Por
João Bosco de Araújo
foto acervo família/1975 |
Não tenho
mais idade de ficar pendurado nos braços de meu pai. Também pudera, ele não
vive mais neste mundo de mortais. Mas vivo pendurado nas suas recordações! Quem
mandou ser um paizão? Dos sete filhos que deixou, sei da possibilidade de ter
contraído outros sete, vezes sete por onde andou em terras pernambucanas e
caminhos deste sertão, montado em lombo de burro durante vinte anos.
Não tenho as
provas, só as trovas. Parou aos 40, perto dos anos 1950, recomeçando vida nova
no torrão onde nasceu, para nunca mais sair. Seu pedaço de terra no Umbuzeiro
era um todo de sua vivência, em pleno sertão caicoense.
Não sei se
por eu ter os seu traços – mais do que os outros filhos –, ele me
reservava atenção especial, que me regozija a manter essa afinidade infinita.
Cumplicidade de pai e filho. Revelava-me, sabiamente, laços de seus ancestrais,
suas andanças, esperanças; apontava caminhos de retidão, labutas, crenças,
desavenças, paixões. Que pensamento poderia frasear: “O Brasil é grande, o
mundo é pequeno!”
Pai só se
tem uma vez. E tem que viver como muita paixão. Emoção que um dia transcrevi,
rabiscando numa folha de caderno e anotei:
“Travessa Travessia”
Travessando a porteira eu cantei/ Sorri,
brinquei, chorei/
Travessando a fronteira eu rezei/ Senti,
pensei, estudei/
Travessando a ponte.../ Eu não sei. /
Faz pouco tempo que eu cheguei/
Ainda não sei como se foi/
É tanto tempo que passei/
Distante daquele que me pôs.
Um dia, na
mais pura sabedoria e inocência de uma criancinha eu também tive a bênção de
ser pai. Aos dois aninhos de idade Maria Fernanda me adota como pai, seu pai de
fé, de verdade, de comunhão. Pai de todas as glórias.
A exemplo de
meu velho e amigo pai Pedro Salviano de Araújo, de tantas vidas por mim e a
seus outros filhos, meus irmãos, dedicou com afinco, sem limites, sem
restrições, na certeza do dever cumprido nesta terra como pai.
Um “pai
d’égua”, no melhor sentido da palavra.
E que Deus
abençoe a todos os pais, de todas as terras. Amém!
- Texto original de outras publicações em
2009, nos 102 anos de nascimento do pai Pedro Salviano de Araújo e 28 de sua
morte.
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