*Comadre Amália!
Por
João Bosco de Araújo
Foi na missa
de sétimo dia, na capelinha do Abrigo de idosos. Ao fim da celebração, Toinha
aproximou-se e logo me impôs: “Faça uma homenagem pra mamãe na missa de trinta
dias”. São setenta; oitenta; noventa anos que estão no passado!
Percorrendo
na história, foi em 1928 que o primeiro avião sobrevoou e pousou em Caicó,
trazendo como passageiro o então governador do Estado, Juvenal Lamartine, para
inaugurar o primeiro campo de aviação da cidade. Outro fato marcante foi a
visita em janeiro de 1929, do poeta, romancista brasileiro Mário de Andrade, um
dos organizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, que esteve
em Caicó. Também em 1929, foi fundado e instalado o Banco Rural de Caicó. E na
idade dos trinta anos de Amália, foi inaugurado em 1958 o Arco do Triunfo para
lembrar a passagem da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima pela cidade,
em 1953.
Comadre
Amália me dava prazer de vê-la. Sempre a chamei de comadre Amália, mas comadre
Amália não era minha comadre. E era! Porque desde menino ouvira ela chamar meu
pai, de compadre Pedro. Minha mãe, de comadre Alzira. E minhas irmãs, de
comadre Socorro e comadre Salete. Não há como não ser comadre. Comadre na amizade,
no carinho, na cumplicidade.
Como era
gostoso ela comentar sobre meu pai e falava ‘compade Pedro foi o meu tutor’, ela me dizia que ainda menina-mocinha,
confiava nele para administrar os negócios dela no Umbuzeiro de Zé Antônio, que
era o seu tio José Antônio da Costa.
Esse
relacionamento, essa convivência de Amália vem desde muitos anos com meu pai
Pedro Saviano e surpreendentemente com minha mãe Alzira, posteriormente, na
época em que ela foi ser professora no Umbuzeiro, na casa de Joana Costa, tia
de Amália e mulher de Chico Francês.
Nem será preciso dizer que Alzira, Amália e Severina Melada, agora sim, entra Melada
na história, que foram fiéis amigas e cúmplices desde sempre. Severina Melada, sobrinha de Bertoleza, a mulher
do velho Manoel Antônio do Umbuzeiro, avô de Amália, que ela o chamava de “Pai-Véio”.
Melada e Amália viveram suas infâncias e
juventude entre as casas de Bertoleza e de Zé Antônio. Amália era mais nova 10
anos que Severina; uma de 1928, a outra de 1918.
Alzira
Tavares, formando o trio das “cajazeiras”, a mais nova, de 1929, chegou ainda
mocinha para alfabetizar as crianças do lugar e, acreditem, acabou se casando
com o coroa Pedro Salviano, mais velho 22 anos e que era noivo de Severina Melada.
Circunstâncias e cumplicidades, inusitadamente, aumentando cada vez mais a
amizade das três “marias”. Tanto Amália e Alzira se casaram em 1947. Severina,
pouco tempo depois, uma primeira experiência com Raulzinho, filho de Raul Belo,
e anos depois, já idosa, definitivamente com Manoel Chagas.
Comadre
Amália foi uma lutadora e venceu! Nem preciso destacar. A vida se constrói de
muitos detalhes, muitas emoções, de perdas e conquistas e que ficam as coisas
boas que podemos deixar para a eternidade.
Certa vez,
ouvindo episódios das duas amigas, descobri que mamãe preferia comprar os pães
no balaio da comadre que ela vendia no sítio e levava na camionete de papai, ao
retornar da feira do sábado, na rua.
Outro fato
pitoresco, agora das três ainda solteiras, tem a ver com os bilhetes que Amália
pedia para a professorinha escrever para um novo namorado, ocorrendo uma vez
que a mensagem dita foi maldosamente alterada em favor da escrevente que estava
interessada era de namorar aquele rapaz do sítio Açudinho.
E era assim
que nos encontros e reencontros divertíamos sorrindo. O último foi na Festa de
Sant’Ana, do ano passado, na Seresta ao lado da Catedral.
É preciso
que aceitemos quando uma etapa da vida se acaba. Agora nos restam as lembranças
e as emoções jamais poderão ser negadas!
Como este
Arco do Triunfo, que embeleza a nossa cidade e lembra o triunfo espiritual da
fé na Mãe de Jesus, roguemos para que Sant’Ana interceda e Se lembre da alma de
nossa querida Amália Costa, e que descanse em paz.
Viva comadre
Amália!
- Lembrando
que no próximo dia 22 ela aniversaria 90 anos de idade.
*Texto a ser apresentado na missa de
trigésimo dia de sua morte, neste domingo (4), a partir das 6h30, na Catedral de Sant’Ana,
em Caicó.
Foto arquivo/Assessorn.com
Amália tem um espírito livre e sua mente muito além de seu tempo. Acompanhou a história desde o coronelismo, era do rádio,do pao de arara, até os dias atuais da política sem causas, TV digital, do avião tempos atuais. Inclusive, viajando muito em voos ao sul do país. Sem medo, destemida,ver a vida sem complicações e a morte nunca foi vista como algo de outro mundo, sendo para ela tão natural como o viver. Ainda em prosa disse: "existem 3 coisas boas nesse mundo... namorar, dançar e viajar!" - Sorriu. Simples assim. (Sidney Caicó)
ResponderExcluirMuito oportuno o seu comentário, que o torno visível para o compartilhamento público, em: Autor de O tesouro de Sant’Ana: "Amália viveu uma mente além de seu tempo" > este o link: http://www.assessorn.com/2018/02/autor-de-o-tesouro-de-santana-amalia.html
ResponderExcluir