foi praticamente abolida. Lá, utiliza-se um cartão, o Sistema
Único de Boleto Electrônico, conhecido popularmente como SUBE, o qual você
recarrega e pode andar em ônibus, metrô e trem, sendo uma solução para a falta
da circulação de moedas no país. Em Buenos Aires, desde 2016, é a única forma
para realizar pagamento nos serviços de transporte público. “Será que há
necessidade de eliminar empregos em todas as áreas só porque é tecnologicamente
bom? Essas pessoas que não tem qualificação, vão trabalhar onde?”, questiona o
professor. “Essa é a diferença dessa revolução com a anterior. A anterior,
empregou massivamente as pessoas, ela necessitou de muita mão de obra. A
novidade dessa revolução é essa: aumenta a produtividade, mas diminui os postos
de trabalho. Essa é uma questão que o capitalismo vai ter que resolver, afinal,
empregar as pessoas é uma forma de distribuir renda”, finaliza Sanson.
Não há como
prever qual será a escolha, entre o caminho promissor ou perigoso, de uma forma
definitiva, isso é algo que será visto com o tempo. Tudo está acontecendo aqui
e agora, e de uma coisa temos certeza: o futuro não está tão distante assim,
ele já está aqui.
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