TRILHAS POTIGUARES ATRAVESSA O OCEANO
Doze estudantes
e 2 coordenadores cruzam os nove mil quilômetros que separam o Brasil de
Moçambique para aterrissar com o Trilhas Potiguares no continente africano. A
expedição é inédita no âmbito das mais de duas décadas de criação do Programa e
será responsável por planejar e executar atividades compostas por mini-cursos,
oficinas e palestras na cidade de Maxixe, local de uma das unidades da
Universidade Pedagógica da Maxixe, parceira da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN).
Com alunos
de jornalismo, administração, odontologia, educação física, enfermagem,
ciências biológicas, pedagogia, artes e teatro, escolhidos em edital, a
primeira edição do projeto "Trilhas Internacional Brasil/África" será
uma oportunidade para que alunos como Luan Thallyson Dantas de Assis, estudante
do quarto período de enfermagem, desenvolva intervenções de acordo com as
demandas levantadas pela equipe de Moçambique durante as videoconferências
preparatórias.
“Para esse
projeto, adotou-se uma metodologia semelhante à disciplina Saúde e Cidadania,
onde a gente identifica um agravo ou um problema e planeja uma forma de
intervir nestas ocasiões. Porém, isso dentro de uma comunidade que não
conhecemos, exigirá uma forma de pensar e agir diferente, com um novo
raciocínio. A gente vai ser instigado a atuar clinicamente dentro de uma nova
estrutura e nova esfera”, colocou.
Utilizando o
exemplo do plano de ação, Luan destacou que a forma de didática, do ensino, as
crenças e até mesmo o modelo político do país africano influenciam as
proposições que formam o plano. Ele citou educação ambiental, epidemiologia e
malária como temas que receberão exposições especiais. Não por acaso.
Segundo o
Banco Mundial, a malária é a causa de morte mais comum em Moçambique, sendo
responsável por 35% da mortalidade infantil e 29% da população em geral. O
índice de progresso social no acesso a melhores fontes de água e saneamento
classifica Moçambique na 128ª e 119ª posições, respectivamente, num total de
135 países. Na realidade, Moçambique possui um dos mais baixos níveis de
consumo de água em todo o mundo, apesar de dispor de uma grande variedade de
recursos hídricos. Cerca de 70% da sua população de 28 milhões de pessoas vive
e trabalha em áreas rurais, justamente espaços onde as equipes realizarão
intervenções. As condições, portanto, são propícias à incidência de epidemias.
Segundo o estudante de enfermagem, a ideia é apresentar novas maneiras de
prevenção.
Em ebulição,
saberes populares e científicos serão assimilados pelos integrantes da equipe,
a partir de contatos com a população moçambicana e com os alunos da
universidade. Autoreferindo-se como alguém que “nunca saiu das fronteiras do
Nordeste”, Ayrthon Weslley Vitorino de Medeiros, estudante do décimo semestre
do curso de ciências biológicas, pretende assimilar esses saberes.
“Em relação
ao aspecto profissional, é um diferencial gigantesco, sobretudo na prática:
poder colocar o que você aprendeu aqui em outro lugar do mundo. Imagine, se o
Trilhas aqui no Estado já tem uma dissonância tão grande de realidade, de
cultura, fico imaginando o que vamos nos deparar em termos de atitudes, crenças
e culinária. É uma experiência de vanguarda, pois em mais de 20 anos de Trilhas
Potiguares e quase 60 de UFRN, é a primeira ação de extensão internacional.
Penso que a nossa experiência sedimente o futuro internacional do programa.
Espero colocar uma bandeira e deixar uma semente nas comunidades”.
Apesar da
existência de dialetos, o país tem a língua portuguesa como a oficial, em
virtude da colonização portuguesa. O domínio de Portugal só foi suplantado em
1975, o que nos leva a uma curiosidade: embora por pouco tempo, Moçambique foi
governado pelo Brasil, na condição de país-sede do Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarves, durante o século XIX. Neste período, a então vila de
Moçambique foi elevada à condição de Cidade, no ano de 1818.
De coração
aberto
“Eu aprendi
que a gente tem que viajar pro Trilhas de coração aberto. Deixar aberto para
que possamos absorver ao máximo o que o momento vai proporcionar”. Assim Rita
de Cássia Lira da Silva, aluna do nono semestre de enfermagem, iniciou a
conversa. Ela, a exemplo de Luan e Ayrthon, nunca saiu do Brasil e sustenta que
esse período propiciará melhores formas de agir com os pacientes. “A
participação no Trilhas é retornar um pouco a oportunidade de devolver à
sociedade, de maneira aplicada, o que a UFRN nos dá: conhecimento. É um
aprendizado constante”, conclui.
A troca de
saberes é um dos aspectos realçados pelo pró-reitor adjunto de Extensão, Breno
Cabral, ao sustentar que a singularidade da experiência para os envolvidos, a
partir do mergulho em uma realidade diferente, assinala uma etapa distinta da
atuação deles e da Universidade. “As ações serão realizadas durante oito dias
em comunidades de Moçambique, com os participantes imersos em uma cultura
diferente, em um intercâmbio que, sem sombra de dúvidas, marca de forma
profunda a formação desses estudantes e da própria comunidade”.
As
atividades do grupo nas comunidades acontecem entre os dias 30 de outubro e 2
de novembro, embora a expedição termine apenas no dia 3 de novembro, momento em
que os integrantes do grupo participam da Conferência Internacional sobre
Personalismo, promovida pela Universidade Pedagógica de Moçambique.
Segundo
Breno Cabral, a necessidade de expandir a extensão universitária foi o que os
moveu para viabilizar a iniciativa. Ele pontuou que a ação trará benefícios
para a sociedade de Moçambique, com conhecimentos e experiências levados pelos
brasileiros, a serem aplicados com grande potencial de sustentabilidade. “Além
disso, a sociedade potiguar ganhará também, no momento em que nossos alunos
serão multiplicadores de novas culturas e saberes que poderão ser colocados em
prática em nossa sociedade de alguma forma. Não bastasse,vamos buscar ajudar
comunidades menos favorecidas e que possam nos trazer o conhecimento de novas
culturas em sociedades diferentes”. [ Por
ASCOM – Reitoria/UFRN]
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