2 de setembro de 2018: a memória virou
cinza!
Por Luciano Capistrano - Professor e
Historiador*
A noite de domingo, dia 02 de setembro, ficará
marcada como o nosso “trágico setembro”. Perdemos, a sociedade brasileira
perdeu, confesso, não resisti, fui às lágrimas ao ver o Museu Nacional em
chamas. Imagem do terror, um terror a muito anunciado, pois, há anos, as
Instituições Científicas e de Ensino, sofrem o descaso, de gestões públicas
indiferentes a produção do conhecimento. As chamas, consumiram em poucas horas
anos e anos de pesquisas, de estudos, do acervo repleto de raridades, nos
diversos campos do conhecimento.
Em junho,
passado, o Museu Nacional, completou 200 anos de existência, em sua trajetória
seu acervo foi enriquecido, chegando a um número grandioso: 20 milhões de
itens, fazendo do seu acervo um dos mais importantes do mundo. Luzia, fóssil
mais antigo da américa, encontrado no Brasil, uma mulher de mais de 11.500
anos, não resistiu aos desmanches ou a não existência de políticas públicas
preservacionistas de nossa memória.
Nossas casas
de memórias, estão em risco. O fogo transformou em cinzas raridades,como por
exemplos, pergaminho datado do século XI com manuscritos em grego sobre os
quatro Evangelhos; a Bíblia de Mogúncia, de 1462, primeira obra impressa a
conter informações como data, lugar de impressão; a crônica de Nuremberg, de
1493, considerado o livro mais ilustrado do século XV, com mapas xilogravados
tidos como os mais antigos impressos em livro, estes são apenas uns dos milhões
de documentos perdidos. Criado por Dom João VI, ocupando um belíssimo prédio
histórico, o Palácio São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, residência real,
desde a chegada da família imperial portuguesa, em 1808, foi a partir de 1892
instalado o museu.
Na semana da
pátria, quando a sociedade brasileira celebra a Independência, somos tomados
pelo sentimento de perda, no que existe de mais simbólico, quando pensamos em
uma identidade nacional, nossa memória se esvaiu nas chamas da
irresponsabilidade de gestores malfeitores da coisa pública. Nossa cidade
Natal, como o Brasil, carece de uma política de valorização dos arquivos e
museus, como espaços guardiões de nossa memória. Nestes lugares, apesar da boa
vontade dos seus funcionários, falta infraestrutura e equipamentos adequados
para a conservação do acervo.
Um exemplo,
bem ilustrativo, da situação destes lugares de memória, são o arquivo Público
Estadual e o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Volto a
repetir, meu caro leitor, nossos arquivos contam com profissionais
comprometidos na preservação da documentação pertencentes aos seus acervos.
Acervos em situação de risco. Coleções de jornais, manuscritos, fotografias,
livros de óbitos, diversos tipos de documentos, enfim, encadernados, mas
impossibilitados de serem consultados, pois, o estado em que se encontram
correm riscos de abertos, se desmancharem, virarem pó.
Urgente faz
necessário, desenvolver políticas públicas referentes a preservação dos acervos
guardados nestes lugares de memória. Os arquivos públicos ou particulares e
museus, não podem serem tratados como, “lugar de mortos”, e sim “lugar de
vivos”. Espaços em que encontramos o pulsar das gerações passadas, fazedores do
amanhã. Aos órgãos de preservação da memória nacional, resta efetivar uma
política de salvaguardar os acervos deixados por nossos antepassados.
Uma política
que contemple dois vieses: a organização dos arquivos e museus e o
desenvolvimento de Educação Patrimonial. Deste modo, o indicativo
infraestrutura e educação caminhando de mãos dadas na guarda dos “tesouros da
história”. O Patrimônio Histórico/Cultural, necessita de proteção, e, não basta
apenas uma legislação faz necessário uma ação de Estado, uma Política Pública
de gestão deste Patrimônio. 02 de setembro de 2018: a memória virou cinza!
Imagem relacionada à publicação/divulgação
*Com publicação na página do Jornal ZonaSul.
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