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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Irmandade dos Negros do Rosário celebrará 240 anos na festa de 2013

Foto: arquivo/assessorn.com
Um dos eventos mais tradicionais do calendário católico e sociocultural da região Seridó, a Festa de Nossa Senhora do Rosário de Caicó celebrará, em 2013, os 240 anos da Irmandade dos Negros do Rosário. As comemorações para a data se iniciam no encerramento da festa deste ano, no próximo domingo, 28 de outubro, e serão concluídas durante a programação da festa de 2013.
 
A Irmandade dos Negros do Rosário no interior do Rio Grande do Norte teve seu Estatuto oficializado pelo Rei de Portugal, D. José I, em 1771, porém, segundo relatos históricos, o documento com o Selo Real somente chegara cerca de dois anos depois, em 27 de dezembro de 1773, data em que ocorreram os festejos com o tríduo encerrando no 1º de janeiro de 1774, na Igreja de Sant’Ana, local onde inicialmente era realizada a festa com a imagem da santa. 
 
No mundo católico, a Irmandade do Rosário é muito antiga, diz a história. Vem desde a Idade Média, no Século 13, e no Brasil chegou com os colonizadores portugueses, porém, com o propósito de ser absorvida pelos escravos que misturaram crenças da sua terra africana ao culto dos senhores de engenhos, com ênfase à devoção, principalmente, aos santos negros como São Benedito, Santa Efigênia, Santo Onofre e, também, à Nossa Senhora do Rosário, a mais venerada entre os negros brasileiros. Há registros de que alguns grupos de escravos ao chegarem no Brasil já cultuavam essa tradição, confraria levada pelos portugueses ainda no Século 15 para suas Colônias africanas.   
 
No Seridó, essa relação de cumplicidade entre o escravo negro e o senhor branco teve suas peculiaridades com o trabalho na criação do gado e na agricultura. Na região, as primeiras Irmandades surgiram nas comunidades de Samanaú, Rio do Peixe, Riacho de Fora e Sabugi, e, posteriormente, foram criados grupos polarizados em Jardim do Seridó, Parelhas, Acari, Currais Novos, Jardim de Piranhas, além de Irmandades que existem no vizinho estado da Paraíba.
 
Corte Real negra 
 
Os festejos da Irmandade do Rosário mantém-se vivos na tradição e cultura dos Negros do Rosário de Caicó, cuja Corte é constituída por um Rei Perpétuo e uma Rainha Perpétua, sendo os seus sucessores o filho e a filha mais velhos. Ainda, segundo a tradição, são escolhidos, na comunidade, um Rei e uma Rainha, além de um Juiz e uma Juíza, o Escrivão e a Escrivã, que participam dos festejos repassando para os próximos representantes no ritual da coroação no encerramento da festa em frente à igreja.
 
Na comunidade Samanau, o Rei Perpétuo é Rael Mariano dos Santos, 41 anos, que assumiu com a morte de seu pai Pedro Mariano dos Santos, aos 85 anos, no dia 1º de agosto de 2010 (confira). Pedro era casado com Davane Costa dos Santos e a irmã dele, Maria Trindade, permanece como rainha perpétua. Em Caicó, a sede da Irmandade fica em uma casa no bairro João XXIII, onde foi inaugurada a Galeria dos Reinados, no ano passado, com a participação do diretor espiritual da Irmandade, o monsenhor Ausônio Tércio de Araújo, ganhando o nome de Pedro Mariano dos Santos.
 
Dança, espontões, estandarte, paixão!

Foto: Ivanizio Ramos/Arquivo web
Por mais que se digam das tradições dos Negros do Rosário, é na dança sua repercussão mais notória, por ser motivo de alegria para a cidade. Encontro de felicidade, despertado, sobretudo, nas crianças. Verdade que nos últimos tempos, essa manifestação tem sido motivo de preocupação das autoridades pelo fato da ocorrência de exageros por parte de membros do grupo, por se tratar de menores de idade e suspeição de consumo de álcool.
 
Outrora
 
Outrora, em Caicó, nesse período de festa, essa alegria contagiava suas ruas, com suas danças e coreografias, os Negros do Rosário também enchiam as casas por onde passavam, tocando seus tambores, ao som do pífano, os lanceiros com seus espontões. À frente, o homem do estandarte, balançado suavemente e inclinando, respeitosamente, a bandeira até o ombro bondoso do dono da casa.
 
Quem não se lembra de Noé, Pedro Henrique, Seu Antônio Mariano e tantos outros do grupo, formado por sua maioria de homens calejados pelo tempo, mas, no semblante, a felicidade de transmitir àquela energia de seus ancestrais, manifestação que acreditavam jamais poderia morrer, por mais que se propaguem as divergências da atualidade.

Viva os Negros do Rosário do Seridó, nos seus 240 anos de tradição e paixão!


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