2 histórias de Abimael Silva
Por Cellina Muniz
HISTÓRIAS DE ABIMALEK (1)
Foto:
divulgação
|
Naquele começo de noite de lua nova, por exemplo, o
tema era de uma convergência bastante interessante: pichação e escola. Essa
história ele narrou no lançamento das “Conferências no Colégio do Atheneu”, o
número 342 da sua coleção João Nicodemos de Lima, num fim de tarde na
Revistaria Atheneu. Ao seu redor, sete
ou oito pessoas (vice-diretor, professora, vereadora e não sei mais quem, além
de Alice N. e do poeta em processo, fiel escudeiro). Ficaram todos calados e
atentos, deleitados com a narrativa do sebista-editor, dinossauro da geração de
primeiros livreiros, último representante de uma classe que remonta ao século
XVIII...
Mas eis a história (como contá-la tentando aquela
narrativa?):
Nos seus tempos de pichador, anos atrás, quando
ainda ensaiava os primeiros passos como sebista, saía anarquizando na sua bike
pelas noites tediosas de domingo na pacata capital potiguar. Carlos Eduardo nem
sonhava em ser prefeito e o boy ganhava certas madrugadas com uma lata de spray
por dentro da camisa, pedalando à cata de muros onde pudesse fazer sua
publicidade e apresentar-se ao mundo natalense:
SEBO VERMELHO: TRANSA FIADO, NO PAU OU FAZ
TROCA-TROCA
Pois numa daquelas noites tediosas, quando começava
na TV o Fantástico, doido para errar,
sacou de sua lata (ou tala, na linguagem dos pichadores) e partiu na sua
magrela. Pedalou da Cidade da Esperança até Petrópolis, quando deu de cara com
o muro da esquina do Atheneu, simplesmente a instituição de ensino de mais
tradição na cidade. Nem é preciso pensar nos nomes de quem passou por lá.
Inclusive o jovem e iniciante sebista à época.
Anos depois do episódio, naquele começo de noite de
lua nova das Conferências reeditadas, todos olharam imediatamente para o muro.
Um muro alto, com três janelões, limpo e ostensivo. Imaginaram, então, como
seria convidativo quando antes das atuais grades no muro da escola.
Depois de pichar sua publicidade, pensou o animal –
“já trabalhei, agora é hora do lazer. O que é que eu vou pichar?” E como
estivesse indignado com o Alfabeto da
Xuxa, que naqueles anos de 1980 bombardeava as crianças e todos os demais
para que tudo fosse grafado com x, resolveu poetar nas paredes da nobre casa do
saber:
A XOTA
DA XUXA
É XUJA
Acontece que na época do ocorrido, segundo ele
contou (com olhos muito azuis por cima
dos óculos), atuava na escola um certo professor que, clandestinamente, era
dotado da singularidade de ter como apelido também o designativo de Xuxa, certamente por conta de critérios
de ordem sexual.
O fato é que tal professor vestiu a carapuça e,
alguns dias depois, foi bater lá no Sebo. Escrachou com o aprendiz de pichador:
segundo o sebista-editor-narrador-pichador, o professor reconheceu o autor dos
escritos infames pela letra (também infame): “Esse foi meu aluno!”
Xujou, Abimalek!
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