UFRN recebe patente de tecnologia para aplicação na área da saúde
Por Wilson Galvão –
Agência de Inovação da Reitoria/UFRN
Esse
filme atua como uma membrana de barreira, a fim de garantir um espaço protegido
que permita que ocorra a regeneração óssea guiada, impedindo a invasão de
fibroblastos – cuja presença dificultaria o “guiar” da recuperação – e podendo,
também, fornecer estabilidade para enxertos ósseos. O depósito do pedido de
patente aconteceu em 2018, época na qual Katharina Gabriela Spaniol terminava
seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciências e Engenharia de Materiais
(PpgCEM) – é de sua dissertação que surge a invenção.
Ela
relembra que, em um primeiro momento, ocorreu a tentativa de produzir um
dispositivo composto apenas de material cerâmico, contudo os resultados obtidos
não foram interessantes. “Então, durante a minha qualificação do mestrado, o
professor Euler Araújo dos Santos, da Universidade do Sergipe, sugeriu usar o
material antes do tratamento térmico, onde o polímero é degradado, e foi nesse
período que formamos uma parceria entre o nosso laboratório no PPGCEM da UFRN e
o laboratório do professor Euler na UFS. Esse foi o momento da virada da
pesquisa”, descreve Gabriela Spaniol.
A
pesquisadora detalha que o filme é composto por uma mistura entre um material
cerâmico, o fosfato tricalcico (TCP), e um polímero, o poli (álcool vinílico).
Gabriela explica que o TCP é biocompatível e pode ser absorvido pelo corpo,
atuando como uma estrutura para o crescimento ósseo. “Contudo, é insuficiente
em relação à resistência mecânica. Para superar essa deficiência, usamos o PVA,
que é uma matéria-prima importante para a produção de filmes e que, também,
poderia ser usada como membrana de barreira, pois é biodegradável e não
toxica”, pontua.
Orientador
da pesquisa e, também, um dos inventores envolvidos, Wilson Acchar complementa
falando que a ideia é que o material seja metabolizado pelo corpo à medida que
a regeneração óssea ocorra, de forma que o polímero sirva como estrutura; e a
cerâmica, como matéria-prima para as células responsáveis pela osteogênese. Com
uma vasta experiência em desenvolver produtos patenteáveis, o professor do Departamento
de Física Teórica e Experimental realça que o método usado para a produção do
material, o Tape Casting, é uma tecnologia usada amplamente no Laboratório de
Propriedades Físicas e Materiais Cerâmicos (LaPFiMC).
“Esse
método nos trouxe muitas vantagens e facilidades para o desenvolvimento dessa
pesquisa e de outras que resultaram em produtos parecidos, pois permite a
produção de fitas finas e homogêneas, tem baixo custo e, ainda, há
possibilidade de ser usado para produção em larga escala”, afirma Acchar. A
fabricação de fitas cerâmicas está situada em uma linha de trabalho voltada ao
desenvolvimento de materiais com propriedades elétricas e magnéticas para
aplicação eletroeletrônica, e outra concentrada nos biomateriais, utilizados em
dispositivos médicos, como enxertos ósseos, curativos e implantes, para
interação com os sistemas biológicos. Um dos produtos também em desenvolvimento
concerne às fitas com argilas para a liberação controlada de fármacos na pele.
Em
vídeo, Wilson Acchar fala um pouco mais sobre a descoberta (https://www.instagram.com/p/CttkzFUu7aq/)
Gabriela
contextualiza, ainda, explicando que procedimentos de reparo ósseo apresentam
muitos desafios devido à baixa taxa de cicatrização, mesmo em casos de
intervenção cirúrgica, o que gera um impacto negativo na qualidade de vida do
paciente e custos médicos. “A nossa tecnologia apresenta-se assim como uma
ferramenta no auxílio da recuperação do paciente em casos de intervenção
cirúrgica”, frisa.
Além
de Gabriela e Acchar, integram o grupo de inventores Anna Karla de Carvalho
Freitas, Ana Paula da Silva Peres, Silmara Caldas Santos e Euler Araújo dos
Santos. Em resumo, Gabriela, Acchar, Ana Paula e Anna Karla participaram do
processo de idealização e desenvolvimento do material no LaPFiMC, enquanto
Euler dos Santos e Silmara Caldas atuaram nos ensaios de bioatividade e
biocompatibilidade do material. O grupo destaca que há um protótipo
desenvolvido e usado nos testes de bioatividade in vitro. “A gente estudou se
há formação óssea, e na avaliação da citotoxicidade, onde estudamos se o
material é biocompatível. Os resultados foram animadores”, explica Gabriela
Spaniol.
Uma
trajetória multidisciplinar e geográfica
“Eu morei no RN desde que eu tinha 11 anos. Sou de São Paulo, mas me criei no RN. Hoje, estou na Austrália, com algumas horas de fuso”. Assim, a pesquisadora, que carrega o singular sobrenome Spaniol e apresenta nos áudios da entrevista um misto de sotaque paulista com nordestino, procurou descrever parte da trajetória. “É muito importante falar que esse projeto que deu origem à carta-patente é inspirado no meu tempo, no Japão, quando eu atuei lá no programa Ciências sem Fronteiras e trabalhei em um laboratório que fazia materiais compósitos para implantes ósseos”, acrescenta.
Mas,
como “o bom filho à casa torna”, Gabriela voltou para terminar o mestrado. O
ano era 2017 para 2018; as lembranças já não vêm em ordem cronológica, mas
ajudam a mostrar que foi um longo caminho até aqui. “Quando eu vim para a
Austrália, eu consegui uma oportunidade como auxiliar de pesquisa em uma das
melhores universidades do mundo, a University of New South Wales, que estava
entre as 50 do mundo. Foi um momento ímpar, pois tive a oportunidade de
conviver com um professor que foi inspiração para mim no mestrado, pois eu lia
muitos artigos e estudos dele para me inspirar”, descreve a, hoje, doutoranda
na Griffith University.
“Daí
eu ganhei uma bolsa de estudos em outra universidade para iniciar o doutorado,
onde estou agora. Esse meu trabalho me rendeu muitos frutos, muito
conhecimento, pois esse professor é uma referência nessa área de implantes
ósseos. E essa bolsa eu consegui muito em virtude do trabalho iniciado lá no
Japão, no Ciência Sem Fronteiras, que depois, é bom frisar, eu continuei na
UFRN. Nos passos seguintes, publiquei o artigo e a patente, que possibilitaram
conseguir concorrer, de forma mais competitiva, para a bolsa de estudos que
tenho hoje. Eu fui agraciada com ela em 2019, mas fui passar as férias no
Brasil, e a pandemia chegou. Resultado: fronteiras fechadas, e acabei
retornando no final de 2021”. Entre idas e vindas, a presença da pesquisadora
acaba sendo sentida ainda no Brasil pelos rastros que deixou. A patente
recebida é um deles.
Assessoria
de Comunicação da Agência de Inovação da Reitoria/UFRN
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