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sábado, 8 de setembro de 2012

Cronista destaca os 90 anos do rádio

Albimar Furtado*
Jornalista albimar@superig.com.br
 
O rádio é oitentão. Exatamente num dia como o de hoje, a data da Independência, ele iniciava sua história oficial em território brasileiro. História que tem relevância em muitas gerações que buscavam nele, o rádio, as informações “de última hora”, em muitos eventos no tempo real, como se diz hoje com a internet. Um veículo fascinante, eficiente, reverenciado e que ainda hoje tem seu lugar assegurado no mundo em que a informação é um bem imensurável.
 
Vivi um restinho da chamada fase de ouro do rádio brasileiro, aquela dos anos 30/40 e um pouco dos 50. Aqui, em nossa Natal, ainda reinou por mais tempo. Minhas primeiras lembranças, vagas e tênues, vem dos meus 5 anos, em Currais Novos, onde na sala em que ficava o rádio, um velho Pilot carregado a bateria, alguns homens se reuniam por breves dias de 1950, para ouvir o que minha consciência não identificava. Atento tempos depois aos relatos, descobri que num daqueles dias aqueles homens, entre eles meu pai, curtiam a tristeza profunda de uma derrota da seleção brasileira de futebol para os uruguaios. Naquela data o rádio transmitia o choro do Maracanã e o fim do sonho de um campeonato mundial.
 
Pouco tempo depois minha infância era vivida em Natal. Pela Rádio Poti, que sucedera a Rádio Educadora de Natal, era ouvinte do Clube do Guri, em que o personagem Vovô Simão contava histórias que mexiam com a imaginação do menino. Tudo embalado por “Danúbio Azul”, a valsa de Strauss. Lembranças também de que na boca da noite os mais velhos sentavam em volta do rádio para ouvir um programa que começava com voz de mulher cantando mais ou menos assim:”Laiá-la-rá, laiá, laiá, Lará/Ele fazia no seu violão…”. Os registros posteriores me indicaram que era a voz bonita de Glorinha Oliveira, fazendo sucesso com o programa “A estrela canta”. A idade avançava e eu já trocava as histórias de Vovô Simão pelas aventuras de Jerônimo, aquele que era o herói de sertão.
 
Foi também por esses anos 50 que a família e amigos se reuniam na sala à espera de que César de Alencar, o apresentador do programa de todas as tardes de sábado, anunciasse: “Aí vem a minha, a sua, a nossa favorita, E-mi-li-nha Bor-baaaaa”, para o delírio e agitação das fãs do auditório. No domingo, tinha Manoel Barcelos, na mesma Rádio Nacional, apresentando a outra rainha: Marlene. As duas, Emilinha e Marlene, eram as grandes responsáveis pela rivalidade do rádio. Nos dois programas desfilavam outros grandes nomes de nossa música: Orlando Silva, Francisco Carlos, Carlos Galhardo, Ângela Maria, Nora Ney, a nossa Ademilde Fonseca, os nossos Trio Irakitan e Aldair Soares (Pau de Arara) e muito mais gente. E quando “os ponteiros do relógio se encontravam” em algum dia da semana que não me lembro qual, também havia a reunião na sala para ouvir, a voz e as músicas de Francisco Alves.
 
Nesse filme em minha memória passam ainda os estúdios e o auditório da velha Rádio Poti. Luiz Cordeiro com o “Vesperal dos Brotinhos” nas tardes de sábado e Genar Wanderley, com o “Domingo Alegre” nas manhãs domingueiras. E neles, as presenças de Glorinha, Marli, Agnaldo e Zilma Rayol, Chiquinha do Acordeon, Trio Maraiá, Paulo Tito, Francisco de Assis, os “meninos prodígios” entre eles Edmilson Avelino (por onde anda?) e o hoje advogado, ex-presidente da OAB-RN, Odúlio Botelho. E outros que a memória de um quase setentão já esconde. Nessas lembranças, sem precisão histórica, também passam os que narravam os jogos de ABC e América, realizados no Juvenal Lamartine. Quem, desse tempo, pode esquecer a voz singular de Aluízio Menezes? Depois dele vieram Roberto Machado, Hélio Câmara, Almeida Filho e tantos.
 
Entretenimento e jornalismo eram as duas grandes pilastras desse rádio. E neste, o grande nome foi o Repórter Esso, história que começou em 28 de agosto 1941, dois anos depois de início da Segunda Grande Guerra e no mesmo dia em que o Brasil passou a somar com os aliados. O programa era coisa de americano que já experimentara o modelo em Nova Iorque, Buenos Aires, Santiago, Lima e Havana. O carro-chefe era o noticiário sobre a guerra, tema que despertava interesse geral. Era o esforço para atrair as simpatias às forças aliadas em conflito com a Alemanha. Sucesso absoluto. Força igual ou maior que o Jornal Nacional em seus melhores tempos. E depois dele, os homens conversavam para discutir as notícias dadas por Celso Guimarães, Jorge Cury, Heron Domingues, apresentadores que se eternizaram na história do radiojornalismo. Tinha como slogan a “Testemunha ocular da história” e sua apresentação era antecipada por fanfarras de autoria do maestro Carioca, com clarins e tambores. Sua última edição foi no último dia de 1969, poucos dias depois da edição do AI-5 pela ditadura militar, atingindo ferozmente a liberdade de imprensa. Roberto Figueiredo, o apresentador desse último programa, o fez com emoção, como relata o livro de Luiz Carlos Saroldi e Sonia Virgínia Moreira, “Rádio Nacional O Brasil em Sintonia”. Chorou ao ler as grandes manchetes do Repórter Esso ao longo de sua história. Eu também me emocionava sempre que, em minhas aulas no curso de comunicação da UFRN, tratava desse capítulo.
 
Ouvi novelas no rádio. Sucesso tanto quanto as novelas das 9 de hoje, na televisão. Em volta do rádio, estavam lá, todos, atentos. Quanto bonitas eram as imagens que se formavam em nossa imaginação. Os mares que “via” ouvindo as novelas de rádio permitiam esses momentos mágicos. Aqueles mares não caberiam nas telas da TV. Aqui também, em nossa Natal, se produziam novelas de excelente qualidade.
 
Nas minhas lembranças também passa o nosso radiojonalismo e a tradição do “Galo Informa”, da Rádio Poti. Quando o som do galo cantando ganhava a cidade pelas ondas que lhe davam amplitude, todos sabiam que um fato extraordinário acontecera. Nosso radiojornalismo foi revelador de nomes como os de Ademir Ribeiro, o nosso Heron Domingues, de Adamires Furtado, de voz singular, de Liênio Trigueiro, Nilson Freire e tantos e tantos. Ademir apresentou programas diários e lembro bem do “Telefone pedindo bis”, no qual desfilavam, para o delírio de muitos fãs, as músicas de Elvis Presley e produzia crônicas, “O Nome do dia”, que levavam ouvintes às lágrimas.
 
 Vi a FM chegar. Só música. Depois, muita conversa e música. Desbancou as AMs. A qualidade do som fazia a diferença. Mas a vocação do rádio para o jornalismo trouxe os noticiários de volta. Deu mais substância e credibilidade ao veículo. E ele está aí, oitentão, firme, forte, audacioso, como é de seu destino, adaptando-se aos novos tempos, melhorando, cativando, provocando paixões. Entre os apaixonados, eu.
 
*Texto publicado na coluna do jornalista, edição desta sexta (7), no NOVO JORNAL
 
JBAnota Apenas como reforço à contagem do acontecimento, são noventa anos do fato histórico, claro que nosso querido colega cronista economiza uma década sem intenções contextuais, aliás, sintetizou, brilhantemente, em especial o pioneirismo do rádio natalense, consequentemente do RN. Albimar também fez parte desse time já nos anos sessenta como jornalista dos Diários Associados e, posteriormente, como diretor geral do jornal e da rádio. Adamires Furtado é seu irmão e o Agnaldo que ele cita é o Rayol, o cantor, que na pré-adolescência morou em Natal, cuja residência do pai militar da Marinha ficava ao lado da emissora.
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