Uma jovem de
apenas quinze, dezesseis anos. A menina-moça que saiu de seu doce lar para uma
vida de trabalho em uma localidade desconhecida e rural, fora da cidade.
Trabalho que dignifica as pessoas por sua importância na vida: alfabetização de
crianças. Foi assim que Alzira Tavares de Araújo deu seus primeiros passos,
enfrentando a vida como professora para ensinar no sítio Umbuzeiro, distante
quase trinta quilômetros da casa de seus pais Severino e Luzia Tavares de
Araújo, em Caicó.
Quanta
energia e vontade de vencer dessa professorinha pesando menos de 40 quilos,
conforme ela mesma relembra, quando chegou para as primeiras aulas e que alguns
até duvidaram de sua capacidade, comprovada em pouco tempo, se orgulha de
dizer. Ela foi contratada por Francisco Pereira, “Chico Francês”, para ensinar
na casa dele.
Aliás, tempo
foi o que nunca faltou para provar a tenacidade dessa mulher para sua época,
herdada da mãe Luzia, outra mulher de firmeza e coragem para o trabalho, ao
lado do companheiro, ajudava o marido Severino na fabricação de chapéu de
couro, pioneiros na cidade de Caicó, embora vindos da Paraíba, de São Mamede,
terra natal também dos irmãos Antônio e Francisco Tavares, menos Antenor que
veio na barriga da mãe e nasceu potiguar nos últimos meses de 1932.
Amparados
pelo desempenho caprichoso dos pais, educando os filhos nos melhores colégios
da nova cidade, a filha Alzira fez seus estudos no Grupo Escolar Senador Guerra
e no Educandário Santa Teresinha, saindo preparada para o ofício que a
esperava.
Determinação,
perseverança, altivez, nunca lhe faltaram. Tanto que aos 18 anos estava casada
com Pedro Salviano de Araújo, 22 anos mais velho do que a professorinha do
lugar, onde o conheceu em suas visitas temporárias à terrinha, vez que
comercializava burro-mulo para usinas de cana-de-açúcar, em Pernambuco,
negócios do primo Manoel Antônio do Umbuzeiro.
Casada, dona
de casa, decidiu continuar ensinando e foi aconselhada a oficializar a escola
na Prefeitura, sendo a primeira professora e primeira escola isolada municipal
da região, localizada no Umbuzeiro, em Caicó. Com os filhos que nasciam,
aumentando a prole, resolveu se afastar e entregar a escola que ainda resiste
nestes mais de 70 anos. No entanto, na
década de 1970, quase trinta anos depois, voltou a ensinar, dessa vez na
alfabetização de adultos do Mobral, experiência que ela afirma ter lhe dado
muito prazer.
E mais
trabalho na queijeira ao lado do marido, época de escassez na vida do campo com
os sete filhos estudando na cidade. Graças aos esforços e incentivos dos dois,
todos os filhos concluíram seus estudos, alguns alcançando a universidade, fato
marcante para uma época em que apenas 1% da população do país conseguia se
formar em uma faculdade.
São exemplos
que têm marcados os sete filhos e são espelhos para os 14 netos e 14 bisnetos, 1
bem pertinho de chegar.
Exemplo de
vida simples, porém, comprometido com a verdade, honestidade, respeito,
caridade, e tudo resulta no que foi vivenciado nos 33 anos na companhia do
marido Pedro Salviano, desde a escolinha isolada. Zelo com a família e com os
que estavam por perto.
De todas as
suas preocupações, a hora da refeição talvez seja a maior de todas. Quem sabe
não seja um trauma da infância, a mãe ocupada no trabalho da oficina de
chapéus, regrava na alimentação, educando e valorizando a ordem, a
disciplina.
Preocupação
que não se restringe à família, mas a todos ao seu redor, desde a época da
convivência rural. É tanto que seu cardápio continua ainda na Fazenda, que o
diga os carões dos médicos que lhe acompanham na atualidade.
Atualidade
que já se vão quase 38 anos de viuvez, embora na companhia dos filhos, netos e
agora bisnetos, sobrinhos, os irmãos Antenor e Chico, das pessoas queridas e
amigos.
Aliás,
amigas. Porque foram Comadre Amália e Severina Melada suas verdadeiras amigas,
desde a menina-moça desconhecida e “da rua” que se apoderava na terra
estrangeira, com especial carinho para Comadre Amália, praticamente da mesma
idade e confidentes por longas e longas datas.
Tristeza por
ter perdido as amigas, já juntas do Pai Eterno. Aflição, também, pela
enfermidade da filha Sônia, que se contenta visitá-la todas as tardes de
domingo. Quer chova ou faça sol!
Outra pessoa
especial na vida de Alzira Tavares é Maria Helena. Sempre a recebeu com carinho
em Brasília, em suas viagens à capital federal na casa do irmão Chico Tavares.
Nos últimos anos, também enferma, mora em Porto Alegre na
espera de um transplante de pulmão.
Maria Helena
está longe, mas enviou sua mensagem. “Que maravilha, por tudo que representa.
Pela longevidade da matriarca, exemplo de mulher, uma fortaleza sob todos os
aspectos, como também pela comemoração do filho caçula. Meus parabéns e um
abraço bem apertado em ambos. Estarei presente na mente e no coração”, escreveu
no whats app.
Sim, ela
lembrou também do aniversário do filho caçula. Flávio Salviano de Araújo nasceu
na data em que a mãe completara 35 anos, no dia 13 de abril de 1964.
Hoje são 90
anos. Mamãe, quanta energia e vontade de viver! E repito o que já disse nos 80:
“Completar agora nove bem vividas décadas é mais uma bênção para essa
fantástica e corajosa mulher, minha mãe e de meus irmãos: Socorro, Salete,
Sônia, Sueli, Gilberto e Flávio.
Parabéns,
sua decisão prematura, ainda menina-moça, lhe deu oportunidade de crescer e ser
útil para o engrandecimento de todos que viveram e vivem ao seu redor. Que o
Divino Pai Eterno, com a intercessão de Sant’Ana, lhe cubra de bênçãos. Amém!”
● Atualizado com as fotos da celebração de Ação
de Graças pelo Padre Albertino e em seguida confraternização na
churrascaria do restaurante Tábua de Carne, em Capim Macio. Link de acesso.
Parabéns felicidades Alzira adimiri muitos parte desta família guando era criança amo muito a todos um grande abraço. Linda história.
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