Por Janduhi
Medeiros*
Normalmente
as pessoas que entram na história da comunidade, por imposição de classe ou
soberba de vaidade, são os nobres, os filhos da elite. Como regra geral, é
isso. Os pensadores chamam esses episódios de cultura opressora. Então, como batizar
uma rua ou uma praça com o nome de um artista popular, oprimido pela força dos
costumes autocratas?
A nobreza
autoritária nunca foi simpática a esse gesto. Quando muito, uma viela na
periferia. Vejam bem! O maior artista de rua, que eu conheci, foi Juju, em
Caicó, nas décadas de sessenta e setenta. Ele foi muito mais do que palhaço de
circo, de hospital, de teatro e de cinema. Juju foi gigante na arte espontânea
de alegrar.
Sempre
animou e fez sorrir a cidade inteira, com músicas, danças, brincadeiras e suas
correntes emaranhadas pelo corpo, interagindo com as manhãs e com as esquinas,
nas cercanias do mercado onde a cidade passava inteira, cotidianamente, tocando
uma corneta que ele mesmo inventara.
Um brincante
singular, irreverente e humanitário, que transformava a vida árida e tensa em
versões mais leves e suportáveis de realidade, pois tinha o poder da alegria e
o dom suave da arte, com ética, simplicidade, atrevimento e conduta humana. Por
onde passava, contagiava a atmosfera de oxigênio humano e de risos, como se a
vida fosse feita para respirarmos unicamente o perfume da felicidade.
Falavam que
as filhas de Juju eram bonitas. A criançada tirava proveito disso. Quando ele
passava, sempre alegre e irreverente com sua carroça, carregada de
parafernálias, os meninos gritavam:
- Juju, meu
sogro!
Ele corria
alucinadamente atrás dos meninos. Era moleque pra todo lado e, eu, entre os
meninos, bolando de rir, com todos os privilégios que um menino do interior,
astuto, poderia desfrutar naquele inesquecível momento.
Um artista
sublime e grande, como Juju, não pode ser personagem, tem que ser real, fazer e
sentir a realidade da dor e da alegria - diferente de João Grilo, personagem
fictício da literatura portuguesa, reinventada genialmente por Ariano Suassuna.
Juju fazia sua graça e seus desafios no seu labor, buscando uma lógica de
sobrevivência.
Ele chamava
a atenção das pessoas, com a arte da alegria, para puder vender suas correntes
e tirar uma parte do seu sustento e da família. Juju foi protagonista e
conseguiu humanizar as calçadas e as ruas de Caicó, no seu tempo, através das
brincadeiras e da sublime e divina arte de fazer as pessoas felizes.
Tempos
depois, fiquei sabendo que Juju conseguiu se aposentar e não precisou mais
vender correntes. Viveu com dignidade e morreu feliz. Com a morte dele, a
cidade ficou triste e sem o elo do seu maior brincante.
Nas minhas
reflexões com os santos, vou pedir a São Pedro para colocar na esquina da Praça
Celestial, onde as nuvens se enfeitam de carneirinho e fazem os Anjos felizes,
uma placa com os dizeres: Praça da Alegria - Juju de Caicó.
*Escritor e poeta | com postagem no Novo Bar de Ferreirinha
Dignificar este personagem, Juju, com uma praça em Caicó, onde a mesma plasmasse alegrias o ano todo, seria a melhor das homenagens, em minhas lembranças só me trás momentos de alegrias, era realmente, menino pra todos os lados! Obrigado Juju por nós ter vivenciado alegrias em suas fantásticas apresentações, gratidão!
ResponderExcluirJuju merece ser homenagiado, embora que in memorian.
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