Por Flávio Rezende*
Hoje é feriado no Brasil
e estou curtindo preguiça em família, com a pequena Mel aperreando a mais nova
componente da casa, uma cadelinha chamada Chica Linda Donzela, enquanto Gabriel
festeja a formatura da mãe.
Nesta preguiça ociosa ou
até criativa, tenho um tempinho para ler umas coisas e outras do mundo virtual.
Um dos textos foi de um crítico de TV, baixando o pau no programa de Regina
Casé, dizendo que o mesmo é racista, pois só mostra negros e pardos e que eles
só aparecem de maneira estereotipada e que essa exposição leva o telespectador
da periferia a achar legal usar shortinhos curtos, óculos espelhados, entre
outros babados citados.
Se tiver tempo volto
para ver os comentários no futuro e certamente, muitos vão defender o programa,
dizendo que é dos poucos espaços para estes seres que gostam destas coisas e
que a periferia nunca tem vez e que quando tem, aparece alguém para achar ruim
e coisa e tal.
O que quero dizer neste
meu “escrito” é que todos que se expõem na mídia em geral, emitindo opinião,
correm o risco de contestação e até de linchamento moral, sendo este fato
absolutamente aceitável, só tirando alguns excessos cometidos por radicais de
áreas religiosas, políticas, futebolísticas, raciais, educacionais, enfim, de
quase todos os setores da sociedade.
Diante do intenso e
generalizado patrulhamento ideológico e das reações muito agressivas de ambos
os lados em todos os ângulos das discussões atuais, confesso que às vezes dá
vontade de não escrever mais assuntos polêmicos e nem ficar postando minhas
opiniões nas mídias sociais.
Ao mesmo tempo em que é
prazeroso o diálogo fraterno e o confronto sadio dos argumentos, às vezes é
cansativo, pois quase ninguém muda de posição ou aceita um milímetro do
pensamento alheio, tornando os fóruns mais ringues que escolas.
Lembro ainda o fato de
que a verdade não é absoluta, ela é relativa e camaleônica, pois se não temos
certeza de quase nada e no decorrer de nossa existência terrena muitas coisas
mudaram em todas as áreas, quem arrisca seguir a risca, o que seja?
Encerro reproduzindo uma
mensagem do educador e mestre espiritual indiano Sathya Sai Baba, que diz: “Não
entrem em discussões e disputas; aquele que clama em voz alta não compreendeu a
verdade, acreditem! O silêncio é a única linguagem do realizado. Pratiquem
moderação no discurso; isso os ajudará de muitas maneiras. Isso desenvolverá
Prema (amor), pois a maioria dos mal-entendidos e facções surge de palavras
faladas descuidadamente. Quando o pé escorrega, a ferida pode ser curada; mas
quando a língua escorrega, a ferida provocada no coração do outro se inflamará
por toda vida. A língua é susceptível a quatro grandes erros: proferir
falsidade, escandalizar, encontrar defeitos nos outros e conversa excessiva.
Estes devem ser evitados para se haver paz para o indivíduo e a sociedade. O
vínculo de fraternidade será mais estreito se as pessoas falarem menos e
docemente. É por isso que o silêncio (Mounam) foi prescrito pelas escrituras
como um voto aos aspirantes espirituais. Como aspirantes espirituais em vários
estágios de estrada, esta disciplina lhes será muito valiosa.”
Diante de algumas
reações muito ásperas e de alguns problemas pessoais que estou tendo por expor
posições políticas, principalmente no campo da obtenção de apoios que antes
tinha para coisas que tento continuar fazendo, começo a refletir sobre a
importância do silêncio, mas ao mesmo tempo não suporto o teclado parado, a
tela vazia, o texto morto, por isso serei dúbio, às vezes me expressarei, às
vezes me calarei, seguindo William James, "o exercício do silêncio é tão
importante quanto à prática da palavra", afinal Sêneca já dizia, “ do
homem eminente podemos aprender, mesmo quando se mantém em silêncio. "
*É escritor, jornalista e ativista social em Natal
/RN (escritorflaviorezende@gmail.com
0 comentários:
Postar um comentário