Por
João Bosco de Araújo
Os caicoenses perderam
terça-feira (27)*, uma figura
folclórica muito querida entre tantas outras que a cidade conheceu nos últimos
oitenta anos. Luiz Teixeira Dantas, seu nome de registro. Evidente que ninguém
vai saber de quem se trata. Porém, ao se pronunciar Sequilhinho, todos logo saberão quem é. Sua voz mansa e carinhosa
soava nas ruas de Caicó, idos atrás. De porta em porta saia oferecendo a venda
de seus biscoitos, os deliciosos sequilhos, feitos de goma de mandioca.
“Olha o sequilhinho, meus
amorzinhos”, gritava baixinho, e satisfeito pela compra aceita, retribuía
sorrindo: “Obrigado, pessoa distinta”.
Sequilhinho era realmente uma pessoa distinta, imune a
malicia de seus semelhantes. Desprovido de posses financeiras, assim mesmo
nunca deixava de participar das festas de rua, sempre bem alinhado, de camisa
bem engomada e calça de linho. Os sapatos, bem engraxados. Às vezes, um pouco
maior da medida do pé, mas não o impedia de dar uns passinhos de dança na praça
da seresta da festa de Sant’Ana.
Sua alegria contagiava a todos,
mesmo nesses últimos tempos com a idade já avançada e com sinais do Mal de
Parkinson. Católico, desfilava vestido de branco na procissão de Sant’Ana e na
Festa de Nossa Senhora do Rosário. Adorava assistir missas. E visitar os
estúdios da rádio Rural para ouvir o locutor anunciar o seu nome.
Sem maldade no coração, feito
uma criança, na madrugada-manhã desta terça, seu coração, cansado, resolveu não
mais bater, parando e calando a voz que os caicoenses acostumaram a ouvir nas
calçadas de suas casas, praças e avenidas: Olha o sequilhinho!
Aos setenta e sete anos, seu
corpo foi sepultado em uma cova de cemitério nesta data de 28 de maio, mês de
Maria, a mãezinha assim como ele a tratava, confiando-lhe na terra a sua
purificação. Que Deus o tenha no Reino da Glória!
Na terra de Sant’Ana, quem não
há de lembrar-se de um doce Sequilhinho?
*Sequilhinho morreu no dia 27 de maio de 2008.
Recordo-me muito bem, ele sempre nos cumprimentando "oi pessoinha distinta" era uma figura digna de ser lembrada.Parabéns, Bosco por nos presentear com esse texto.( Marlene)
ResponderExcluirValeu, Marlene, e obrigado por ter lembrando o "pessoinha", que era a cara e fala dessa figura carinhosa de Caicó.
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