FILMES QUE NÃO ESQUECI
Por Bené
Chaves*
Foto acervo/divulgação |
Os filmes
que a gente nunca esquece – na maioria das vezes - eu acho que são justamente
aqueles de valores artísticos indiscutíveis. Mas, existem também os de valores
estimados e que marcaram nossas vidas por um fato ou outro. Mesmo que não sejam
assinalados pela excepcionalidade.
É o caso
aqui de, por exemplo, ‘Férias de Amor’, de Joshua Logan e que vi pela primeira
vez - no dia 3 de dezembro de 1957 - no sempre saudoso cine Rex. E que, aliás,
é um bom filme. Assisti ainda na pré-adolescência e deixou em mim um sinal de
carinho na minha quase meninice. Eu tinha na época uns 13 anos e a atriz
principal (Kim Novak) me encantou com sua beleza deslumbrante. E, daí por
diante, não mais o esqueci, nem o filme e nem a atriz, claro.
E quem
poderia esquecer-se de ‘Tempos Modernos’ do genial Charles Chaplin e que vi no
cine Rex no finzinho de 1958?
Outros
exemplos poderiam ser citados como ‘Amor na Tarde’, com a delicada Audrey
Hepburn e a boa direção de Billy Wilder, filme que vi em 18 de abril de 1959 no,
então, cine Nordeste; depois poderia citar ‘Por ternura também se mata’, do
René Clair, exibido aqui em Natal em julho de 1959, no cinema Rex e que, na
época, me deixou uma boa impressão; também citarei e não esquecerei ‘Um rosto
na multidão’, do Elia Kazan, ‘Depois do vendaval’(um Ford delicioso), ‘Um corpo
que cai’(novamente com a deslumbrante Kim Novak, aqui em papel duplo- loira e
morena) e ‘O príncipe e a parisiense’, com a estonteante Brigitte Bardot e que
inaugurou o cinema Nordeste em dezembro de 1958. E miss Bardot viria ‘arrepiar’
novamente em ‘...E Deus criou a mulher’, onde ela exibiu o seu dom fascinante e excitou a nossa libido
de jovem mancebo.
Foram filmes
que não esqueci porquanto também iniciava na chamada ‘sétima-arte’ e estava na
adolescência, idade-chave para alumbramentos e coisa e tal.
Mais tarde
vi ‘A marca da maldade’, um Welles fabuloso, assim como ‘Rastros de ódio’,
outra obra-prima de John Ford. Não poderei esquecer também de ‘Hiroshima meu
amor’, o excepcional filme de Alain Resnais, assim como ‘A Doce Vida’, do
mestre Federico Fellini. Nesse entremeio poderia citar ‘Quero viver’(1958), que
vi em novembro de 1961 no cine Nordeste e também ‘Brinquedo proibido’, do René
Clement, visto em abril de 1962 no mesmo cinema, além de ‘O encouraçado Potemkin’(1925),
marco maior do então cinema soviético.
Sem falar,
claro, de como vi ‘O martírio do silêncio’(Mackendrik, 1952) no dia 13 de
outubro de 1961 no cine São Pedro, o único filme que assisti naquela outrora
casa de exibições. Como não lembrar o encantamento que o mesmo trouxe para mim?
E poderia esquecer o belo final de ‘Os brutos também amam/Shane’ que assisti em
17 de abril de 1962 no Rio Grande?
E como
deixar cair no esquecimento ‘Rocco e seus irmãos’, do Luchino Visconti, que o
cine Nordeste exibiu em junho de 1963?E de como fomos assistir (juntamente com
os saudosos Moacy Cirne e Berilo Wanderley) a ‘O Processo’, de Orson Welles, no
Recife, quase no final do mesmo ano? E de também ‘Clamor do sexo’ no mesmo período?
É claro que não poderei esquecer-me da atriz Jean Seberg andando e vendendo
jornais nas ruas de Paris em ‘Acossado’, do polêmico Jean-Luc Godard. Assim
como também da incrível panorâmica de carros enfileirados (em ‘Week-end à
francesa’, do mesmo Godard) que se prolonga por uns sete minutos com a câmera
lentamente mostrando seu desfecho trágico. Aqui a radicalidade atingindo o
clímax.
E do
emblemático ‘No tempo das diligências’ no Cine Clube Tirol, em janeiro de 1964?
E do otimismo de ‘A felicidade não se compra’, quem poderia esquecer? E do
melhor Truffaut em ‘Jules e Jim’ com a fascinante Jeanne Moreau? Não poderei
esquecer também de ‘A Aventura’, do Antonioni, assim como não esquecerei ‘Deus
e o Diabo na terra do sol’, o melhor Glauber Rocha e de ‘Vidas Secas’, o melhor
Nelson P. dos Santos. E do melhor Fritz Lang em ‘M, o vampiro de Dusseldorf’,
quem poderia esquecer?
Como
esquecer ‘Amor sublime amor’, que vi pela primeira vez no cine Panorama em
março de 1967? E de ‘Cidadão Kane’, que vi no dia 9 de abril do mesmo ano? Não
poderia esquecer nunca ‘Oito e meio’, o melhor trabalho de Fellini. E ‘O anjo
exterminador’, de Buñuel, também sua obra máxima. E também não poderia esquecer
‘Persona’, a obra-prima de Ingmar Bergman, assim como ‘2001: uma odisséia no
espaço’, do Stanley Kubrick. E o que dizer de ‘O ano passado em Marienbad’, que
vi pela primeira vez (na Aliança Francesa) em setembro de 1967? Sempre me
lembrarei, claro.
E ‘Luzes de
cidade’, do genial Chaplin, quem poderia esquecer? E ‘Meu Tio’, outra comédia
excelente do Jacques Tati, você esqueceria?
Outra fita importante e que não esquecerei: ‘O último Tango em Paris’,
que depois de proibida pela Censura formou uma gigantesca fila no cine Nordeste
em janeiro de 1980. E ‘Cantando na chuva’, com o genial Gene Kelly, eu não
poderia jamais esquecer.
Como não
lembrar sempre de ‘Desencanto’, a obra-prima de David Lean? E de ‘Terra Prometida’, de polonês Wajda, que
vi no saudoso Rio Grande (hoje transformado, infelizmente, em um ‘palco do
horror’) em outubro de 1982? E de ‘Mephisto’(que vi em janeiro de 1984 no Rio
de Janeiro e revi aqui em Natal em DVD) e de ‘Despair – uma viagem para a luz’,
do Fassbinder e com uma performance excepcional do Dirk Bogarde? Aliás, incluo
também ‘O criado’, do Losey, em outra criação fantástica do Bogarde.
Enquanto
vida tiver, obviamente, me lembrarei de ‘1900’, do Bertolucci e que retrata
toda a história do fascismo no Itália, assim como de ‘O Baile’, mostrando (sem
diálogos) quatro décadas da vida política e social na França. E de ‘Aurora /
Sunrise’, como esquecer? Feito em 1927 o filme de Murnau revela, entre outros
fatos, de como o amor e o ódio andam juntos dos seres que se dizem humanos.
Não posso me
esquecer de ‘O Poderoso Chefão’(1972), uma aula de cinematografia dada pelo
Francis Ford Coppola. E nem de ‘Morte em Veneza’, outro belo filme que o
Visconti realizou em 1971. Também não esquecerei ‘A dupla vida de Veronique’,
admirável fita do polonês Krzysztof Kieslowski. E também não posso deixar sair
da memória as belas e fortes cenas de ‘O martírio de Joana D’Arc’, do Dreyer. E
como ignorar ‘A regra do jogo’, do Renoir? Poderei esquecer ‘Crepúsculo dos
Deuses’, o magnífico filme do Wilder? E de Eric Rohmer, cineasta que só vim a
conhecer em DVD, como esquecer grande parte de seus filmes (entre eles ‘Conto
de Verão’, ‘Amor à Tarde’ e ‘Minha noite com ela’) - especialmente os da série
‘os contos das quatro estações’ – com belos relatos de amor e desamor?
E como
esquecer o belo e apocalíptico ‘O Cavalo de Turim’, produção de 2011 do
cineasta húngaro Béla Tarr e que vi bem recentemente? Na continuidade irei ver
outros filmes deste diretor, acredito que sim.
É certo que
faltaram algumas outras fitas inesquecíveis...
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