Tomislav R. Femenick*
Contador; autor do livro “Para aprender economia”.
Nos anos 1970 se iniciou
uma ação, mais que um movimento teórico, de redução da intervenção do Estado na
economia e ampliação da liberdade das pessoas; de revitalização do liberalismo
econômico e político. Aconteceu primeiro nos países capitalistas desenvolvidos;
depois por quase todo o mundo. Os principais condutores desse movimento foram
Margaret Thatcher, na Grã- Bretanha, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos.
Primeira-ministra da
Inglaterra de 1979 a 1990, Thatcher vendeu a particulares o controle que o
governo britânico mantinha de algumas empresas – indústrias, mineradoras e
prestadoras de serviços –, cortou gastos públicos, proibiu o aumento dos preços
dos serviços governamentais e enfrentou o poder dos sindicatos, principalmente
dos mineiros de carvão. Tudo isso resultou na redução da inflação e, por um
período inicial, um crescimento da taxa de desemprego. Politicamente teve uma
ação drástica contra as esquerdas locais e combateu duramente os países de
governo comunista. Em 160 anos, foi o único primeiro-ministro a permanecer no
cargo por três mandados consecutivos e, ainda, elegeu seu substituto, John
Major, do seu partido, o Conservador. Major exerceu as funções por sete anos,
cedendo o lugar para um membro do Partido Trabalhista, de esquerda, Tony Blair,
que, curiosamente, mantém a política liberal de Margaret Thatcher inalterada em
seus princípios básicos (Femenick, 1998).
Ao assumir seu segundo
mandado, em 1983, a dama de ferro disse em seu discurso perante o parlamento
britânico: “Um dos grandes debates de nosso tempo é saber quanto do seu
dinheiro deve ser gasto pelo governo e quanto dele você deve usar nos gastos
com sua família. Nunca nos esqueçamos dessa verdade fundamental: o Estado [o
governo] não tem outra fonte de receita que não o dinheiro ganho pelo próprio
cidadão. Se o Estado deseja gastar mais, só pode fazê-lo se tomar emprestado de
sua poupança ou lhe cobrar mais impostos. Não é lógico pensar que outro alguém
vai pagar – esse outro alguém é você. Não existe essa coisa de dinheiro
público; existe apenas o dinheiro do contribuinte. A prosperidade não virá com
programas de despesas públicas mais gordas. [...] Nenhuma nação prosperou ao
taxar seus cidadãos além da capacidade de pagamento deles. Temos o dever de nos
certificar de que cada centavo obtido com tributos seja gasto sabidamente e
bem” (Veja, 2015).
No Brasil dos últimos
anos, a lógica tem sido outra. Enquanto os tributos beiram a 40% da toda a
renda nacional, o governo gasta como se tivesse fonte própria de recursos e
como se esses recursos fossem ilimitados. Nesse quesito, os governos federal,
estaduais e municipais (com poucas exceções) são estroinas, levianos,
irresponsáveis e desajuizados – criam cargos, dão fartos aumentos para certas
castas de funcionários públicos e se esquecem de segmentos fundamentais como os
professores, por exemplos. O perigo dessas despesas é que elas permanecem pelos
anos futuros. Por outro lado, lançam programas e obras públicas em atacado e a granel.
Mas a conta chegou. O
governo federal está atrasando o pagamento das verbas orçamentárias para
estados e municípios. O resultado é perverso para o cidadão: as obras estão
paradas no meio do caminho e a educação, a saúde, a segurança pública e outros
serviços estão em níveis cada vez piores. Quem sai perdendo é o cidadão, o
pagador de impostos.
Mas grave ainda é o
reflexo dessa improbidade na iniciativa privada. Custos cada vez mais altos,
mercado cada vez menor e desemprego cada vez maior. Sim, o desemprego é um
grande problema para os empresários. Eles têm que mandar embora quadros
técnicos que custaram muito dinheiro para serem formados, além de que quanto
menor for o número de empregados, menor será a produção, menor será o volume
das vendas, menor será o lucro.
Para fugir do desemprego
e dos salários contingenciados, criou-se no país um cenário que bem representa
a falta de confiança na economia; todos querem receber algo do governo. Os mais
pobres querem recebem a bolsa família, os jovens da classe média sonham em
passar em algum concurso e assumir um emprego público e os empresários querem
ser premiados com um financiamento do BNDES com juros magrinhos e a perder de
vista.
Para completar o quadro
deveras dantesco, o ministro da Fazenda, o Sr. Joaquim Levy, defende o aumento
dos impostos, como meio do governo sair da crise que ele mesmo, o governo,
criou.
*Com publicação na Tribuna do Norte
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