POR LUIZ GONZAGA CORTEZ*
O PROBLEMA SOCIAL NO BRASIL É POLÍTICO (1)
“De princípio, quem
toma partido, quem participa, mesmo erroneamente, está mais próximo do que quem
se omite, seja por motivos pessoais ou princípios filosóficos”. Ivan Maciel de
Andrade ( In “Integralismo: pecado sem perdão? “, “Tribuna do Norte”, Natal/Rn,
p.13, 29.07.1984)
O escritor
Luiz da Câmara Cascudo (1898-1986), monumento maior da cultura potiguar, foi um
dos maiores divulgadores da ideologia da Ação Integralista Brasileira,
movimento político conservador e nacionalista, liderado pelo escritor paulista
Plínio Salgado, entre os anos 1932/1937, época em que as posições políticas
eram de direita ou de esquerda, comunista ou anti-comunista, fascista ou
anti-fascista.
Intelectual
consagrado na sua terra, Natal/RN, Câmara Cascudo, ao se tornar o primeiro
chefe da Ação Integralista Brasleira-AIB, na “Província do Rio Grande do
Norte”, em 1933, já era um nome conhecido nos meios culturais e políticos do
Rio de Janeiro e São Paulo,
principalmente entre os grupos conservadores. Dentre os grupos
conservadores de direita, a AIB tornou-se o primeiro e maior movimento político
de massas no Brasil. A Plínio Salgado, Miguel Reale, Menotti Del Picchia, Tasso
da Silveira e Gustavo Barroso, juntou-se Câmara Cascudo, já então consagrado
como o intelectual maior do Rio Grande do Norte. Por isso, é comum dizer-se que
a AIB reuniu a nata da intectualidade brasileira dos anos trinta.
A partir daí, a militância política na AIB/RN
foi coadjuvada com a militância jornalística na imprensa integralista do Rio de
Janeiro e São Paulo, principalmente no semanário “A Ofensiva” (mais tarde, em
1936, passou a circular diariamente), responsável pela divulgação das notícias
do movimento “verde-amarelo” de Plínio Salgado e do panorama político
internacional com farto noticiário simpático ao movimento fascista mundial.
Apesar de
não termos conseguido efetuar um levantamento integral das atividades
jornalísticas de Cascudo nas hostes da AIB, pois não tivemos acesso a todos os
exemplares de “A Ofensiva”, porta-voz dos camisas verdes, podemos assegurar que
Câmara Cascudo publicou dezenas de artigos e crônicas em jornais e revistas
integralistas.
São variados
os temas que Cascudo abordou quando era um atuante político e jornalista
integralista, pois tratam não somente da doutrina pliniana, mas, ainda, do
marxismo-leninismo, do comunismo estalinista, educação e moral comunista,
filosofia chinesa, cinema, música, história do Brasil, fascismo e nazismo.
Além do
jornal “A Ofensiva”, Cascudo publicou artigos nas revistas de divulgação do
pensamento integralista, como “Anauê” e “Panorama”, esta criada pelo jovem
escritor e pensador Miguel Reale, um dos membros da “Câmara dos Quarenta” e
chefe de doutrina da AIB. Estudioso dos problemas políticos e econômicos que
afligiam o povo brasileiro, que permanece enfrentando os mesmos problemas e
acreditando num salvador da pátria, Cascudo escreveu um artigo sobre “A Dívida
Externa do Rio Grande do Norte”, mostrando como foi feito o primeiro grande
empréstimo pelo Governo do Estado potiguar.
Como todo
integralista, Cascudo foi um jornalista cristão, anti-burguês,
anti-capitalista, nacionalista, anti-liberal, contra o banqueirismo
internacional que ainda hoje mantém o Brasil numa situação de dependência e
escravização financeira.
Em artigo
publicado na página três de “A Ofensiva” (Rio, 31.05.1934) sobre o problema
social do Brasil , Cascudo diz que “para a burguesia liberal, governar é
arrecadar impostos. Que importa o sofrimento dos homens? Que importa o
desenvolvimento constante de classes exploradas ao lado de um pequeno grupo de exploradores?
Que importa o acorrentamento da nação ao capitalismo estrangeiro? “.
Depois de
lembrar que a questão social sempre existiu em todos os tempos, “na luta da
aristocracia e a democracia da Grécia Antiga” , o jornalista Câmara Cascudo
asseverava que “a luta dos povos é uma luta social permanente em busca do novo
equilíbrio perfeito. Por isso, queremos a transformação do Estado num organismo
plástico ( uma antevisão da transparência de Gorbachev, na ex-URSS? ),
revolucionário, capaz de atender as novas exigências da vida em sociedade.
E prossegue:
“Não queremos negar a evidência. O Brasil é, por si mesmo, uma vasta questão
social. Se outras nações, como a Itália e a Alemanha, reagem contra fatores
certos de decadência afim de conservarem o esplendor de suas civilizações, no
Brasil a reação é ainda mais necessária e premente. É o progredir ou
desaparecer de Euclides da Cunha.
“É o dilema
que se apresenta a nova geração. Ou seremos capazes de, num gesto viril de
mocidade ativa, romper os preconceitos que atravancam o nosso caminho, formar
um espírito novo e criador, organizar o Brasil sobre bases moral e
materialmente sólidas, ou sucumbiremos debaixo dos escombros de uma pátria
retaliada e miserável. Não é fraseado ôco, não é demagogia. É a realidade que se
nos apresenta a um exame sincero. O problema social no Brasil é político por
excelência. Carecemos de organização em todos os setores das nossas atividades.
A agricultura agoniza escravizada ao banqueirismo e um sistema de tributações
que constitui uma extorsão legalizada ao trabalho da maior classe do país.
“As
populações rurais reclamam higiene, ensino e salários justos. Os operários
urbanos pedem trabalho e dignidade. O comércio aspira a uma estabilidade
propícia ao desenvolvimento dos seus negócios. No campo intelectual sofremos a
invasão de teorias que serviriam para apressar a nossa escravização aos
potentados do capitalismo estrangeiro, seja de Londres, Nova York ou Moscou.
A literatura
é afeminada ou destruidora.
Os políticos
não se preocupam senão com posições mais à mão. “Aprés nous le deluge”. Nesse
ambiente nasce o Integralismo.
Concepção
completa de nacionalismo sadio e universalismo equilibrado. Uma filosofia para
o Brasil. Uma literatura a serviço da
nação. Libertação mental da inteligência patrícia.
Um direito
como emanação natural dos nossos costumes e das nossas necessidades.
Disciplina
para conter o egoísmo dos interesses individuais. Um mestre genial para que não
continue acéfalo o lugar de chefe da Nação Brasileira.
Atitude
intransigente contra todas as doutrinas e homens que pretendam confundir a
trajetória da nossa terra que há de ser grande entre as maiores.
Numa época
de ceticismo somos conduzidos pela fé.
Contra a
displicência e a dubiedade, contra a ausência de atitudes másculas, envergamos
uma camisa verde, simbólica, como um desafio aos inimigos da pátria.
Sorri-nos a
certeza da vitória. Hoje, amanhã ou no decorrer dos anos próximos.
O que
importa é a vitória. Ela virá matematicamente certa. Pacífica, se for possível,
violenta, com sacrifício do nosso sangue, se a tanto formos levados”.
CONTRA
PARTIDOS BURGUESES
Luiz da
Câmara Cascudo, Francisco Veras Bezerra e Miguel Seabra Fagundes integraram o
triunvirato que dirigiu o movimento integralista no Rio Grande do Norte, de
julho de 1933 a meados de 1934, quando, efetivamente, passou a chefiar a
AIB/RN. Cascudo foi o primeiro potiguar a comandar a AIB potiguar de forma
efetiva e titular, haja vista que o professor e historiador Manoel Rodrigues de
Melo assumiu a interinidade da chefia integralista local quando Cascudo viajou
ao Rio de Janeiro para entendimentos com Plínio Salgado, Gustavo Barroso,
Olbiano de Melo, os dirigentes nacionais do movimento.
Em maio de
1934, Cascudo integrou uma comitiva oficial do Interventor Mário Câmara que
percorreu o interior do Estado. O resultado dessa viagem foi o livro de
reportagens “Viajando o Sertão”, publicado pela Imprensa Oficial do Estado, em
1934. ( A segunda edição , patrocinada pela Fundação José Augusto, em 1975, tem
prefácio de Manoel Rodrigues de Melo que, em certo trecho, transcreve parte do
artigo de Cascudo, publicado no jornal “A República”, de Natal/Rn, em 04.09.34,
em resposta às acusações do político “decaído” José Augusto Bezerra de
Medeiros, o “Zé Promessa”, que questionava o fato de um chefe integralista
viajar com o interventor.
Vale a pena
transcrever o trecho supracitado para se ter uma idéia de como Cascudo, na
época, considerava os políticos conservadores e burgueses: “Chefe Provincial
Integralista, miliciano convicto, considero os partidos políticos meras
fórmulas desacreditadas e incapazes de renovação social. Não pertenço a nenhuma
agremiação partidária e mantenho relações íntimas com vários próceres que não
ignoram a retidão da minha atitude, assumida publicamente a 14 de julho de
1934.
Aos camisas
verdes de minha Província não dou explicações, porque eles me conhecem de
perto. Aos políticos é desnecessária qualquer justificação em contrário às suas
afirmativas, porque “política é isso mesmo”.
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