Foto: arquivo/assessorn.com
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Um dos eventos mais tradicionais do calendário
católico e sociocultural da região Seridó, a Festa de Nossa Senhora do Rosário
de Caicó celebrará, em 2013, os 240 anos da Irmandade dos Negros do Rosário. As
comemorações para a data se iniciam no encerramento da festa deste ano, no
próximo domingo, 28 de outubro, e serão concluídas durante a programação da
festa de 2013.
A Irmandade dos Negros do Rosário no interior do Rio
Grande do Norte teve seu Estatuto oficializado pelo Rei de Portugal, D. José I,
em 1771, porém, segundo relatos históricos, o documento com o Selo Real somente
chegara cerca de dois anos depois, em 27 de dezembro de 1773, data em que ocorreram os
festejos com o tríduo encerrando no 1º de janeiro de 1774, na Igreja de Sant’Ana,
local onde inicialmente era realizada a festa com a imagem da santa.
No mundo católico, a Irmandade do Rosário é muito
antiga, diz a história. Vem desde a Idade Média, no Século 13, e no Brasil
chegou com os colonizadores portugueses, porém, com o propósito de ser
absorvida pelos escravos que misturaram crenças da sua terra africana ao culto
dos senhores de engenhos, com ênfase à devoção, principalmente, aos santos
negros como São Benedito, Santa Efigênia, Santo Onofre e, também, à Nossa
Senhora do Rosário, a mais venerada entre os negros brasileiros. Há registros
de que alguns grupos de escravos ao chegarem no Brasil já cultuavam essa
tradição, confraria levada pelos portugueses ainda no Século 15 para suas
Colônias africanas.
No Seridó, essa relação de cumplicidade entre o
escravo negro e o senhor branco teve suas peculiaridades com o trabalho na
criação do gado e na agricultura. Na região, as primeiras Irmandades surgiram
nas comunidades de Samanaú, Rio do Peixe, Riacho de Fora e Sabugi, e,
posteriormente, foram criados grupos polarizados em Jardim do Seridó, Parelhas,
Acari, Currais Novos, Jardim de Piranhas, além de Irmandades que existem
no vizinho estado da Paraíba.
Corte
Real negra
Os festejos da Irmandade do Rosário mantém-se vivos
na tradição e cultura dos Negros do Rosário de Caicó, cuja Corte é constituída
por um Rei Perpétuo e uma Rainha Perpétua, sendo os seus sucessores o filho e a filha
mais velhos. Ainda, segundo a tradição, são escolhidos, na comunidade, um Rei e
uma Rainha, além de um Juiz e uma Juíza, o Escrivão e a Escrivã, que participam
dos festejos repassando para os próximos representantes no ritual
da coroação no encerramento da festa em frente à igreja.
Na comunidade Samanau, o Rei Perpétuo é Rael Mariano
dos Santos, 41 anos, que assumiu com a morte de seu pai Pedro Mariano dos Santos, aos 85
anos, no dia 1º de agosto de 2010 (confira). Pedro era casado com
Davane Costa dos Santos e a irmã dele, Maria Trindade, permanece como rainha
perpétua. Em Caicó, a sede da Irmandade fica em uma casa no bairro João XXIII,
onde foi inaugurada a Galeria dos Reinados, no ano passado, com a participação do diretor
espiritual da Irmandade, o monsenhor Ausônio Tércio de Araújo, ganhando o nome
de Pedro Mariano dos Santos.
Dança,
espontões, estandarte, paixão!
Por mais que se digam das tradições dos Negros do
Rosário, é na dança sua repercussão mais notória, por ser motivo de alegria para a
cidade. Encontro de felicidade, despertado, sobretudo, nas crianças. Verdade que
nos últimos tempos, essa manifestação tem sido motivo de preocupação das
autoridades pelo fato da ocorrência de exageros por parte de membros do grupo,
por se tratar de menores de idade e suspeição de consumo de álcool.
Outrora
Outrora, em Caicó, nesse período de festa, essa
alegria contagiava suas ruas, com suas danças e coreografias, os Negros do Rosário
também enchiam as casas por onde passavam, tocando seus tambores, ao som do
pífano, os lanceiros com seus espontões. À frente, o homem do estandarte,
balançado suavemente e inclinando, respeitosamente, a bandeira até o ombro bondoso do dono da casa.
Quem não se lembra de Noé, Pedro Henrique, Seu Antônio Mariano e tantos outros do grupo, formado por sua maioria de homens
calejados pelo tempo, mas, no semblante, a felicidade de transmitir àquela
energia de seus ancestrais, manifestação que acreditavam jamais poderia morrer,
por mais que se propaguem as divergências da atualidade.
Viva os Negros do Rosário do Seridó, nos seus 240 anos de tradição e paixão!
Viva os Negros do Rosário do Seridó, nos seus 240 anos de tradição e paixão!
©2012
www.AssessoRN.com | Jornalista
Bosco Araújo
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