Por
Elizabete Canuto
Os
transtornos mentais muitas vezes despertam na sociedade sentimentos como medo,
repulsa ou desconforto, resultante da desinformação e preconceito que envolvem
o tema. A humanização do olhar e do cuidado junto à pessoa com esse diagnóstico
é essencial para seu tratamento e ressocialização. É nesse sentido que o
Hospital Colônia Dr. João Machado (HJM), em Natal, que em janeiro deste ano
completou 60 anos de existência, vem investindo cada vez mais na qualificação
de suas práticas, para uma melhor atenção a seus pacientes.
A unidade
dispõe de 131 leitos de internamento e 35 de observação, além de 40 leitos de
retaguarda para o Hospital Walfredo Gurgel. Conta com uma equipe de 430
servidores, além de 130 terceirizados, entre médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem,
terapeutas ocupacionais, psicólogos e nutricionistas. Muitos desses
profissionais trabalham no HJM há muitos anos, como é o caso do diretor
administrativo e financeiro, Edenilson Pereira, que passou a integrar o quadro
de servidores em 1994, atuando no setor de limpeza, e devido à sua dedicação e
empenho exerce a atual função.
Edenilson
destaca os avanços obtidos no hospital ao longo dos anos: “quando ingressei no
João Machado havia 250 pacientes e as condições eram bem precárias. Inclusive
existiam muitas grades em todos os espaços, como se fosse um presídio. Hoje, os
pacientes encontram uma maior qualidade de vida, na medida em que circulam
livremente por todas as áreas do hospital, contam com diversas atividades como
jogos de futebol e dança numa quadra, têm a oportunidade de se distrair com
jogos diversos como sinuca e outros de tabuleiro num salão destinado a isso e
participam de sessões de filmes com pipoca. Além disso, os familiares têm fácil
acesso para visitar os pacientes, por quanto tempo desejarem, a fim de
estimular o convívio”. Os pacientes contam também com um ateliê, onde ficam
livres para se expressar e produzir pinturas, desenhos, fuxicos, crochê, bem
como têm acesso a atividades culinárias.
Outro
destaque são os passeios semanais pelo Parque das Dunas, onde os pacientes
passeiam sem fardas, que induzem a uma identificação, em mais uma ação de
incentivo à ressocialização. Também com esse objetivo, todas as datas festivas
são valorizadas no João Machado, com direito a muita comemoração reunindo
pacientes, familiares e servidores. Como exemplos, são realizados o São João
“Cai e Pira” e o bloco carnavalesco “Louca Folia”, que circula nas proximidades
do hospital. Também são realizadas reuniões com os familiares, de modo a não só
cuidar do cuidador, mas também de incentivar sua percepção como co-responsável
no tratamento do paciente.
Mais um
ponto ressaltado pelo diretor administrativo foi a realização regular de
reuniões com os familiares, de modo a não só cuidar do cuidador, mas também
incentivar sua percepção como corresponsável no tratamento do paciente. Várias
pesquisas comprovam o papel fundamental da família na recuperação e
ressocialização da pessoa com transtorno mental.
Também em
busca da melhoria da qualidade de vida dos pacientes do HJM, foi feita a
transferência do pronto-socorro para o local onde anteriormente funcionou a
clínica médica do Walfredo Gurgel. O espaço estava inutilizado e foi totalmente
reformado para dar mais conforto aos pacientes.
Além das
ações conduzidas pela direção hospitalar, os pacientes contam com a
contribuição de trabalhos voluntários, como os “Garimpeiros da Luz”, grupo
espírita que faz visitas semanais, organizando momentos lúdicos com música e
promovendo lanches.
DESINSTITUCIONALIZAÇÃO
Essas
mudanças vivenciadas no Hospital João Machado são reflexo do processo de
desinstitucionalização, pelo qual a unidade vem passando, conforme as
diretrizes da reforma psiquiátrica, formalizada pela Lei Federal 10.216/01. Tal
processo está relacionado com a atenção humanizada ao paciente e com a busca
por sua ressocialização, reconduzindo-o ao convívio com seus familiares, amigos
e com a sociedade em geral.
Para tanto,
é necessário um conjunto de medidas integradas de atendimento, tratamento e
amparo aos pacientes, como explica a diretora geral do HJM, Maria Adilene de
Sousa. Nesse contexto, destacam-se o serviço de acolhimento na urgência e a
escuta qualificada junto ao paciente por parte de uma equipe multiprofissional,
também responsável pela alta assistida. A escuta qualificada é um diferencial
do tratamento humanizado, significa ouvir o que o outro diz, pensa e conhece,
para, a partir disso, construir novos conhecimentos e práticas.
“Após a
escuta qualificada, nossa equipe conseguiu descobrir os locais de residência de
vários pacientes e reconduzi-los a seus lares, com o tratamento adequado e as
devidas orientações junto a seus familiares. Já levamos pacientes de volta a
Paraíba, Maranhão e Rio de Janeiro, por exemplo”, relata Edenilson Pereira.
Quando os pacientes em condições de alta médica não possuem um local para ir,
são encaminhados para as residências terapêuticas, parte integrante da Política
de Saúde Mental do Ministério da Saúde e instrumentos de reinserção social dos
pacientes. No Rio Grande do Norte, existem três residências dessa natureza,
todas em Natal. Em 2016, 12 pacientes com longo período de internação no HJM
receberam alta e foram encaminhados a uma residência terapêutica de Natal.
Fotos relacionadas à divulgação/
Ascom/Sesap
0 comentários:
Postar um comentário