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domingo, 10 de fevereiro de 2013

Um repique de tamborim num sonho de carnaval

Taracutreco, tereco-teco, tantan, turu-tuntun!

 
Por João Bosco de Araújo

Jornalista boscoaraujo@assessorn.com  
 

Teria eu talento para a música? Não sei! Sei que por volta aí de uns oito anos de idade comecei a tocar tamborim. Quer saber como? Foi nessa época, já morando na rua (não nos canteiros) para as primeiras lições na escola de Dona Marizene, passando para a Escola de Aplicação de Caicó, no Instituto de Educação, que os meninos coleguinhas rimavam cantarolando “entra burro e sai ladrão” (Inaugurado em 1960 pelo governador Dinarte Mariz, o prédio ainda cheirava a novo), que me descobri um percussionista se bem que nem seria esse o termo certo, pois menino brincava de puxar carrinho, jogar bola, biloca, pião, pular, rabugem, barra-bandeira e outro montão de brincadeiras, dependendo do período do ano e das férias.

 

O tamborim me apareceu meio por acaso e mais por curiosidade. Meu Tio Antenor Tavares, um carnavalesco autêntico, caicoense, antes de migrar para São Paulo, foi criador de blocos e de uma escola de samba que em companhia de “Chico Pindóba”, Chico Avelino, Miguelzinho (Miguel Elias Filho), “Arroz” (Hortêncio), Charles Garrido, “Zé da Gata” (José Benévolo Filho) e de outros rapazes competiam com a rival “Acadêmicos do Samba”, a escola de samba mais famosa da região, comandada por Manoel de Nenem, sem dúvida, a maior representatividade foliã seridoense de todos os tempos. 

 

E lá estavam o tamborim e outros instrumentos, e até restos de fantasias, encostados, sem a alegria de outrora, num canto de parede da velha oficina de chapéu de couro de meus avós maternos Severino e Luzia Tavares, da rua Augusto Monteiro, parede e meia com a Bodega de Zé Teófilo.

 

Sozinho, me vi no meio da avenida, na cadência de ritmos e vozes que repetiam aos ouvidos: “Balancei a roseira, balancei a roseira e a rosa caiu, ôu, ôu... Rosa tem espinhos, Rosa me traiu...” 

 

Por instantes, estava eu com o tamborim repicando e batucando àquela música que já ouvira no rádio de pilha da sala de visitas, sintonizado na amplitude modulada da Emissora de Educação Rural de Caicó. Pura emoção, uma energia contagiante me envolveu ao perceber que sabia tocar aquele instrumento, tão simples, feito de pedaços de madeira e de couro cru. Idêntica alegria de quando me vi assoviando pela primeira vez uma melodia.

 

Não segui ou persegui a aptidão que me aparecera, precocemente. Fui incompetente de assimilar uma vocação nata. Nos anos seguintes, já adolescente, por falta de condicionamento para a prática da educação física, a escola me ausentava das atividades, me dispensando das aulas e do desfile cívico do 7 de Setembro.

 

Sozinho, me vi obrigado a buscar algo que me compensasse àquela ociosidade. Formei um grupo com os amigos-vizinhos de rua. Cabecinha (William do Hotel Guanabara), meu irmão Gilberto, Galego (Jaciel) e Jurandir (filhos de Maria Cunha), Pedro e Paulo Afonso (filhos de Manoel Dantas), e da outra rua, meu primo Eugênio, Roberto de Anita e outros que não me recordo os nomes, seriam os componentes da bandinha de tambores de lata a tocar nas ruas, todas às noites e por todas as vezes que se aproximavam os ensaios dos alunos dos colégios para o desfile de aniversário da Independência do Brasil.

 

Como algumas escolas possuíam sua própria banda marcial, criativamente me dirigia ao local de consertos dos instrumentos e conseguia restos de couro para a nossa bandinha, pois o tarol  (não mais o tamborim), meu instrumento na banda que fazia o ritmo repicando com duas baquetas e comandava o resto do grupo acompanhado da marcação do bombo, esses teriam que ser necessariamente de couro. A indústria posteriormente aboliu esse produto na fabricação, uma medida ecologicamente correta. Completavam os instrumentos da nossa bandinha, latas e tubos de plásticos (mangueiras) que substituíam as cornetas.  

 

Hoje, é moda reciclar instrumentos e incentivar crianças e adolescentes para a prática da música, uma medida necessária assim como a prática desportiva, de inclusão social.

 

Não tenho e não toco mais o tamborim. Tenho, e toco, as lembranças. Tentando acalentar o sonho de um dia me ver na Sapucaí, no meio de uma bateria. Nem que seja uma bateria de alegria em plena avenida da ilusão. Taracutreco, tereco-teco, tantan, paracumprum, turu-tuntum, tam, turu-tuntum.

 

Olha aí, gente!
 

©2013 www.AssessoRN.com | Jornalista Bosco Araújo
 



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3 comentários:

  1. Parabéns pelo texto! (José Vanilson Julião)

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  2. Parabéns!!!! belas recordações. Brincadeiras sadias e ótimas para o desenvolvimento psicossocial/motor/intelectual para a molecada daquela época. Texto excelente!!!!( Marlene Azevedo)

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  3. Tereco-teco, teco-teco a todos! Grande abraço, boas folias!

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