Por Flavio Rezende*
Tendo como gancho um
congresso espírita utilizei serviços de uma agencia de turismo e de férias do
trabalho, direcionei meu corpo e minha mente para breve estada em Asunción, no
Paraguai.
Da mesma maneira que
procedo em quase todas as viagens que realizo sozinho, utilizo o transporte
comum como ônibus de linha, eventualmente um taxi ou metrô e muitas caminhadas,
para ir curtindo o cotidiano dos cantos e recantos que visito, jogando olhar
para as pessoas, os prédios, ruas, parques e, eventos culturais que minha
situação financeira possa alcançar.
Em Asunción tive a
oportunidade de ir por duas noites para um festival internacional de jazz,
podendo relembrar este estilo musical tão rico e emoldurar minha presença no
evento com pensamentos elevados do quanto é importante incorporar a nosso
cotidiano, ritmos que possibilitam satisfação interior, como é o caso do jazz.
A lição que reforcei
dentro do meu ser foi a de que a música precisa estar cada vez mais presente em
vários momentos de nossa existência, ou seja, no ambiente de trabalho, nas
relações familiares, nas comemorações de uma maneira geral e, em sendo uma
melodia que promova o engrandecimento pessoal, agregará sublimado valor
tornando tudo mais divino e maravilhoso.
No congresso espírita,
apesar de ter ido muito pouco, reforcei internamente a necessidade de manter a
conduta do bem, tendo ouvido de uma proeminente autoridade no assunto, relatos
de devotos de Jesus que, mesmo acossados pelo perigo da crença que professavam
em tempos difíceis, eram rochas na fé que seguiam e hoje exemplificam
perseverança em eventos por todo o planeta, sendo considerados os pilares do
universo cristão em que boa parte dos terráqueos esta inserida.
As caminhadas por ruas
paraguaias revelaram muitas outras coisas. Andando por vários países,
percebemos as diferenças econômicas, os costumes, a paciência, a gastronomia,
com uns estando mais avançados nuns aspectos, que por sua vez complicam outros,
existindo ganhos e perdas no ranking de se estar mais ou menos modernos,
digamos assim.
A alta tecnologia, na
medida em que nos insere num novo universo, possibilitando diversões e
ferramentas uteis no trabalho comum, promove nosso isolamento, com ilhas de
seres navegando por universos paralelos, mesmo que fisicamente agregados num
mesmo continente.
Em países onde a
tecnologia não está tão presente ainda, podemos perceber mais ajuntamentos
humanos nos moldes antigos, menos luzinhas acesas e, a certa precariedade em
diversos setores da vida, passa a ter certo charme, vez que a nova sociedade cibernética,
também tem seu lado negativo, principalmente esse de ficarmos individualizados
em meio a coletivos.
No Paraguai ainda não
existem muitos carros e o trânsito flui tranquilamente. Semáforos são raros, as
pessoas ainda tomam a bebida nacional em todo canto, as roupas não exibem
tantas estampas estrangeiras, tudo é meio anos 80, oferta de produtos limitada,
preços baixos, raros turistas, simpatia por todo lado e um lugar onde nos
sentimos seguros.
As opções não são tantas
e até minha cidade Natal do nordeste do Brasil creio ser mais moderna que a
capital Asunción, mesmo assim, sinto que é importante o planeta ter muitos
lugares ainda assim, afinal, essa vida mais ou menos que ainda se pratica na
maior parte do planeta é a vida mais sentida, mais vivida, mais próxima de
certa humanidade em que nos reconhecemos como seres.
No futuro vamos estar
todos nivelados por uma alta tecnologia que vai nos elevar a outro patamar de
existência. Isso terá um preço e ele passa pela relativização da nossa
humanidade. Vamos renunciar a uma parte humana em favor de uma parte máquina.
No futuro, ao voltar a
Asunción, deverei comparar os sentimentos de um humano puro caminhando por uma
cidade ainda discretamente moderna, com um humano híbrido, navegando por uma
metrópole digital.
Hoje sou feliz, amanha
também serei?
*É escritor e jornalista em Natal-RN
(escritorflaviorezende@gmail.com)
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