por João da Mata Costa
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Foto arquivo/divulgação
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No dia 04 de janeiro de 1988 Henfil falecia na flor
da idade. Ele foi um homem genial em sua curta e meteórica existência. Seu
traço era cortante e tinha a exigüidade e síntese da poesia. Criou muitos personagens
que tinham a cara e cacoetes dos brasileiros. Lutou incansavelmente contra a
ditadura e, junto com seus dois irmãos, formaram um trio que dominou a cena
brasileira nas décadas de exceção do regime político brasileiro. Nos Estados Unidos
seu desenho não fez sucesso.
Claro, o "tio Sam" era um dos seus alvos
preferidos na destilação do veneno. Veio morar em Natal e não foi feliz. Queria
ouvir aboio e foi ferido por outros cornos. Ubaldo veio a Natal em 78, e levou
sua mulher e alegria. Difícil colocar os pés novamente no chão e criar. Na
criação ele vivia e dava o troco. Ubaldo virou "o paranóico".
Difícil no trato e na convivência, como os homens
geniais. Berenice não sabia que ele gostava tanto dela. E ele só soube que a
amava tanto quando a perdeu.
Em Natal morou na ponta do morcego e não gostou. Não
conseguia produzir e teve sua casa roubada. Foi morar na Amintas Barros, onde
conseguiu se isolar dos "chatos" (imagina hoje com a lista do Rafael
elevada à enésima potência) e produziu um pouco mais. Trabalhou nos manuscritos
de Henfil na China. Difícil foi tirar o nome da amada de suas produções subseqüentes
e no forno.
Em Natal, deixou alguns amigos e traços. A "Pax
Turismo" mantinha na sua parede alguns dos seus desenhos originais.
A Associação dos Docentes de Ensino Superior (A
ANDES) foi criada em 1980, e pediu permissão para usar a Graúna do Henfil como
logotipo em suas camisetas. Henfil, um grande cartunista ligado aos movimentos
de esquerda, não negou tal associação e seu traço esteve abrilhantando nossas
camisetas e documentos durante muito tempo.
Infelizmente o amigo Henfil faleceu precocemente e a
Andes já não é mais a mesma. O seu desenho na camiseta é só mais um desenho que
marcou a história de um belo movimento da história sindical do Brasil.
Cresci junto e torcendo pelo Henfil. As cartas à sua
mãe era o que tinha de melhor na antiga "Isto é". Uma forma
inteligente e lúcida de passar as mensagens em tempo de censura.
Saudades de você, meu amigo. Pena que você não ouviu
aboio na terrinha. Obrigado por tudo!
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