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quinta-feira, 22 de junho de 2023

Grupo de pesquisadores de universidades nordestinas recebe patente de tecnologia para aplicação na área da saúde

UFRN recebe patente de tecnologia para aplicação na área da saúde

Por Wilson Galvão – Agência de Inovação da Reitoria/UFRN

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Federal de Sergipe (UFS) recebeu, nesta terça-feira, 20, do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), a carta-patente de uma tecnologia inovadora que envolve conhecimentos da área de ciências dos materiais e aplicação para a saúde. Trata-se de um filme cujo objetivo é que seja usado como uma membrana de barreira para auxiliar a regeneração óssea em casos de lesões ou doenças relacionadas à perda de massa óssea.

Esse filme atua como uma membrana de barreira, a fim de garantir um espaço protegido que permita que ocorra a regeneração óssea guiada, impedindo a invasão de fibroblastos – cuja presença dificultaria o “guiar” da recuperação – e podendo, também, fornecer estabilidade para enxertos ósseos. O depósito do pedido de patente aconteceu em 2018, época na qual Katharina Gabriela Spaniol terminava seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciências e Engenharia de Materiais (PpgCEM) – é de sua dissertação que surge a invenção.

Ela relembra que, em um primeiro momento, ocorreu a tentativa de produzir um dispositivo composto apenas de material cerâmico, contudo os resultados obtidos não foram interessantes. “Então, durante a minha qualificação do mestrado, o professor Euler Araújo dos Santos, da Universidade do Sergipe, sugeriu usar o material antes do tratamento térmico, onde o polímero é degradado, e foi nesse período que formamos uma parceria entre o nosso laboratório no PPGCEM da UFRN e o laboratório do professor Euler na UFS. Esse foi o momento da virada da pesquisa”, descreve Gabriela Spaniol.

A pesquisadora detalha que o filme é composto por uma mistura entre um material cerâmico, o fosfato tricalcico (TCP), e um polímero, o poli (álcool vinílico). Gabriela explica que o TCP é biocompatível e pode ser absorvido pelo corpo, atuando como uma estrutura para o crescimento ósseo. “Contudo, é insuficiente em relação à resistência mecânica. Para superar essa deficiência, usamos o PVA, que é uma matéria-prima importante para a produção de filmes e que, também, poderia ser usada como membrana de barreira, pois é biodegradável e não toxica”, pontua.

Orientador da pesquisa e, também, um dos inventores envolvidos, Wilson Acchar complementa falando que a ideia é que o material seja metabolizado pelo corpo à medida que a regeneração óssea ocorra, de forma que o polímero sirva como estrutura; e a cerâmica, como matéria-prima para as células responsáveis pela osteogênese. Com uma vasta experiência em desenvolver produtos patenteáveis, o professor do Departamento de Física Teórica e Experimental realça que o método usado para a produção do material, o Tape Casting, é uma tecnologia usada amplamente no Laboratório de Propriedades Físicas e Materiais Cerâmicos (LaPFiMC).

“Esse método nos trouxe muitas vantagens e facilidades para o desenvolvimento dessa pesquisa e de outras que resultaram em produtos parecidos, pois permite a produção de fitas finas e homogêneas, tem baixo custo e, ainda, há possibilidade de ser usado para produção em larga escala”, afirma Acchar. A fabricação de fitas cerâmicas está situada em uma linha de trabalho voltada ao desenvolvimento de materiais com propriedades elétricas e magnéticas para aplicação eletroeletrônica, e outra concentrada nos biomateriais, utilizados em dispositivos médicos, como enxertos ósseos, curativos e implantes, para interação com os sistemas biológicos. Um dos produtos também em desenvolvimento concerne às fitas com argilas para a liberação controlada de fármacos na pele.

Em vídeo, Wilson Acchar fala um pouco mais sobre a descoberta (https://www.instagram.com/p/CttkzFUu7aq/)

Gabriela contextualiza, ainda, explicando que procedimentos de reparo ósseo apresentam muitos desafios devido à baixa taxa de cicatrização, mesmo em casos de intervenção cirúrgica, o que gera um impacto negativo na qualidade de vida do paciente e custos médicos. “A nossa tecnologia apresenta-se assim como uma ferramenta no auxílio da recuperação do paciente em casos de intervenção cirúrgica”, frisa.

Além de Gabriela e Acchar, integram o grupo de inventores Anna Karla de Carvalho Freitas, Ana Paula da Silva Peres, Silmara Caldas Santos e Euler Araújo dos Santos. Em resumo, Gabriela, Acchar, Ana Paula e Anna Karla participaram do processo de idealização e desenvolvimento do material no LaPFiMC, enquanto Euler dos Santos e Silmara Caldas atuaram nos ensaios de bioatividade e biocompatibilidade do material. O grupo destaca que há um protótipo desenvolvido e usado nos testes de bioatividade in vitro. “A gente estudou se há formação óssea, e na avaliação da citotoxicidade, onde estudamos se o material é biocompatível. Os resultados foram animadores”, explica Gabriela Spaniol.

Uma trajetória multidisciplinar e geográfica

“Eu morei no RN desde que eu tinha 11 anos. Sou de São Paulo, mas me criei no RN. Hoje, estou na Austrália, com algumas horas de fuso”. Assim, a pesquisadora, que carrega o singular sobrenome Spaniol e apresenta nos áudios da entrevista um misto de sotaque paulista com nordestino, procurou descrever parte da trajetória. “É muito importante falar que esse projeto que deu origem à carta-patente é inspirado no meu tempo, no Japão, quando eu atuei lá no programa Ciências sem Fronteiras e trabalhei em um laboratório que fazia materiais compósitos para implantes ósseos”, acrescenta.

Mas, como “o bom filho à casa torna”, Gabriela voltou para terminar o mestrado. O ano era 2017 para 2018; as lembranças já não vêm em ordem cronológica, mas ajudam a mostrar que foi um longo caminho até aqui. “Quando eu vim para a Austrália, eu consegui uma oportunidade como auxiliar de pesquisa em uma das melhores universidades do mundo, a University of New South Wales, que estava entre as 50 do mundo. Foi um momento ímpar, pois tive a oportunidade de conviver com um professor que foi inspiração para mim no mestrado, pois eu lia muitos artigos e estudos dele para me inspirar”, descreve a, hoje, doutoranda na Griffith University.

“Daí eu ganhei uma bolsa de estudos em outra universidade para iniciar o doutorado, onde estou agora. Esse meu trabalho me rendeu muitos frutos, muito conhecimento, pois esse professor é uma referência nessa área de implantes ósseos. E essa bolsa eu consegui muito em virtude do trabalho iniciado lá no Japão, no Ciência Sem Fronteiras, que depois, é bom frisar, eu continuei na UFRN. Nos passos seguintes, publiquei o artigo e a patente, que possibilitaram conseguir concorrer, de forma mais competitiva, para a bolsa de estudos que tenho hoje. Eu fui agraciada com ela em 2019, mas fui passar as férias no Brasil, e a pandemia chegou. Resultado: fronteiras fechadas, e acabei retornando no final de 2021”. Entre idas e vindas, a presença da pesquisadora acaba sendo sentida ainda no Brasil pelos rastros que deixou. A patente recebida é um deles.

Assessoria de Comunicação da Agência de Inovação da Reitoria/UFRN

Foto relacionada à divugação

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