Neste dia dos pais, faço um resgate do
centenário de meu querido e saudoso pai Pedro Salviano de Araújo que ocorreu em
2007, embora ele já não estivesse conosco naquela data. Nascido no dia de São
Pedro, 29 de junho de 1907, ele faleceu perto de completar 74 anos de idade, em
8 de maio de 1981.
O texto é da jornalista Marline Negreiros, que
carinhosamente prestigiou-me quando trabalhávamos no então Diário de Natal:
Pedro Salviano, sertanejo puro!
Por Marline
Negreiros*
Foi no
sertão de Umbuzeiro, no Seridó, lá na zona rural de Caicó, que num dia de São
Pedro há cem anos ele nasceu. Em homenagem ao santo ganhou o nome de Pedro
Salviano de Araújo. Quem já passou por aquelas bandas certamente lembra de Seu
Salviano do Umbuzeiro, o contador de causos, Seu Pedro da Camioneta.
Pedro casou-se
já coroa aos 40 anos com Alzira Tavares uma jovem de 18 anos, professora da
cidade, que foi ensinar na comunidade rural. Eles tiveram sete filhos que foram
estudar em Caicó ao completarem idade escolar.
Seus filhos,
amigos e quem teve a oportunidade de conhecê-lo contam que, indescritivelmente,
Pedro Salviano nasceu sertanejo, viveu sertanejo e morreu sertanejo. Homem do
sertão, misturava pureza e força no modo de pensar, agir, no jeito de encarar a
vida. Falava pausadamente, pontuando as palavras e com sua pose particular
envolvia as pessoas. Sempre tinha alguém bem disposto a escutar suas conversas,
a ouvir seus conselhos.
Conversar
com seu Pedro proporcionava momentos de serenidade e diversão. Era difícil a
casa de Salviano não ter costumeiramente uma pessoa ansiosa para gastar o tempo
com um dedinho de prosa com o sertanejo. Os filhos são hoje testemunhos de
muitos amigos que confidenciaram - depois ouvir Seu Salviano tinham a sensação
de está de bem com a vida. E ele era assim com todo mundo, independente de
credo ou raça, cor ou sexo.
Pedro
Salviano sempre tinha um exemplo a contar. Histórias das redondezas, como a do
fogo cruzado da Pedreira, no embate entre a polícia e o bando de cangaceiros de
Antônio Silvino, fato ocorrido na Fazenda Pedreira no limiar do século XX (em
1901), presenciado por seus pais que moravam nas vizinhanças. O levante
comunista em 1935, na capital, com Dinarte Mariz e aliados juntando homens do
campo para lutar em Natal contra a intentona, que não foi preciso chegar à capital,
voltando da Serra do Doutor.
Ou nas
viagens que fez por duas décadas, 1930 e 40, cheias de cangaceiros e revoluções
a percorrer o RN, Paraíba e Pernambuco montado em lombo de burro, num roteiro
que saía do Umbuzeiro, em Caicó, até o Sul de Pernambuco, Zona da Mata, nas
usinas de cana-de-açúcar. Eram comboios de animais burros-mulos e cavalos, que
seriam utilizados para o trabalho de transporte de canas nas usinas.
Assim, a
contar histórias, criar os filhos, a cuidar do seu sítio, a preservar suas origens.
Seu Pedro ficou conhecido como um sertanejo puro, que acordava cedo e com a sua
camioneta saía da Zona Rural para resolver alguma necessidade na cidade.
Camioneta que virou marca registrada de seu Salviano, onde ele ensinou seus
sete filhos a dirigir. Uma Chevrolet de fabricação norte-americana, ano 1951,
que ganhou o nome carinhoso de Sinforosa e durou nas mãos da família por cerca
de uma década e meia.
A camioneta
foi apelidada com esse nome por Sueli, filha mais nova de Pedro Salviano. Os
herdeiros de Seu Salviano contam que o veículo era o transporte dos
trabalhadores da fazenda, dos familiares, dos amigos e vizinhos que
semanalmente se deslocavam à feira Caicó.
E muitos
momentos da família foram vividos e contados com carinho pelo pai. Hoje, seus
filhos contam com saudade os causos passados pelo pai Salviano e preservam suas
raízes.
*Publicado na
coluna Retalhos do Seridó, no Diário de Natal/O Poti, edição de 08/07/2007.
- Leia também: Viva São Pedro, viva Seu Pedro no seu centenário!(Espere carregar até chegar na página). Publicado por
este blogueiro em minha página anterior.
- Confira ainda: O que não escrevi naquele domingo 13 (Há exatos 39 anos).
- Confira ainda: O que não escrevi naquele domingo 13 (Há exatos 39 anos).
Fotos em p&b/
reprodução arquivo familiar
0 comentários:
Postar um comentário