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sábado, 2 de novembro de 2019

Escritor exalta a figura de Juju que humanizou as ruas e calçadas de uma Caicó aristocrata

Juju de Caicó

Por Janduhi Medeiros*

Normalmente as pessoas que entram na história da comunidade, por imposição de classe ou soberba de vaidade, são os nobres, os filhos da elite. Como regra geral, é isso. Os pensadores chamam esses episódios de cultura opressora. Então, como batizar uma rua ou uma praça com o nome de um artista popular, oprimido pela força dos costumes autocratas?

A nobreza autoritária nunca foi simpática a esse gesto. Quando muito, uma viela na periferia. Vejam bem! O maior artista de rua, que eu conheci, foi Juju, em Caicó, nas décadas de sessenta e setenta. Ele foi muito mais do que palhaço de circo, de hospital, de teatro e de cinema. Juju foi gigante na arte espontânea de alegrar.

Sempre animou e fez sorrir a cidade inteira, com músicas, danças, brincadeiras e suas correntes emaranhadas pelo corpo, interagindo com as manhãs e com as esquinas, nas cercanias do mercado onde a cidade passava inteira, cotidianamente, tocando uma corneta que ele mesmo inventara.

Um brincante singular, irreverente e humanitário, que transformava a vida árida e tensa em versões mais leves e suportáveis de realidade, pois tinha o poder da alegria e o dom suave da arte, com ética, simplicidade, atrevimento e conduta humana. Por onde passava, contagiava a atmosfera de oxigênio humano e de risos, como se a vida fosse feita para respirarmos unicamente o perfume da felicidade.

Falavam que as filhas de Juju eram bonitas. A criançada tirava proveito disso. Quando ele passava, sempre alegre e irreverente com sua carroça, carregada de parafernálias, os meninos gritavam:
- Juju, meu sogro!

Ele corria alucinadamente atrás dos meninos. Era moleque pra todo lado e, eu, entre os meninos, bolando de rir, com todos os privilégios que um menino do interior, astuto, poderia desfrutar naquele inesquecível momento.

Um artista sublime e grande, como Juju, não pode ser personagem, tem que ser real, fazer e sentir a realidade da dor e da alegria - diferente de João Grilo, personagem fictício da literatura portuguesa, reinventada genialmente por Ariano Suassuna. Juju fazia sua graça e seus desafios no seu labor, buscando uma lógica de sobrevivência.

Ele chamava a atenção das pessoas, com a arte da alegria, para puder vender suas correntes e tirar uma parte do seu sustento e da família. Juju foi protagonista e conseguiu humanizar as calçadas e as ruas de Caicó, no seu tempo, através das brincadeiras e da sublime e divina arte de fazer as pessoas felizes.

Tempos depois, fiquei sabendo que Juju conseguiu se aposentar e não precisou mais vender correntes. Viveu com dignidade e morreu feliz. Com a morte dele, a cidade ficou triste e sem o elo do seu maior brincante.

Nas minhas reflexões com os santos, vou pedir a São Pedro para colocar na esquina da Praça Celestial, onde as nuvens se enfeitam de carneirinho e fazem os Anjos felizes, uma placa com os dizeres: Praça da Alegria - Juju de Caicó.

*Escritor e poeta | com postagem no Novo Bar de Ferreirinha

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