Dos maiores
intelectuais
Por Fernando
Antonio Bezerra
Orador destacado e articulador
competente |
Do Seridó de
todos os tempos um nome ainda é lembrado dentre os maiores intelectuais: José
Gonçalves de Medeiros. Acariense, filho de Mário Gonçalves de Medeiros e de
Porfíria Pires de Medeiros, nasceu no dia 18 de dezembro de 1919. Faleceu
precocemente. Estava na comitiva do Governador Dix-Sept Rosado quando houve o
acidente aéreo, na data histórica de 12 de julho de 1951, no Estado de Sergipe.
A trajetória
de José Gonçalves é, mais ou menos, a seguinte: nasceu em Acari e, por lá, as
primeiras letras; foi para Natal estudar no Seminário São Pedro e, depois no
Atheneu. Seguiu para Recife onde se tornou Bacharel em Direito. Voltou para
Natal onde ocupou vários cargos, inclusive, eletivos e de chefia. Em tudo, leu
e escreveu; foi orador destacado e articulador competente; foi um bom boêmio na
juventude e na companhia dos amigos cantou serenatas e declamou poesias. Estava
à frente de seu tempo, no convívio, nas letras e na política. Câmara Cascudo,
um de seus professores, logo após sua morte, avaliou: “O jornalista, o poeta, o
boêmio, o amigo jubiloso, recebeu maior número de artigos, crônicas, poemas e
saudades que o próprio Governador sacrificado na destinação de uma vida de
esforço e de entusiasmo.”
Outros
intelectuais falaram sobre José Gonçalves. Lenine Pinto, inclusive, chegou a
organizar uma coletânea de artigos escritos por ele e comentou: “José Gonçalves
de Medeiros era, disparado, o maior talento norte-rio-grandense de sua geração,
talvez de todo o Século XX, aí incluídas aquelas figuras de beletristas
renomados a que ele intitulava de “protonotários”. Seus conhecimentos abarcavam
um leque de várias manifestações da inteligência e da sensibilidade, não apenas
literárias.”
O escritor
Jurandyr Navarro, também contemporâneo de José Gonçalves em "Os
oradores" lembrou alguns episódios que realçam sua verve, dentre as quais,
um trecho do famoso discurso em Recife, por ocasião da histórica morte do
estudante Demócrito de Souza Filho: "A tua e a nossa arma maior sempre foi
a palavra. Palavra de amor à liberdade, de combate à tirania; palavra de crença
no clamor dos oprimidos". E então indagava: "Por que então
metralharam-na: a tua vida e a nossa palavra? Talvez eles não creiam que o
grito dos injustiçados repercute no coração de Deus, no mais íntimo do seu
grande e onisciente coração".
Demócrito de
Souza Filho foi assassinado num comício em Recife, na interventoria de Agamenon
Magalhães. Os tiros eram endereçados a Gilberto Freire, amigo de José
Gonçalves, mas atingiram Demócrito. José Gonçalves também estava presente no
citado episódio do ano de 1945 que, por sua vez, entrou na história da luta
pela liberdade no País, no combate contra a ditadura liderada por Getúlio
Vargas.
Concluído o
curso de Direito em Recife, José Gonçalves voltou para Natal e logo se elegeu
Deputado Estadual. Foi, inclusive, constituinte em 1947 no âmbito da Assembleia
Legislativa. Aqui, como político, gestor, intelectual, atuou profundamente em
uma época e seria, certamente, um dos grandes líderes do Rio Grande do Norte,
com a marca Seridó firmada no peito e no caráter, se a morte não tivesse
chegado tão cedo em sua vida. Aliás, é dele o poema “Despedida do Pássaro
Morto”, peça quase premonitória, escrito antes do fatídico acidente, que se
tornou uma das mais belas manifestações inseridas no acervo poético do Rio
Grande do Norte:
O voo também é sensualidade
Estremeço e vibração de pássaro
Que possui e penetra o espaço.
E era como se possuísse e penetrasse a alma do tempo.
Se eu morrer como um pássaro
Deixo aos que me amaram, aos que
me quiseram e me gostaram, como eu
era, o meu sempre displicente adeus.
Estou compreendendo que se morrer num voo
antes de tocar a terra do mundo, serei como
a pena do pássaro ferido de morte.
Serei um pássaro de fogo que vem do céu
para repousar no seu ninho de areia.
Chorem, bebam, dancem, riam, passeiem,
pela alma do amigo que não foi pássaro
mas morreu
como eles.
*Fernando Antonio Bezerra é potiguar do
Seridó/ com post no Bar de Ferreirinha
Hoje 12/7/24 ( 73 anos de SUA PARTIDA inesperada aos 31 anos ..PERDA IRREPARÁVEL E INESQUECÍVEL ( pra toda família PIRES E GONÇALVES DE MEDEIROS
ResponderExcluirSEU ESPÍRITO DESCANSE NA LUZ ETERNA …Na certeza da ressurreição prometida por JESUS CRISTO…
ResponderExcluirUm grande homem que deixou saudades à todos, desceu ao chão numa bola de fogo. Não conheceu seu filho caçula, pois no ocorrido desastre, sua esposa Hilda "minha tia" estava grávida de sete meses.
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