Elevar a
autoestima das mulheres em tratamento oncológico é o objetivo do projeto Ateliê
Amor em Fios, desenvolvido por voluntárias da Associação de Apoio aos
Portadores de Câncer de Mossoró e Região (AAPCMR). Através da iniciativa, as
voluntárias, algumas das quais já enfrentaram os desafios impostos pela luta
contra o câncer, produzem perucas com fios naturais para serem emprestadas a
pacientes que, em decorrência da quimioterapia, perdem o cabelo.
Cada fio
acrescido às perucas por meio do trabalho envolve, como o próprio nome do
projeto já insinua, doses de amor. Todo esse processo começa com as doações de
cabelo, realizadas por diferentes pessoas que chegam à instituição com um único
objetivo, fazer o bem ao próximo.
Flávia
Araújo é voluntária. Além de ajudar no Ateliê, ela contribuiu com a
doação. “Eu já tinha vontade de doar meu
cabelo e surgiu a oportunidade depois que eu vim aqui ajudar. Foi melhor ainda.
Conheci o trabalho e deu mais vontade de doar”, conta. E não foi só o próprio
cabelo que Flávia levou para o projeto. “O meu, o da minha mãe e uma doação de
um salão”, acrescenta.
Após a doação, as mechas são
separadas conforme características como comprimento e cor. Para produção de
cada peruca são utilizadas de sete a dez doações e todo o processo artesanal é
desenvolvido por mulheres que, antes de moldes e telas, utilizam a solidariedade.
“Eu me sinto
muito feliz em fazer esse trabalho. Para mim, é tudo na vida”, diz a
ex-paciente, Neide Melo, que faz parte do projeto desde o início. “Tenho
orgulho em fazer esse trabalho”, ressalta a voluntária que considera que o
pagamento é a alegria proporcionada a outras mulheres.
“É muito
gratificante participar do projeto Ateliê Amor em Fios, porque eu passei pelo
problema e sei, senti na pele, todo o drama que é a pessoa ficar sem cabelos.
Sei a dificuldade também de comprar uma peruca, porque é muito cara e a demanda
de medicação, exames é urgência. Uma peruca vai ficando para depois”,
acrescenta Eliane Sobral, que também é ex-paciente oncológica e iniciou o
trabalho com Neide.
“Mas é uma
satisfação muito grande ver no rosto das pessoas a alegria de receber uma
peruca. A gente sente mesmo que elas ficam totalmente transformadas. É um
brilho, um sorriso no rosto que não tem dinheiro que pague”, complementa
Eliane.
Das mãos que
tecem amor à cabeça que se enche de gratidão
Cada peruca
leva cerca de 15 dias para ficar pronta. Quando o trabalho é finalizado, elas
são emprestadas a mulheres que perderam o cabelo e desejam fazer uso do
utensílio. Isso porque, cada paciente tem a sua própria forma de reagir ao
tratamento e nem todas desejam usar peruca. A individualidade é respeitada e
elas escolhem como expor a própria beleza.
Fabiana
Oliveira é uma das pacientes que será beneficiada com uma peruca, que será
entregue na próxima quinta-feira, 12. Ela tem 35 anos e desde 2013 luta contra
o câncer de mama. Para ela, o recebimento da peruca vai ajudar a melhorar a
autoestima. “A expectativa é ótima, de mudar o visual” conta Fabiana.
O empréstimo
se estende até o momento em que o cabelo da paciente volta a crescer e ela
decide que não quer mais utilizar a peruca. Então, o objeto é devolvido e
restaurado para que outra mulher possa utilizá-lo.
Solidariedade
que contagia
Assim como
Flávia Araújo, que doou seu cabelo, nem todas as mulheres que integram o
projeto são ex-pacientes. Mas inspiradas em seus exemplos, algumas delas foram
contagiadas pela ideia de fazer o bem.
É o caso de
Eilza Sobral, que decidiu se dedicar ao projeto após a luta da irmã, Eliane
Sobral, contra o câncer. “Quando um dia minha irmã disse que iria aprender a
fazer peruca, eu disse logo: ‘pelo amor de Deus, não invente isso. É muito
difícil’. Ela encarou. Foi para Natal e aprendeu a fazer as perucas com uma
amiga que tinha passado pela mesma situação que ela, câncer de mama. Ninguém
melhor que elas duas para entender a importância de uma peruca para uma pessoa
que passa por tratamentos oncológicos e perde o cabelo, pois quando a pessoa
chega nesse estágio ela se desnuda perante a sociedade e fica evidente para
todos que está fragilizada e passa por momentos difíceis”, relembra Eilza.
“Então o
processo de confecção de perucas foi iniciado, mas ainda existia uma grande
dificuldade para finalizar, fazer o topo como nós chamamos no Ateliê. Foi
quando percebi que precisava ajudar de alguma forma. Comecei fazendo trabalho
em casa e, desde o ano passado, passei a dedicar um dia na semana para ajudar a
fazer as perucas. Tentamos ajuda de algumas pessoas, até de outros estados,
para tentar melhorar o resultado final e depois de muita dedicação e boa
vontade, hoje fazemos parte do Ateliê Amor em Fios. Tenho muito orgulho em
fazer parte desse time e fico cada vez mais feliz com a sensação de que nosso
trabalho não pode parar a cada peruca que entregamos e vemos o quanto esse
acessório tem um significado tão importante na vida das pessoas”, finaliza
Eilza Lima Sobral.
Critérios
para doação de cabelo
Antes de
cortar o cabelo para doação, as(os) voluntárias(os) têm que estar atentas (os)
a alguns critérios. Em primeiro lugar, os cabelos têm que estar lavados e
secos. Após a secagem o(a) profissional que realizará o corte deve prender o
cabelo com elástico, de modo que o cumprimento da mecha a ser doada seja de, no
mínimo, 20 centímetros. O corte deve ser feito logo acima da liga.
Todos os
tipos de cabelo estão aptos à doação, desde que atendam os critérios citados.
Cabelos com química, inclusive, também podem ser doados.
As mechas
são entregues na sala do projeto, que funciona na Unidade Adulto da AAPCMR,
localizada na Rua Miguel Antônio da Silva Neto, 5, bairro Aeroporto (próximo ao
Hospital Tarcísio Maia).
Luciana Araújo
Assessoria de comunicação da AAPCMR
Fotos relacionadas à divulgação
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